O Cristianismo é, para mim, a
explicação mais completa e satisfatória para as cinco perguntas mais
importantes da vida: de onde viemos?, quem somos?, por que estamos aqui?, como
devemos viver?, para onde vamos?
31/07/14
29/07/14
O ENSINO DAS HUMANIDADES NAS ESCOLAS MÉDICAS
Segundo Edmund Pellegrino, as
competências que devem constar dos programas de estudos humanísticos, na
formação médica pré-graduada, incluem a capacidade de reflexão crítica, a
capacidade de ouvir e ler de forma inteligente, a capacidade de tomar decisões
éticas, a capacidade de apreciar a arte, bem como a capacidade de compreender a
História. Defende que o ensino das humanidades liberta a mente e a imaginação,
estimula a criatividade e proporciona uma melhor apreciação da complexidade da
condição humana. Promove ainda o desenvolvimento das qualidades associadas a
uma educação liberal, designadamente “a capacidade de demanda da verdade, de se
compreenderem os valores dos outros e deste modo avaliar os próprios, de se
conceber uma resposta para os problemas da existência, e de comunicar de forma
clara e persuasiva”.
As disciplinas que poderão
integrar o curriculum das humanidades, pela sua capacidade de enriquecimento do
espírito humano, são a filosofia, a história da medicina, a literatura, a
antropologia, a psicologia, a sociologia, a arte, a teologia, o direito e,
naturalmente, a bioética.
Os objetivos desta formação,
aplicada à medicina, incluem a discussão sobre atitudes e virtudes do médico na
sua atividade profissional; a reflexão crítica acerca do papel do médico na
relação com o paciente e na sociedade contemporânea; a comunicação com o
paciente, a família e a sociedade; a apreciação do contexto sociocultural da
doença; a temática da humanização dos cuidados de saúde; bem como a exposição a
obras clássicas da literatura que promovam a reflexão sobre o exercício da
medicina, a relação médico-paciente, o sofrimento e a morte. Pellegrino considera
que a literatura tem provado ser uma forma eficaz de ensinar o cuidado e
compaixão pelos pacientes, pelos que sofrem e pelos que estão a morrer.
Nos Estados Unidos, os programas
mais bem sucedidos incluem uma disciplina de “Introdução às Humanidades” no
primeiro ano do curso médico, disciplinas específicas nos anos do ciclo
clínico, algumas delas opcionais, de acordo com os interesses dos alunos, assim
como a realização de seminários e aulas teóricas acompanhadas de discussão em
pequenos grupos. Para além de um ensino mais formal, tendo em conta os
objetivos enunciados, pretende-se que os estudantes tenham a oportunidade de
refletir, de modo crítico e construtivo, acerca da abordagem de casos clínicos
e dilemas éticos específicos encontrados na prática clínica.
Pellegrino adverte, porém, que os
casos clínicos devem ser bem selecionados, as questões que levantam devem ser
claramente definidas, e devem ser acompanhados de leituras complementares, para
melhor compreensão do problema. Este autor pretende que a formação humanística
tenha uma aplicação prática na atividade clínica quotidiana e que o ponto de
partida para a reflexão seja sempre “um ser humano real enfrentando um problema
real envolvendo valores, expectativas e preferências”. Lamenta que, por vezes,
a inclusão de disciplinas da área das humanidades nos curricula dos estudantes
de medicina represente mais uma sobrecarga de conhecimentos e informações que
têm de dominar em vez de facultarem o espaço e oportunidade de reflexão
subjacente ao espírito da educação liberal. Porém, um dos sinais promissores da
utilidade e relevância do ensino das humanidades nos cursos de medicina é o
número crescente de estudantes dos EUA que, após a licenciatura, realizam
cursos de formação pós-graduada em bioética e áreas afins.
O filósofo espanhol contemporâneo
Fernando Savater defende que, mais importante que a escolha das disciplinas
humanísticas que se incluam no plano de estudos, é o modo como são ensinadas.
Considera lamentável que por vezes o ensino de línguas ou da própria filosofia
seja transmitido de uma forma monótona, desinteressante e normativa, cerceando
o prazer da descoberta, o estímulo intelectual e o debate de ideias. Pior
ainda, pode levar a uma aversão dos estudantes por estas disciplinas, que é
precisamente o oposto do que se pretende com a introdução a estas áreas do
saber. Salienta que “o professor que quer ensinar uma disciplina tem que
começar por suscitar [nos alunos] o desejo de aprendê-la”.
Infelizmente em Portugal, à
semelhança de muitos outros países, os curricula da formação pré-graduada da
maior parte das escolas médicas, seguindo um modelo científico-positivista,
valorizam principalmente a aquisição de conhecimentos e competências técnicas,
em detrimento de uma formação clássica sólida em estudos humanísticos. Acresce
o facto de o ensino secundário separar relativamente cedo, no 10.º ano de
escolaridade, as disciplinas da área de ciências das humanidades, geralmente
consideradas o parente pobre do ensino secundário, e para o cálculo da média
final de acesso ao curso de medicina as classificações obtidas nos exames
nacionais a três disciplinas, todas elas da área de ciências, terem um papel
determinante.
Segundo Sir David Weatherall, o
sistema de ensino britânico padece do mesmo mal: “Os jovens, se desejam ser
médicos, têm de se distinguir em ciências no ensino secundário a partir dos
quinze anos, depois passam cinco ou seis anos tentando dominar os programas
curriculares sobrecarregados das escolas médicas, após o que são atirados para
a linha da frente da agitada vivência hospitalar moderna. Não admira que nunca
tenham tempo para aprender o suficiente sobre o mundo para serem capazes de
refletirem acerca dos problemas multifacetados das pessoas doentes”.
Tem-se assistido também, nos
últimos anos, a uma valorização crescente da componente técnica e científica de
outras disciplinas da área da saúde, nomeadamente a enfermagem. Por outro lado,
na opinião de Pellegrino, as ciências sociais e humanas como a psicologia e a
sociologia, apesar de importantes, não substituem outras áreas das humanidades
que deveriam integrar os programas curriculares do ensino médico. Na sua
procura de objetividade, têm-se tornado estudos especializados em que o recurso
à estatística e metodologias científicas se sobrepõem à reflexão sobre as
dimensões psíquicas e sociais da pessoa humana.
Há todavia sinais de esperança.
Em Portugal, no curso de medicina da Escola de Ciências da Saúde da
Universidade do Minho existe uma área curricular, em todos os anos do curso,
designada por “Domínios Verticais”, que inclui a antropologia, a filosofia, a
história da medicina, a literatura e a arte, bem como os designados “Casos do
Mês” que consistem na seleção, pelos alunos, de situações da atualidade local,
nacional ou internacional que mereçam reflexão; “Uma Pessoa Confessa-se”, que
consiste no diálogo vivo e presencial com personalidades públicas de
reconhecido mérito, e “Manta de Retalhos”, que são apresentações pelos alunos
de obras literárias e artísticas por eles escolhidas ou da sua autoria.
Parece-nos que esta abordagem
traduz uma melhor integração e articulação das humanidades com a vivência
clínica durante a formação médica pré-graduada. Trata-se de uma filosofia
distinta de outros modelos em que o ensino das humanidades, quando existe, é pontual,
muitas vezes opcional e desarticulado dos restantes conteúdos curriculares,
como uma espécie de contrapeso para compensar o paradigma científico dominante.
Para Pellegrino, a sociedade
atual necessita de médicos que, “além de serem tecnicamente competentes, sejam
compassivos e instruídos, que possam entender como o seu trabalho se relaciona
com a cultura de que fazem parte, e que possam lidar com empatia com outros
seres humanos em sofrimento”, mas reconhece que “todos estes atributos
raramente se encontram numa só pessoa. Um modelo de formação, mesmo baseado em
estudos humanísticos, não pode garantir todos”.
Em nossa opinião, devemos ter em
conta as recomendações de Edmund Pellegrino e outros autores sobre a
necessidade de se valorizar o ensino das humanidades nos cursos de medicina,
pois como refere também João Lobo Antunes, “percebi há muito que a medicina tem
um travo diferente quando é praticada por médicos cultos, não só porque apreendem
mais facilmente a complexidade do que é estar doente […] mas também porque
desenvolvem aptidões como empatia, curiosidade, sentido de humor, imaginação,
disponibilidade, que lhes permitem saborear melhor a profissão que abraçaram”.
Jorge Cruz. Bioética e
Humanidades Médicas: Uma abordagem a partir de Edmund Pellegrino. Mirabilia Medicinae 2:38-48, 2014.
28/07/14
BIOÉTICA E HUMANIDADES MÉDICAS
Nos séculos XVII e XVIII, verificou-se uma divisão radical
entre as ciências e as humanidades, por influência do Iluminismo. Esta cisão
teve profundas repercussões em vários domínios, sendo responsável pela
implementação da racionalidade científica como paradigma dominante. A medicina
passou a ser encarada como uma ciência pelo mundo académico, obtendo o mesmo
estatuto que a física, a química ou a biologia, o que contribuiu para os
enormes êxitos alcançados no conhecimento da etiopatogenia das doenças e seu
tratamento, bem como para o desenvolvimento da farmacologia, da genética e de
muitas outras áreas de especialização.
Contudo, passou a valorizar-se um modelo biomédico ou
biomecânico no ensino e prática da medicina, em detrimento de uma conceção
holística, antropológica ou biopsicossocial da pessoa doente, que só nas
últimas décadas tem vindo a ser novamente apreciada. O médico e bioeticista
Walter Osswald partilha desta opinião: “A partir do iluminismo e da aceitação
da ciência como esperança de salvação, as coisas modificaram-se: a medicina
rejeitou a sua componente de arte para se declarar ciência, dura e pura,
exibindo desvanecidamente as suas descobertas e progressos e prometendo a
resolução, para breve, das imensas áreas de desconhecimento que maculam o mapa
das suas conquistas”.
O modelo biomédico, que tem sido o mais divulgado e
dominante na sociedade contemporânea, está focalizado na doença, enquanto que o
antropológico, como o próprio nome indica, se encontra centrado na pessoa
doente. Segundo o grande bioeticista Edmund Pellegrino, tendo em conta as
quatro dimensões geralmente envolvidas numa relação médico-paciente (biológica,
psicológica, social e espiritual), qualquer modelo que apenas tenha em
consideração uma delas será sempre insuficiente e redutor. Nas suas palavras,
“a limitação empírica mais grave do modelo biomédico é ser unidimensional,
negar a complexidade da experiência de estar doente e, portanto, a complexidade
que envolve o tratamento e cuidado dos pacientes”.
No encontro clínico as circunstâncias não são reprodutíveis,
nem sequer para o mesmo paciente, noutra ocasião. Ao contrário da ciência, que
através do método científico procura conhecimentos baseados na observação
sistemática e controlada, que se forem reprodutíveis se poderão generalizar, a
medicina é, na sua essência, a ciência do caso particular. Por esse motivo,
terá de ser necessariamente humanista, até porque, muitas vezes, o elemento mais
importante na relação assistencial não tem caráter científico. Caso contrário,
não se estará a exercer verdadeira medicina, mas uma amálgama de técnicas,
ciência e psicologia.
Edmund Pellegrino, na esteira do pensador romano do século
II d.C. Aulus Gellius, identifica dois conceitos distintos de humanismo na
medicina. Por um lado, a noção derivada da palavra latina humanitas ou do vocábulo grego paideia,
que significava o ensino e a formação em humanidades e que podemos designar de
componente educacional; por outro lado, o sentido de compaixão ou filantropia
nas relações humanas e em particular no encontro médico-paciente, que podemos
denominar de componente relacional. Na sua opinião, as duas vertentes são
necessárias na prática clínica.
Na conceção de Pellegrino, o humanismo caracteriza-se pela
preocupação genuína pela centralidade da pessoa humana em cada aspeto da
atividade profissional, o que se traduz no respeito pela sua liberdade,
dignidade e sistema de valores, numa demonstração de cuidado e interesse pelo
seu bem-estar. O seu conceito de humanismo não se restringe assim a um ideal
educacional ou literário, nem está dependente de uma formação clássica nas
humanidades. Segundo Patrão Neves, a própria bioética é um movimento de
expressão humanista porque pretende contribuir “para a preservação e promoção
do humano”.
De uma maneira geral, a referência ao humanismo ou
humanização, no contexto da saúde, está relacionada com a necessidade sentida
de que os médicos e outros profissionais tenham um interesse sincero pelos
pacientes como pessoas. Sir William Osler (1849-1919), um dos fundadores do
Hospital Johns Hopkins, em Baltimore, pretendendo destacar a importância deste
aspeto na relação clínica, referia que “é mais importante conhecer o doente que
tem a doença do que conhecer a doença que o doente tem”.
A primeira obra de Edmund Pellegrino Humanism and the Physician, editada em 1979, procura precisamente
chamar a atenção para a relevância e utilidade das humanidades para o exercício
da medicina. Em sua opinião, é fundamental o recurso às humanidades para se
compreenderem melhor as questões éticas e os valores envolvidos em muitas
decisões clínicas, para poder fazer uma autoanálise crítica da prática da
profissão, e porque são elas que conferem as atitudes e competências que
distinguem um médico culto de um simples executor de um conjunto de técnicas e
procedimentos. Considera que um relacionamento verdadeiramente humanista entre
o médico e o paciente permite que cada um expresse o mais possível a sua
humanidade. Defende que um médico culto está mais bem habilitado do que outro
que apenas tenha desenvolvido competências técnicas e científicas, para atender
às várias dimensões do ato médico, que quase sempre envolvem fatores sociais e
mentais para além da componente física ou biológica.
Pellegrino salienta que um médico culto se distingue dos
seus pares pela sua capacidade de pensar de forma crítica e inteligente fora do
âmbito estrito da medicina e sugere que uma das formas mais eficazes dos
médicos evitarem a rotina, o tédio e o desânimo na sua atividade profissional é
através do estudo sistemático de pelo menos uma das humanidades ao longo da vida.
Concorda com a proposta do filósofo estadunidense Albert William Levi, que
dividiu as humanidades em três áreas principais, designadamente a comunicação
(linguagem e literatura), a continuidade (história) e a crítica ou reflexão
(filosofia).
As humanidades ajudam a refletir criticamente sobre as
decisões clínicas, que envolvem quase sempre aspetos éticos, e o impacto que
podem ter na vida dos doentes. Facultam ao médico instrumentos que lhe permitem
fazer uma autoanálise séria e honesta sobre as decisões tomadas, tendo em vista
o aperfeiçoamento da sua prática profissional, evitando o conformismo e a
repetição de erros evitáveis.
A medicina tem claramente um componente científico, na
medida em que utiliza metodologia das ciências na prossecução dos seus fins,
mas tem igualmente um componente humanístico, que valoriza todas as dimensões
da vida humana. Conforme refere Sgreccia, os valores éticos integram a cultura
humanística, os factos biológicos associam-se à cultura científica. Para
Pellegrino, a medicina é a mais humanista das ciências e a mais científica das
humanidades. Nas suas palavras, “a medicina é uma ciência humanista, uma vez
que tem de examinar o ser humano simultaneamente como pessoa e objeto de
estudo.
Por um lado, para compreender o ser humano como objeto de
estudo utiliza uma linguagem objetiva, factual e científica e o método das
ciências, "expurgando" necessariamente todo o mito; por outro lado,
para compreender o ser humano como pessoa, deve ter em conta todos os aspetos
subjetivos, imaginários, intencionais, autoconscientes e mitológicos”. Ao longo
dos séculos, muitos foram os clínicos que se dedicaram às artes ou sentiram a
necessidade de complementar a sua formação científica pelo estudo das
humanidades.
Van Rensselaer Potter sugeriu que a bioética poderia ser a
ponte epistemológica entre as duas culturas mencionadas pelo físico e escritor
inglês C. P. Snow (1905-1980), devido à sua natureza transdisciplinar, que
abrange as ciências e as humanidades, bem como à sua perspectiva ecológica ou
global, não se restringindo ao âmbito das ciências da saúde. Edmund Pellegrino
considera ser a medicina a disciplina que reúne as melhores condições para ser
o elo de ligação entre a cultura científica e a humanística. Também para o
neurocirurgião João Lobo Antunes, “a tese de Snow continua a suscitar
controvérsia e alguma irritação, mas agrada-me por entender eu que a medicina,
filha de mãe jovem, a biologia, e pai idoso, a filosofia […] é, por excelência,
a cultura que harmoniza as outras duas, tão antipaticamente dissonantes”.
Esta perspectiva parece-nos mais realista, pois, ao
contrário da medicina, a bioética não surgiu no contexto das ciências humanas,
mas das ciências médicas. Além disso, não se pode falar com propriedade de um
único modelo de bioética, mas de vários, desde uma perspectiva mais restrita de
uma ética dos cuidados de saúde a uma mais ampla de bioética ambiental, e tendo
em conta os vários desenvolvimentos desta nova área do saber humano nos
diferentes contextos geográficos e culturais do globo.
Jorge Cruz. Bioética e
Humanidades Médicas: Uma abordagem a partir de Edmund Pellegrino. Mirabilia Medicinae 2:38-48, 2014.
23/07/14
MATERNIDADE DE SUBSTITUIÇÃO: PROBLEMAS ÉTICOS
O debate em torno da maternidade
de substituição, em que embriões resultantes de fecundação in vitro são implantados no útero de uma mulher externa ao casal,
tem suscitado grande controvérsia.
Na opinião do Prof. Pinto Machado
e outros eticistas, “a maternidade de substituição não é eticamente
admissível”, “porque instrumentaliza a gravidez, que passa a ter sentido
comercial, e porque coarta radicalmente os laços íntimos de comunicação entre a
gestante e o feto”.
J.
Pinto Machado. Problemas éticos relativos à reprodução / procriação medicamente
assistida. In Archer L, Biscaia J, Osswald, Renaud M (Coord). Novos Desafios à
Bioética. Porto Editora, 2001, pp. 98-109.
21/07/14
PROTEGER OS OLHOS DA LUZ SOLAR
Com a chegada do verão e o
aumento dos índices de raios ultravioleta (UV), a Sociedade Portuguesa de
Oftalmologia deixa o alerta: é fundamental proteger devidamente os olhos da luz
solar, que está na origem de patologias graves como a degenerescência macular
da idade e o melanoma da coroideia.
“O sol atua diretamente sobre
diferentes elementos do olho: atinge a córnea e a mácula por ação dos raios UV
e o cristalino e retina por ação dos raios infravermelhos. A luz solar também atua
por efeito acumulativo dos raios UV podendo levar a lesões da retina e área
macular” explica o oftalmologista Dr. Fernando Bivar.
Este especialista afirma também que
“de acordo com alguns autores, a ação continuada do sol sobre o olho ao longo
dos anos está na origem da Degenerescência Macular da Idade que é, segundo a
Organização Mundial de Saúde, a principal causa de cegueira a partir dos 50
anos de idade, nos países desenvolvidos. A exposição prolongada e desprotegida
à luz solar pode também originar melanoma nas pálpebras e no interior do olho –
melanoma da coroideia. Este é o tumor intraocular primário mais frequente nos
adultos. Tal como os melanomas da pele, surge com maior frequência nas pessoas
de pele e olhos claros, com tendência para as queimaduras solares. Muitas vezes
cresce sem dar sintomas e tem risco de metastização para o fígado, pulmão e
pele”.
Relativamente à proteção, o Dr. Fernando
Bivar refere: “é essencial que quem está mais sujeito à exposição solar proteja
os olhos com óculos com filtros para os raios UV. A lente pode não ser
necessariamente escura, mas deve ter este tipo de filtro. Isto significa que
quem usa óculos de lentes escuras mas sem filtros para raios UV está tão
exposto aos efeitos nocivos da luz solar como quem não os usa”.
Fonte: Sociedade Portuguesa de
Oftalmologia
17/07/14
PREVENÇÃO DO CANCRO
“Os diversos estudos que avaliaram os benefícios que se
podem obter através de medidas de prevenção primária – e que se traduzem numa
redução da incidência e/ou mortalidade por cancro – apontam quase todos para os
ganhos quantitativos a seguir descritos.
Nas sociedades ocidentais, seria possível reduzir a
ocorrência de cancro e a mortalidade a ele associada em cerca de 80-90 %
através da adoção das seguintes medidas de prevenção: a) a eliminação do tabaco
levaria a uma redução daqueles valores na ordem dos 30 %; b) a modificação do
estilo de vida, com alteração substancial da dieta (maior consumo de vegetais e
frutas, menor consumo de açúcar, carne vermelha e gorduras saturadas), combate
ativo à obesidade e aumento da prática de exercício físico regular, conduziria
a uma redução de 30-40 %; c) a eliminação do álcool, por seu turno,
traduzir-se-ia numa redução de cerca de 10 %.
Estes estudos referem também, embora sem uma
quantificação tão precisa, que a vacinação contra o HBV e o HPV, bem como a
redução da exposição a carcinogéneos ambientais (p. ex. radiação solar e radiações
ionizantes) e a carcinogéneos ocupacionais, permitiria alcançar uma redução da
mortalidade por cancro da ordem dos 10 %.
Os 10-20 % restantes correspondem à susceptibilidade genética
(cancros hereditários e cancros com elevada agregação familiar) e à influência
de fatores individuais, em parte também geneticamente condicionados”.
Pequeno excerto do recente livro O Cancro, do Prof. Manuel Sobrinho Simões (pp. 89-90). Pode
encomendar aqui.
14/07/14
EFICÁCIA DOS PROTETORES SOLARES
Os protetores solares são
importantes na prevenção das queimaduras solares e do cancro da pele, apesar de
nem todos serem eficazes. Segundo o Environmental
Working Group, dos EUA, a utilização de protetores em forma de spray, com índice de proteção acima de
50 ou com vitamina A não são aconselháveis.
Mesmo com o uso de um protetor solar adequado, a única proteção realmente eficaz é limitar o período de exposição ao sol.
Mesmo com o uso de um protetor solar adequado, a única proteção realmente eficaz é limitar o período de exposição ao sol.
11/07/14
O ENFARTE NÃO PODE ESPERAR
CONHEÇA OS SINTOMAS
Os sintomas mais comuns de um
enfarte do miocárdio são dor no peito, por vezes com irradiação para o braço
esquerdo, costas e pescoço, podendo ser acompanhada de suores, náuseas, vómitos,
falta de ar e ansiedade. Por vezes, sobretudo nas mulheres, os sintomas podem
manifestar-se por falta de ar, fraqueza, sensação de indigestão e fadiga. Os
sintomas normalmente duram mais de 20 minutos mas também podem ser
intermitentes
NÃO PERCA TEMPO
Conhecer e compreender os sinais
de um enfarte permite agir rapidamente e procurar ajuda médica. A rapidez é
fundamental para o sucesso do tratamento. A cada minuto que passa o risco de
morte aumenta.
Em caso de enfarte, não deve
tentar chegar a um hospital pelos seus próprios meios. Em Portugal e na Europa,
ligue o número 112.
09/07/14
SEJA ATIVO NA PREVENÇÃO DIÁRIA DO CANCRO
Faça uma alimentação saudável. Um
terço das mortes por cancro é atribuído a hábitos alimentares errados e à
inatividade física. 75 a 80% da maior parte dos cancros são causados por
fatores associados ao estilo de vida. 30% dos cancros estão direta ou
indiretamente relacionados com a nutrição. 40% dos cancros podem ser evitados
com mudanças no estilo de vida.
Recomendações para a prevenção
Limite o consumo de gorduras
saturadas e de alimentos ricos em açúcares e sal. Reduza o consumo de carnes
vermelhas - prefira as carnes brancas (aves, coelho) e o peixe. Os peixes
gordos (sardinha, cavala, salmão) são fontes de ómega-3, que protegem contra o
cancro.
Não coma alimentos
pré-confecionados pois contêm muito sal. Utilize ervas aromáticas e especiarias
para temperar os seus pratos.
Não reutilize as gorduras - use pouca gordura na confeção de alimentos e prefira o azeite.
Aumente os produtos hortícolas e
fruta nas suas refeições. Inclua leguminosas na sua alimentação - os legumes de
cor vermelha e roxa (tomate, beringela, beterraba) são ricos em licopeno (potente
antioxidante). Contêm também fibras, vitaminas e minerais.
Consuma cereais integrais, pelo
seu alto teor em fibra.
Tenha especial atenção na
preparação dos alimentos - não consuma alimentos total ou parcialmente
carbonizados. Prefira cebola e alho para temperar.
Modere o consumo de bebidas
alcoólicas - o consumo excessivo de álcool aumenta o risco de desenvolvimento
de cancro. Prefira água.
Leia os rótulos dos alimentos.
Combata a obesidade. Pratique atividade física regular.
Fonte: Liga Portuguesa Contra o
Cancro
07/07/14
A QUÍMICA DO DIA-A-DIA
Uma apresentação magistral, em
língua inglesa, sobre o papel da química no dia-a-dia e, em particular, na
alimentação humana. O Doutor Joe Schwarcz é
professor de Química na Universidade McGill em Montreal, no Canadá. É
autor de vários livros sobre estes temas, um dos quais (O génio da Garrafa) foi
publicado pela Gradiva em 2005.
02/07/14
MEDICINA E LITERATURA (3.ª parte)
Pelo que acabo de muito
sucintamente expor, facilmente se entenderá que não concebo a relação entre
Medicina e Literatura na base da eventual evasão ou do mero lazer (embora,
claro, a leitura de textos literários faça parte para maioria dos seus tempos
livres), nem tão pouco como uma espécie de complemento de erudição opcional e
decorativa. O que está em jogo quando se cruzam estas duas áreas do
conhecimento e respetivos quadros epistémicos e retóricos, é tão importante e
complexo quanto a compreensão e representação da vida humana nas suas
diferentes e complementares vertentes, pelo que não se deverá ficar por um
simples voluntarismo de horas vagas ou de vagas afinidades.
De resto, o aturado estudo do
Doutor Jorge Cruz a partir da obra de Edmund Pellegrino, mostra bem que não
bastam nem ideias imprecisas, vulgo preconceitos, nem legislações muito
sofisticadas - por muito bem intencionadas que umas e outras possam ser - para
que estejamos perante uma Medicina radicada em valores humanistas e éticos.
Em primeiro lugar, importa que
saibamos exatamente o que está em causa por detrás dos princípios, modelos e
termos, expressos ou subjacentes a diferentes práticas de Medicina. Depois,
importa ter em conta as dificuldades que se apresentam na passagem das teorias
às práticas. Nesse sentido, enquanto leitora e cidadã, (e até agora pelo menos,
pontualmente paciente ou familiar de pacientes), a explicitação do chamado
“paradigma das virtudes” foi para mim muito esclarecedora. Não que eu não
tivesse já intuído que um médico deverá ter certos traços de carácter como a
prudência ou a justiça, mas o enquadramento e explicitação dessas e outras
“virtudes” permitiu-me tomar consciência de diferentes pressupostos e
consequências na formação dos médicos e no decurso do exercício da sua
atividade; permitiu-me encontrar termos mais adequados e fundamentados para
dirimir argumentos e para me envolver naquela pergunta que dá título ao livro
de Jorge Cruz - “Que médicos queremos?” - fazendo-o não de uma forma mais ou
menos emotiva e volátil, como tantas vezes se
assiste na praça pública, mas de um modo mais consciente e consistente.
Julgo que este acesso às palavras
adequadas (como aquelas a que a Literatura também tantas vezes dá acesso), esta
consciência de valores estruturantes de uma prática tão nobre como a prática
médica, pode vir a reunir quer pacientes e sociedade em geral num propósito
comum traduzível no completar do título com o verbo ter - “que médicos queremos
ter?” –, quer aqueles que, pelas suas funções, a completarão com o verbo ser –
“que médicos queremos ser?”. Parece-me evidente que só quando houver, ou sempre
que houver, essa conjunção de vontades e de expetativas, existirá uma
verdadeira relação clínica em prol do humano. Tanto da humanidade do paciente
como da humanidade do médico.
Prof. Doutora Ana Paula Coutinho
Professora Associada do
Departamento de Estudos Portugueses e Estudos Românicos da Faculdade de Letras
da Universidade do Porto. Doutorada em Literatura Comparada.
01/07/14
MEDICINA E LITERATURA (2.ª parte)
Num tempo tão paradoxal como aquele que nos está a ser dado viver, tanto se assiste a uma desvalorização das Humanidades, desde logo em termos curriculares nos diferentes níveis de ensino, desinteresse sumariamente sustentado na sua fraca rentabilidade ou empregabilidade nas sociedades contemporâneas, como se depara também com a chamada de atenção, em várias frentes, para a urgência de complementar as formações cada vez mais específicas e tecnológicas com uma formação humanista, no sentido mais abrangente, nobre e consistente do termo, que colmate graves lacunas de formação noutras áreas culturais como a Filosofia, a História, as Línguas, a Literatura e/ou outras expressões artísticas.
Algumas universidades – e desde logo universidades estrangeiras consideradas de topo, mas também entre nós, registe-se, a Universidade do Minho, com os chamados “domínios verticais” no seu curso de Medicina - têm apostado nessa associação de saberes que se não é de modo nenhum nova, aponta para um paradigma outro de conhecimento, onde o grande desafio não é (ou não deverá ser) a simples adição de informações, mas sim a pesquisa e o ensaio cada vez mais sólidos da articulação complementar de saberes com um propósito comum e nuclear: o conhecimento e a preservação do mundo, da vida ou da criação em todas as suas formas.
Assim, em boa hora, seguindo a lógica do próprio pensamento de Edmund Pellegrino, o Doutor Jorge Cruz dedicou os últimos capítulos do seu livro Que médicos queremos? às temáticas da “Medicina e Humanidades” e da “Relação médico-paciente na Literatura”.
Se é verdade que a Medicina é a mais humanista das ciências e a mais científica das humanidades, como defende Pellegrino (note-se, aliás, que o radical indo-europeu “med-“, que significa cuidar, é comum à palavra meditação, ou ao verbo meditar), importa defender a inclusão das Humanidades na formação dos estudantes de Medicina, como o fez Pellegrino, médico e pioneiro da Bioética. E eu diria até mais: essa formação inclusiva deveria acontecer não apenas na formação inicial dos médicos como na sua formação (obrigatória) ao longo da vida, (co)respondendo assim à consideração tão sábia quanto oportuna do conhecido médico português, escritor e pintor, Abel Salazar: “ o médico que só sabe medicina, nem medicina sabe”.
Correndo o risco de ser a este nível suspeita, não posso deixar de sublinhar a importância da Literatura nessa formação humanística dos médicos, uma vez que ela representa já, em si mesma, um vasto domínio onde confluem muitos outros saberes, por vezes também de natureza científica, e onde são trabalhadas as grandes questões existenciais que ocupam e atravessam igualmente outras áreas do conhecimento.
Quando se pensa nas relações entre Medicina e Literatura, imediatamente vêm à ideia os muitos casos de médicos-escritores, não só ao longo dos tempos, como em diferentes quadrantes geográficos e culturais, facto esse que levou à fundação, em 1959, da Union Mondiale des Écrivains-Médecins. A existência de tantos casos de complementaridade de ação ou de “identidade dupla” é já em si mesma bastante sintomática, supondo por conseguinte várias afinidades entre esses dois tipos de “intérpretes de signos”, cuja observação radica e se transforma em narrativa.
No entanto, de modo nenhum o estudo desses exemplos de “identidade dupla” esgota as virtualidades das relações entre Medicina e Literatura. Que puderam (ou podem) aproveitar todos os restantes - os que são médicos e que não são escritores, os que não são nem uma coisa nem outra, mas que um dia já foram ou serão doentes - do contacto com a Literatura e até muito em especial do contacto com a Literatura atravessada pelos universos da Medicina e da doença? Eu diria que uns e outros têm a ganhar com a leitura e a análise dos textos literários (tanto contemporâneos como antigos), na medida em que eles preparam (ou podem preparar) para a observação, para a interpretação, para a reflexão e para a comunicação, em suma, para o reconhecimento e uso cada vez mais ajustado das palavras, não exatamente, claro, de termos científicos, mas das palavras que concorrem para discursos de reflexão e de comunhão; palavras que ressoam conhecimento do passado, que se adaptam ao presente e que imaginam futuro.
Muitas vezes se tem justificado alguma manifesta deterioração da relação médico-paciente com a falta de tempo, com o excesso de burocracia e com o aumento exponencial de exames complementares de diagnóstico. Sabemos bem que essas são razões muito verídicas, mas convir-se-á que, por vezes, existe também, ou quiçá sobretudo, uma falta de sensibilidade ou de compreensão por parte dos médicos (bem como de outros profissionais de saúde) das múltiplas formas de que se revestem o sofrimento, a doença, a angústia, o desespero ou a morte. Por outras palavras, existe incompreensão perante tentativas indiretas do dizer ou mesmo de silêncios na declaração de doença por parte do próprio doente, o que tantas vezes compromete irremediavelmente a sintonia na relação fundadora do encontro entre médico e paciente, e que é, ela própria, ocasião de biografia.
Quer isto dizer que existindo, por parte do médico e/ou de outros profissionais da saúde, falhas no conhecimento do humano – um conhecimento que extravasa de tabelas e nomenclaturas anatómicas ou fisiológicas - instala-se já aí uma incapacidade de comunicação porque incapaz de aceder a uma efetiva individuação. Ora, esta individuação é fundamental para o diagnóstico, prognóstico e terapêutica, concebidos não só em si mesmo, ou seja, em abstrato, mas sobretudo adaptados a uma relação com um outro específico, aberta à singularidade do seu rosto, da sua linguagem verbal e corporal, portanto resistente a (se não mesmo incompatível com) consultas no mundo virtual ou à chamada e-medicina…
O convívio com a boa Literatura, portuguesa ou estrangeira, e chamo aqui boa Literatura àquela que se foi mostrando ao longo dos tempos exigente do ponto de vista estético, isto é, do trabalho com a linguagem, não exatamente apenas com a linguagem como um valor em si mesma, mas enquanto meio de representação e construção da densidade antropológica e de questionação do mundo, esse convívio - dizia - não significa um mero conhecimento livresco, como muitas vezes é pejorativamente apontado, mas confere ao leitor (ou pode conferir, se a leitura for aprofundada pela suscitação e discussão de questões antropológicas, filosóficas, estéticas, históricas ou mesmo religiosas) uma experiência maturada de vida.
Através de processos de exposição e de identificação, a leitura de textos literários constitui um espaço privilegiado para o desenvolvimento dessa experiência refletida, fazendo com que cada um, e no caso concreto, cada médico se torne mais humano, no sentido em que o humano é um processo sempre em aberto. Com efeito, nunca será demais lembrar que mais do que nascermos humanos, vamo-nos tornando humanos.
Prof. Doutora Ana Paula Coutinho
30/06/14
MEDICINA E LITERATURA (1.ª parte)
O seguinte texto, escrito pela
Professora Ana Paula Coutinho a propósito do lançamento do meu livro Que Médicos Queremos? – Uma abordagem a
partir de Edmund D. Pellegrino, foi agora publicado na revista Mirabilia Medicinae (2:70-76, 2014):
Quando, há uns meses atrás, o Doutor Jorge Cruz teve a amabilidade de me contactar a pretexto da alegada revisão linguística do seu livro Que médicos queremos?, a leitura das suas páginas, redigidas de forma clara e concisa, num estilo acessível a um público alargado, embora sem concessões a um qualquer simplismo didático-comercial, logo me tornou evidente que a razão mais importante desse seu ato de confiança tinha outro nome, a saber: a Literatura na sua relação com a Medicina, ou vice-versa.
Quando, há uns meses atrás, o Doutor Jorge Cruz teve a amabilidade de me contactar a pretexto da alegada revisão linguística do seu livro Que médicos queremos?, a leitura das suas páginas, redigidas de forma clara e concisa, num estilo acessível a um público alargado, embora sem concessões a um qualquer simplismo didático-comercial, logo me tornou evidente que a razão mais importante desse seu ato de confiança tinha outro nome, a saber: a Literatura na sua relação com a Medicina, ou vice-versa.
Foi no contexto do Curso de
Doutoramento em Bioética na Universidade Católica que tive a oportunidade de
conhecer o Doutor Jorge Cruz, tal como outros profissionais da saúde que
constituíam a maioria dos participantes da pós-graduação. Fora com grande
satisfação que tomara conhecimento do propósito da Direção desse Curso,
promovido pelo Instituto de Bioética da Universidade Católica, em integrar um
módulo de reflexão a partir de textos literários, em cuja componente letiva
viria a ter o privilégio de colaborar num módulo sobre a representação da
doença, e da morte em particular. Para mim, não se tratava de uma mera questão
de orgulho pessoal (como continua a não ser), ver reconhecida aquela que é a
minha área de formação e de trabalho.
Na realidade, estava e está em
causa algo muito mais forte do que isso: uma arreigada convicção da necessidade
de intervenção do cruzamento de áreas de conhecimento que foram sendo afastadas
entre si por interesses vários, e que a evolução histórica da sociedade como do
conhecimento tanto explica como nos obriga a relativizar e a questionar,
justamente porque nos leva a ver que a confluência dos saberes não só esteve na
origem do conhecimento humano, como também o acompanhou durante muitos e muitos
séculos.
Vindo eu do domínio da Literatura
Comparada, entendida esta como área de investigação e ensino das relações entre
a Literatura e outros discursos epistemológicos ou artísticos, a relação entre
Literatura e Medicina impõe-se-me antes de mais como uma evidência histórica,
inscrita já nos textos da Antiguidade Clássica, raízes de todo o nosso
conhecimento e cultura ocidentais, onde ressalta a profunda afeição ao
conhecimento ou à chamada filosofia, atravessada por saberes de medicina,
botânica, astrologia, retórica ou poesia, entre outras formas de abordagem do
Homem e do mundo que o rodeia.
Essa, digamos, convivência de
saberes que virá a conhecer ainda como ícone o Homem do Renascimento ou
genericamente conhecido como “Humanista” (e que, já agora, deu origem a uma
fascinante personagem, Zenão, no inesquecível romance de Marguerite Yourcenar A Obra ao Negro), essa estreita
convivência, dizia, viria a sofrer um golpe profundo com a divisão entre
Ciências e Humanidades que se consuma, sobretudo, a partir do século XVIII, em
grande medida por influência da chamada Filosofia das Luzes.
Os séculos seguintes
encarregar-se-iam de cavar ainda mais essa separação de águas, desenhando
“ilhas” e “ilhotas” disciplinares em cada um dos caudais (se me é permitido continuar
com essa alegoria topográfica), criando especializações cada vez mais
restritas, onde a celebração de um saber mais específico e aprofundado se tem
tantas vezes perigosamente confundido com uma delimitação possessiva de
território, ou seja, com a sinalização de mais um pequeno domínio de poder…
Chegados que estamos a um novo
século e a um novo milénio, passada que está, aliás, a sua primeira década, vão
crescendo os sinais e as vozes que apontam para a necessidade de rever este
divórcio secular entre Ciências, umas chamadas “exatas” ou “duras”, outras
“sociais” e “humanas” (e quanto haveria aqui a acrescentar sobre os
pressupostos desses qualificativos!), sendo este segundo grupo aquele que
engloba áreas e disciplinas anteriormente designadas como “Humanidades”.
Prof. Doutora Ana Paula Coutinho
Professora Associada do
Departamento de Estudos Portugueses e Estudos Românicos da Faculdade de Letras
da Universidade do Porto. Doutorada em Literatura Comparada.
23/06/14
MEDICINA E HUMANIDADES
O texto seguinte foi escrito pelo
Professor Silveira de Brito a propósito do lançamento do meu livro Que Médicos Queremos? – Uma abordagem apartir de Edmund D. Pellegrino (Almedina, 2012). Foi agora publicado na
prestigiada revista da Universitat Autónoma de Barcelona Mirabilia Medicinae (2:77-80, 2014):
Até ao século XVII as pessoas
cultas tinham um domínio dos diversos saberes que ia da Filosofia e Teologia a
todas as ciências. Homens como Platão, Aristóteles, Averróis, Tomás de Aquino e
mesmos os pensadores da escolástica tardia espanhola, por exemplo Francisco de
Vitoria, Francisco Suárez, e, em geral, os pensadores da Escola de Salamanca,
discutiam todas as matérias porque dominavam todo o saber, Filosofia, Teologia,
Direito, Economia, Política, etc. Nesses tempos não havia a distinção entre
letras e ciências e, por isso, no início da Idade Moderna, Descartes tanto
estudava anatomia como discutia os problemas mais intrincados de Filosofia e Teologia.
O último grande espírito
enciclopédico, no genuíno sentido do termo, foi Blaise Pascal. Dominava as
ciências, quer as hoje chamadas ciências formais, como a Matemática, quer as
empírico-formais, como a Física, quer as questões filosóficas e teológicas. No
século XVIII já não encontramos intelectuais tão enciclopédicos, embora
tenhamos que reconhecer que os grandes filósofos, os que deixaram obra
verdadeiramente importante para a História da Filosofia, sabiam imenso de
ciências, como foi o caso de Immanuel Kant, professor em Königsberg, que, sendo
filósofo, também ensinava a Física de Newton.
A separação entre letras e
ciências, iniciada nos séculos XVII e XVIII, foi extremamente empobrecedora
para as duas áreas. E o que se verificou na evolução do conhecimento foi que a
lógica que preside à evolução das ciências, sendo de uma natureza muito própria
– é um pensamento que assume uma racionalidade científica, isto é
técnico-experimental, axiologicamente neutra – permitiu um avanço imenso neste
tipo de conhecimentos. Unanimemente consideramos que sabemos hoje muitíssimo mais
que há 50 anos e enormemente mais do que há dois séculos. Pelo contrário em
Filosofia – pensamento que procura o sentido e a razão de ser do que se pensa e
faz –, o progresso não é evidente e, como escreveu Karl Jaspers, médico e
filósofo alemão, no seu livro Iniciação Filosófica, não sabemos se estamos mais
adiantados ou mais atrasados do que Platão ou Aristóteles, o que origina a
grande tentação de importar para a Filosofia o tipo de raciocínio das ciências,
na esperança enganadora de assim se alcançar um pensamento mais seguro de si e
que progrida.
Esta distinção entre letras e
ciências teve implicações na preparação dos médicos e outros profissionais de
saúde. A investigação e o ensino da medicina centraram-se na doença e acabou
por se perder um pouco de vista a pessoa doente, e isto de um modo especial com
os progressos verificados na segunda parte do século passado. Dantes os meios
de diagnóstico e a capacidade de tratamento de que a medicina dispunha eram
reduzidos. A prática profissional exigia olhar o doente, ler nele os sinais e
esse olhar evitava, porventura, que a atenção se concentrasse apenas na doença.
Hoje, o recurso à parafernália de meios auxiliares de diagnóstico à disposição,
leva os médicos a lerem atentamente análises, relatórios baseados em dados
obtidos por meios que a tecnologia pôs à disposição, o que muitas vezes tem
como consequência que o doente/utente enquanto pessoa, fica um pouco esquecido,
se não mesmo ignorado. Temos aqui, provavelmente, a principal causa da
desumanização dos cuidados de saúde: olha-se para as doenças e seus sintomas e
esquecem-se os doentes.
Em meu entender, a primeira
grande virtude do livro do Doutor Jorge Cruz, é que, na companhia de Edmund
Pellegrino, mostra como não se pode separar a prática da Medicina do estudo da
Filosofia, isto é da reflexão filosófica sobre o sentido do humano, humano de
que faz parte a Medicina. Só se pode exercer Medicina digna desse nome se temos
uma Filosofia da Medicina. Durante os seus estudos de Medicina, Pellegrino
estudou, durante quatro anos, Filosofia e Teologia, matérias que faziam parte
do programa de licenciatura, o que o preparou de um modo privilegiado para o
estudo e exercício da Medicina. Sem uma antropologia filosófica como referência
última do agir, não se exerce medicina digna desse nome, porque esta deve estar
ao serviço do ser humano. Se não sabemos o que é o ser humano, questão
filosófica, como podemos tratá-lo? Como disse o Professor Abel Salazar: “O
médico que só sabe medicina, nem medicina sabe!”.
A segunda grande virtude do livro
é ser uma reflexão profunda sobre a ética dos profissionais da saúde. O autor
não se fica, como acontece em muita Bioética que se ensina nas nossas escolas
de medicina, por enunciar princípios éticos. Dão-se cursos intermináveis sobre
os quatro princípios que devem estar presentes na relação médico/ doente-utente
– autonomia, beneficência, não-maleficência e justiça –, discutem-se os
conflitos que podem surgir na aplicação desses princípios, mas esquece-se o
fundamental: os princípios têm que ser vividos e não apenas estudados. Como já
dizia Aristóteles: em Ética não chega saber; em Ética deve-se saber para viver.
Diz-se que os princípios devem ser respeitados, porque só assim se respeita a
dignidade humana, valor que deve pautar a atividade clínica.
Mas a vivência dos valores
significa a sua interiorização, significa adquirir aquelas qualidades de
carácter que levam o ser humano à procura habitual do bem; isto é, numa
linguagem rigorosa, mas que hoje fere alguns ouvidos, na sua vivência o
profissional deve praticar habitualmente o bem, isto é, deve ser virtuoso. As
grandes declarações de princípios só têm interesse se forem levadas à prática e
praticar os grandes princípios é, na linha já defendida por Aristóteles, na sua
Ética a Nicómaco, praticar a areté,
termo grego que significa virtude. Praticar as virtudes é praticar as
excelências que distinguem, no ser humano, aquele que procura caminhar para a
perfeição, daquele que não a procura.
E o que o Doutor Jorge Cruz faz
no seu livro é apresentar uma bioética das virtudes, bioética essa
indispensável para que a atividade do profissional de saúde não perca o sentido
do humano, para que a atividade clínica não degenere numa atividade mercantil,
embora também não se possa esquecer a dimensão económica que também tem e o
prestígio social que dá.
Em síntese, hoje a atividade
profissional dos médicos corre dois riscos: ser dominada por um neopositivismo
que tudo sacrifica no altar da ciência, ou reduzir-se a mero mercantilismo,
reduzindo a ser humano ao homo
economicus.
O livro do Doutor Jorge Cruz
leva-nos a descobrir que a atividade médica é humana: pauta-se pela vivência da
dignidade humana, dignidade humana dos que tratam e dos que são tratados. Se a
leitura do livro Que médicos queremos? levar os profissionais de saúde a
viverem os valores humanos próprios dos profissionais de saúde, este livro, em
minha opinião, terá feito tanto pela medicina portuguesa como todo o
desenvolvimento técnico-científico que a tem acompanhado. Por tudo o que acabo
de dizer, considero importantíssimo que os médicos, e os profissionais de saúde
em geral, leiam este excelente livro.
Prof. Doutor José Henrique
Silveira de Brito
Professor Associado com Agregação
na Universidade Católica Portuguesa (Braga). Doutorado em Filosofia.
16/06/14
COMO PREVENIR AS PEDRAS NO RIM?
O tempo quente é favorável à
formação de pedras no rim. O cálculo ou pedra renal forma-se a partir de
substâncias que estão na própria urina. As pessoas que já sofreram de uma
cólica renal e expulsaram a pedra que a causava têm maior probabilidade de
formar novas pedras: aproximadamente 3 em cada 5 pessoas terão um novo cálculo
em menos de 10 anos.
A medida preventiva mais
importante adequada a todos os tipos de cálculos renais é aumentar a quantidade
de líquidos ingeridos: Beba mais de 2,5 litros de líquidos por dia (uns 12
copos), de preferência água ou sumos de fruta. Beba até conseguir urinar uma
quantidade de 2 litros por dia. Lembre-se de repor mais líquidos em situações
que as perdas estejam aumentadas: calor, exercício, doenças ou trabalho.
A dieta pode ajudar na prevenção:
Modere o consumo de sal, carne, café e bebidas que contenham cafeína, chá e
chocolate.
Para prevenir cálculos que contêm
cálcio, diminua a quantidade de alimentos ricos em oxalato como os espinafres,
as couves, a beterraba, as nozes e os amendoins.
Apesar de sempre se ter aconselhado
o contrário, atualmente recomenda-se que não restrinja o cálcio da dieta (leite
e derivados) pois tal restrição poderá aumentar o risco de formação de
cálculos.
Aumente o consumo de alimentos
ricos em citrato como o limão, a laranja, a cidra, a lima, a toranja, o kiwi, a
groselha e a goiaba.
Como medidas preventivas
adicionais, deverá ainda fazer exercício físico. Caminhe diariamente a bom
ritmo; é benéfico para a sua saúde e pode ajudá-lo a evitar a formação de novos
cálculos.
Fonte: Guia Prático de Saúde
11/06/14
RECOMENDAÇÕES PARA OS BANHISTAS
Abriu no início do mês a época
balnear em Portugal. As recomendações do Prof. António Vaz Carneiro, no vídeo
seguinte, parecem-me muito sensatas e baseadas em evidências científicas.
29/05/14
A SINFONIA DA VIDA
«Os slogans que proclamam que o
embrião é parte do organismo materno, que o aborto provocado é como qualquer
outra intervenção, que a mulher tem plenos direitos sobre o seu ventre, e por
aí fora, ofendem a seriedade da ciência antes mesmo de ofenderem a moral».
Elio Sgreccia, Manual
de Bioética, Princípia, Cascais, 2009, p. 542.
26/05/14
ESTAR SENTADO É MAU PARA A SAÚDE
São bem conhecidos os inúmeros
benefícios do exercício físico. Mas estudos recentes revelam que o
próprio facto de se estar sentado muitas horas por dia tem consequências negativas
para a saúde, mesmo que se procure compensar essa mobilidade reduzida com a
prática desportiva. Parece que a solução passa por encontrarmos formas ativas
de exercitar os músculos durante os longos períodos em que permanecemos
sentados, como recomendam os seguintes vídeos.
19/05/14
O ABAFADOR
Em algumas culturas, havia o
costume pagão de acelerar a morte de pessoas com doenças graves supostamente
incuráveis, por meio do estrangulamento ou da sufocação. Miguel Torga, no seu
livro Novos Contos da Montanha, apresenta a personagem Alma Grande, também chamado
de pai da morte ou abafador, que existia em algumas aldeias rurais de Portugal.
“Entrava, atravessava impávido e
silencioso a multidão que há três dias, na sala, esperava impaciente o último
alento do agonizante, metia-se pelo quarto dentro, fechava a porta, e pouco
depois saía com uma paz no rosto pelo menos igual à que tinha deixado ao
morto.” (M. Torga, «O Alma Grande», Contos. Lisboa: Dom Quixote, 2001)
Contudo, como este conto retrata
de forma magistral, nem sempre as doenças eram fatais. Lemos mais à frente
nesta narrativa: “o Alma Grande olhara pela primeira vez a escuridão do seu
poço”.
Matar, mesmo por motivos
altruístas, não dignifica ninguém.
14/05/14
DESPORTO E ATIVIDADE FÍSICA
A atividade física e os desportos
saudáveis são essenciais para a saúde e bem-estar. A evidência científica e a
experiência disponível mostram que a prática regular de atividade física e o
desporto beneficiam, quer fisicamente, quer socialmente, quer mentalmente, toda
a população, de todas as idades, incluindo pessoas com incapacidades.
A atividade física reduz o risco
de morte prematura; diminui o risco de morte por doenças cardíacas ou acidente
vascular cerebral, que são responsáveis por 1/3 de todas as causas de morte;
reduz o risco de doenças cardíacas, cancro do cólon e diabetes tipo 2; ajuda a
prevenir/controlar a hipertensão, que afeta 1/5 da população adulta mundial; ajuda
a controlar o peso e diminui o risco de obesidade; ajuda a prevenir a osteoporose,
reduzindo o risco de fratura do colo do fémur; reduz o risco de desenvolver
dores lombares; favorece o crescimento e manutenção de ossos, músculos e
articulações saudáveis; promove o bem-estar psicológico e diminui o stress,
ansiedade e depressão; ajuda a prevenir e controlar comportamentos de risco (como
tabagismo, alcoolismo, toxicofilias, alimentação não saudável e violência),
especialmente em crianças e adolescentes.
Os benefícios para a saúde
geralmente são obtidos através de pelo menos de 30 minutos de atividade física diária
moderada. Este nível de atividade pode ser atingido através de atividades
físicas agradáveis, tais como caminhar para o local de trabalho, subir escadas,
jardinagem, dançar e muitos outros desportos recreativos. As crianças e
adolescentes necessitam de 20 minutos adicionais de atividade física vigorosa,
3 vezes por semana, enquanto que o controlo do peso corporal requer pelo menos
60 minutos diários de atividade física vigorosa/moderada.
A atividade física também tem
benefícios económicos, especialmente porque reduz as despesas com a saúde,
aumenta a produtividade e melhora o ambiente físico e social.
Fonte: Direção-Geral da Saúde
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HIPERTENSÃO ARTERIAL,
OBESIDADE
11/05/14
SELÉNIO E PREVENÇÃO DO CANCRO
O selénio é um mineral com atividade antioxidante, indispensável para o normal funcionamento do organismo. Pertence ao grupo dos micronutrientes que, tal como o nome indica, são necessários em pequenas quantidades na alimentação humana.
As carências nutricionais em
selénio são muito raras e estão geralmente associadas a malnutrição. Além
disso, apesar de alguma publicidade falaciosa, até ao momento não se
encontraram evidências de que o consumo de suplementos de selénio, sob a forma
de comprimidos ou ampolas, seja benéfico na prevenção do cancro.
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06/05/14
CELEBRANDO A DIFERENÇA
Nascem cada vez menos crianças
com trissomia 21 na maioria dos países ocidentais, devido às políticas
agressivas de diagnóstico pré-natal e abortamento. Estou certo que a sociedade
ficará mais pobre.
05/05/14
A MELHOR FRUTA É A MAÇÃ?
Comer uma maçã todos os dias
poderá reduzir de forma significativa o risco de doenças cardiovasculares. Um
estudo da Universidade de Oxford publicado no British Medical Journal em
Dezembro passado, revelou que o consumo de uma maçã todos os dias poderá
prevenir anualmente 850 enfartes do miocárdio e acidentes vasculares cerebrais
no Reino Unido. Essa diminuição é quase tão potente como a que se obtém com as estatinas, medicamentos utilizados para baixar os níveis elevados de colesterol no sangue. Já diziam os antigos ingleses, "an apple a day keeps the doctor away".
30/04/14
O VOLUNTÁRIO DE AUSCHWITZ
Witold Pilecki, capitão do
Exército do Estado clandestino polaco, fez algo que mais ninguém teve a coragem
de repetir: voluntariar-se para ser preso em Auschwitz, o mais violento e
mortífero campo de concentração nazi, e, dessa forma, relatar os horrores ali
praticados pelo Terceiro Reich.
A missão, realizada entre 1940 e 1943, tinha dois objetivos: informar os Aliados sobre as práticas nazis nos seus campos de concentração, dos quais se conheciam, então, apenas algumas informações esparsas, mas muito preocupantes; e organizar os prisioneiros em grupos de resistência contra as forças alemãs, na tentativa de controlar o campo. Sobrevivendo a muito custo a quase três anos de fome, doença e brutalidade, Pilecki foi bem-sucedido na sua missão, conseguindo evadir-se do campo de concentração em abril de 1943.
O Voluntário de Auschwitz é o relatório mais extenso do capitão Witold Pilecki, completado em 1945, no exílio. Escondido pela ditadura comunista na Polónia durante mais de 40 anos, este documento único na história e na literatura sobre Auschwitz, a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto é agora publicado pela primeira vez em português.
28/04/14
A CHAVE DO COMBATE AO STRESS
Uma das mais completas definições
de stress que conheço é apresentada pelo Prof. Adriano Vaz Serra na obra O
distúrbio de stress pós-traumático (2003, p.5): “Quando a circunstância vivida é considerada
importante para o indivíduo e este sente que não tem aptidões nem recursos
(pessoais ou sociais) para superar o grau de exigência que a circunstância lhe
estabelece, então entra em stress. O stress surge quando o ser humano
desenvolve a perceção de não ter controlo sobre a ocorrência. A perceção de não
ter controlo pode ser real (de facto, o individuo não tem aptidões nem recursos
pessoais e sociais que lhe permitam ultrapassar as exigências criadas pela
situação) ou distorcida, isto é, o indivíduo tem aptidões e recursos mas sente
subjetivamente que não são suficientes ou que não é capaz de os usar
adequadamente.”
No vídeo seguinte o Dr. Mike
Evans sublinha que uma das formas de combater os efeitos negativos do stress é
através de uma mudança de atitude no que respeita aos padrões de pensamento e
apresenta algumas sugestões para o combater.
21/04/14
A ÉTICA EXIGE O TRATAMENTO DA DOR
O tratamento da dor, ou ao menos
a tentativa de a minorar, representam, na longa história (e pré-história) da
medicina um dos dados adquiridos que ninguém põe em dúvida. Há imagens de
Esculápio (ou Asclépio, na versão grega original) segurando na mão esquerda a
serpente enrolada no bastão e, na mão direita, algumas cápsulas de dormideira
ou Papaver somniferum, cujo sumo
concreto, obtido por incisão, é o ópio. Repare-se: o símbolo da própria arte de
curar fica assim preterido (na sinistra) em relação ao princípio vegetal capaz
de tratar a dor (na dextra). Hipócrates, no século IV antes de Cristo não
hesitou em atribuir às mãos dos médicos características divinas, mormente quando
da sua ação resultasse o alívio da dor (“É divino sedar a dor”, proclamava). E
o nosso Zacuto lusitano (nascido como Francisco Nunes em 1575) deixou inscrita,
na listagem dos preceitos médicos, esta notável instrução: Medicus inter omnia symptomata, prius dolorem sedet (Entre todos os
sintomas, dê o médico primazia ao alívio da dor).
Esta especial atenção à dor
parece compreensível: é o sintoma que mais incomoda, aterroriza ou provoca
sofrimento ao doente e, por extensão, aos que o rodeiam. Por natureza, é
entendida como sensação desagradável, podendo ter uma graduação que vai do ligeiro
incómodo ao insuportável sofrimento. Temos pois doentes que desejam obter
alívio e médicos que são competentes para conhecer os meios propiciadores desse
alívio e o modo como podem ser usados. Os médicos da antiguidade só podiam
recorrer ao ópio e às bebidas alcoólicas; só a partir de 1820 é que fica
disponível a morfina que, para maior eficácia, passa a ser administrada por via
injectável, graças à invenção da seringa hipodérmica. Mas só no adiantado
século XIX é que surgem os anestésicos e, graças ao seu uso, a cirurgia
torna-se uma terapia e deixa de ser uma indizível tortura à qual só se recorria
em desespero de causa.
Depois vieram analgésicos,
ativos por via oral, opioides, analgésicos e antipiréticos, com ou sem
componente anti-inflamatória, anestésicos locais, técnicas psicológicas,
aplicações eléctricas, etc. Ou seja, temos hoje armas potentes, diversificadas,
que permitem um tratamento diferenciado dos mais diversos tipos de dor (de que
temos também cada vez melhor conhecimento científico, quanto aos seus
mecanismos e mediadores). Mas é surpreendente verificar que ao sintoma dor não
parece dar-se hoje a importância que os antigos lhe atribuíam. Ou seja, ao
maior conhecimento da natureza da dor e dos mecanismos que lhe subjazem não tem
correspondido uma uniforme e acentuada melhoria do seu tratamento, apesar dos
meios eficazes de que dispomos para a combater.
De facto, se cerca de um terço da
população portuguesa sofre de dor crónica, tal só se pode dever a um tratamento
ineficaz, por esporádico, insuficiente (na posologia e na duração) e muitas
vezes menos correto (por não se recorrer aos medicamentos e esquemas
terapêuticos mais indicados e apoiados em sólidas provas clínicas). Não é
crível que estas circunstâncias adversas se compaginem com ignorância ou dolo
médico, antes se deverão a uma subavaliação da dor (descartado por pacientes e,
sobretudo, por médicos quando não aguda e intensa) e ao preconceito da
perigosidade dos analgésicos, mormente dos anti-inflamatórios e dos opioides.
Ora, a deontologia, apoiada numa
ética universalmente aceite (mas nem sempre presente na decisão médica) e no
bom senso, apontam a dor como sintoma a valorizar, certamente, mas como
situação mórbida a exigir tratamento. Os princípios éticos da beneficência, da solidariedade
e da subsidiariedade não levam a outra conclusão senão a propugnada há tantos
séculos por Hipócrates ou por Zacuto: é fortíssima obrigação médica a de
tratar, sempre, a dor; é perverso pactuar com a dor, deixando o doente à sua
mercê, por não ser alvo de tratamento ou por o ser de forma incompleta ou
inadequada. Não recorrer a um meio apropriado e disponível, em face de uma
situação que constitua uma indicação para o seu uso, constitui erro grave ou
indício de negligência médica.
Prius dolorem sedet, demos a devida prioridade ao tratamento da
dor, para podermos minorar ou suprimir o sofrimento dos doentes e assim nos
aproximarmos do ideal multisecular do médico sábio e compassivo.
Prof. Doutor
Walter Osswald
Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa
17/04/14
PÁSCOA FELIZ!
From heaven you came, helpless babe,
Entered our world, your glory veiled;
Not to be served but to serve,
And give your life that we might live.
This is our God, the Servant King,
He calls us now to follow him,
To bring our lives as a daily offering
Of worship to the Servant King.
There in the garden of tears,
My heavy load he chose to bear;
His heart with sorrow was torn,
'Yet not my will but yours,' he said.
This is our God, the Servant King,
He calls us now to follow him,
To bring our lives as a daily offering
Of worship to the Servant King.
Come, see his hands and his feet,
The scars that speak of sacrifice,
Hands that flung stars into space
To cruel nails surrendered.
This is our God, the Servant King,
He calls us now to follow him,
To bring our lives as a daily offering
Of worship to the Servant King.
So let us learn how to serve,
And in our lives enthrone him;
Each other's needs to prefer,
For it is Christ we're serving.
This is our God, the Servant King,
He calls us now to follow him,
To bring our lives as a daily offering
Of worship to the Servant King.
15/04/14
O CÓDIGO DE NUREMBERGA
O Código de Nuremberga resultou da sentença promulgada em 1947 pelo Tribunal Militar de Nuremberga, na sequência dos atos perversos e criminosos praticados pelos médicos nazis em experiências com seres humanos, e que levou à condenação de vários médicos alemães. Este documento constitui um ponto de partida e uma referência para as declarações e códigos internacionais de ética médica que se lhe seguiram, com destaque para a Declaração de Helsínquia e a Convenção dos Direitos do Homem e da Biomedicina.
No Código de Nuremberga é enfatizada a obrigatoriedade do consentimento consciente, livre e informado do sujeito da experimentação, bem como a possibilidade da investigação ser interrompida, em qualquer fase, por sua livre iniciativa. Inclui o princípio da beneficência, na medida em que a experimentação deve ter como finalidade o benefício do indivíduo ou da sociedade, e os riscos sofridos pelo sujeito não podem exceder a importância humanitária da experiência. Inclui ainda o princípio do carácter científico, pois a experiência deve ser realizada por cientistas competentes, segundo as regras do método científico, bem como o princípio da reversibilidade dos danos, ou seja, o indivíduo não pode correr um risco de morte ou de invalidez em nenhum momento da experimentação. A experimentação em seres humanos deve, pois, reger-se por princípios que salvaguardem a integridade física e mental do sujeito alvo da experiência, sendo imprescindível o seu consentimento livre e informado.
A Declaração de Helsínquia, aprovada em 1964 pela Associação Médica Mundial e alvo de sucessivas revisões (a atualização mais recente ocorreu em Fortaleza em 2013), baseia-se nos valores e princípios defendidos pelo Código de Nuremberga e pela Declaração de Genebra, sendo um documento basilar na investigação científica em seres humanos. No entanto, a sua aplicação e cumprimento dependem, em grande parte, da consciência e probidade do investigador. O Prof. Daniel Serrão, num artigo que escreveu para assinalar o 50.º aniversário do Holocausto, recorda a opinião do cirurgião Rudolf Pichlmayr acerca da legislação alemã de 1931, pelo menos tão rigorosa como o Código de Nuremberga, mas que não evitou a participação dos médicos no Holocausto: “os códigos são fracos, face a um regime brutal que volte a aparecer, repetindo o nazismo, porque ele deitará os códigos pela borda fora. O grande valor a fomentar e a vigiar é o da integridade dos médicos como pessoas, porque os valores são mais importantes que os códigos".
09/04/14
PARAGEM CARDÍACA: O QUE FAZER?
Uma paragem cardíaca ou
cardiorrespiratória é a interrupção súbita e inesperada da respiração e dos
batimentos cardíacos. Não inclui a morte natural por envelhecimento nem a morte
por uma doença crónica e irreversível. Em caso de paragem cardiorrespiratória,
devemos tentar evitar a morte através de medidas de reanimação.
Em alguns países é habitual ver
pessoas sem formação médica tentar reanimar pessoas que tenham sofrido paragem.
Você também pode fazê-lo.
O que deve fazer?
Siga os seguintes passos se
alguém a seu redor perder o conhecimento:
1. Grite e sacuda-o para
comprovar se responde. Se não responder, peça ajuda e inicie a reanimação.
2. Coloque a vítima no
chão, incline a cabeça para trás e comprove se respira (se expira ar ou se
notam movimentos respiratórios no peito ou na barriga).
3. Se não respira, abra-lhe
a boca e com o dedo tire tudo aquilo que o pode impedir de respirar: comida,
dentadura se estiver deslocada, etc. Não retire a dentadura se esta estiver bem
colocada.
4. Pratique a respiração
boca-a-boca. Com uma mão mantenha a boca aberta afastando o queixo. Com a outra
tape o nariz. Depois inspire, sele a sua boca à da vítima e expire ar como se
estivesse a encher um balão (chama-se ventilar). Espere 3 ou 4 segundos antes
da segunda ventilação.
5. Após as duas primeiras
ventilações, observe se a vítima respira, tosse, engole ou se mexe. Se não
acontecer nada, deve começar a massagem cardíaca.
6. Ajoelhe-se junto à
vítima, estenda os braços e apoie as suas mãos cruzadas sobre o peito da vítima
entre os 2 mamilos. Aproveitando o seu próprio peso, pressione com as mãos o
peito do doente e veja como este se afunda um pouco (4-5 cm). Para dar massagem
cardíaca adequada é útil contar da seguinte forma: «e um, e dois, e três,
etc.», a uma frequência de 100 por minuto.
7. Se se tratar de um bebé,
a massagem faz-se com a ponta de dois dedos; nas crianças com menos de 8 anos,
com uma mão apenas.
8. Por cada 30 compressões
deve dar 2 ventilações, e assim sucessivamente até que a vítima respire ou se
mexa, ou até que passem 20-30 minutos de reanimação sem nenhum resultado ou
você esteja exausto e lhe seja impossível continuar reanimando.
Se em algum momento a pessoa
respira, se mexe ou tosse, deve deitá-la sobre o seu lado direito.
Se são duas pessoas a reanimar,
devem colocar-se cada uma de seu lado da vítima. Uma se encarregará da
ventilação e a outra da massagem cardíaca. Nunca se fazem as duas coisas ao
mesmo tempo e devem seguir a cadência de 30 compressões por cada 2 ventilações.
Devem trocar de função regularmente, para não ficarem exaustas.
Fonte: Guia Prático de Saúde, p.
172.
02/04/14
PEDALAR PELA SAÚDE
A Holanda apresenta uma das mais elevadas taxas mundiais de
utilização da bicicleta como meio de transporte, não obstante o seu clima mais
agreste que outros locais do globo. Essa atividade física diária de uma percentagem
significativa da população (cerca de 30%) poderá ser um dos fatores protetores
de doenças cardiovasculares, oncológicas e obesidade, comparativamente a outros
países, que apresentam em média taxas mais altas destas doenças.
Em pessoas com doença venosa dos membros inferiores, nomeadamente com insuficiência das veias pequenas safenas (antigamente chamadas veias safenas externas) e em que a cirurgia não seja possível (p. ex. por
insuficiência concomitante dos eixos venosos profundos) é muito importante a
utilização de meias elásticas durante a prática de ciclismo.
Etiquetas:
EXERCÍCIO FÍSICO,
MEIAS ELÁSTICAS,
OBESIDADE,
VARIZES
31/03/14
ASMA – UMA DOENÇA TRATÁVEL
Este artigo foi escrito pela minha estimada amiga e colega Dr.ª Adelina Amorim, especialista em Pneumologia.
A asma é uma doença inflamatória
crónica que afeta os brônquios e que se caracteriza por episódios recorrentes
de limitação da passagem de ar. Poderá ser alérgica ou não.
Quem afeta?
Calcula-se que a asma afeta
cerca de 300 milhões de pessoas no mundo, sendo mais frequente nos países
ocidentais, nas áreas urbanizadas.
A asma pode ocorrer em qualquer
fase da vida, embora seja mais comum desenvolver-se na infância. Estima-se que
em 30-50% das crianças os sintomas da asma desaparecem durante a puberdade mas
é comum ressurgir na idade adulta. Até aos 14 anos a asma é quase duas vezes
mais frequente nos rapazes mas na vida adulta as mulheres são mais afetadas.
Como se manifesta?
A doença manifesta-se principalmente
por episódios de falta de ar e tosse, particularmente à noite ou no início da
manhã. Pode também ser percetível ao
doente a presença de pieira (“gatinhos”, “chiadeira”) e sentir aperto ou
sensação de peso no peito. Nem sempre estão presentes todas estas queixas,
havendo casos, por exemplo, em que tosse seca persistente e com agravamento
preferencial à noite pode ser uma manifestação de asma. O agravamento noturno
tem sido atribuído a variações dos níveis de certas hormonas ao longo das 24
horas, bem como à redução durante a noite de mecanismos anti-inflamatórios do
nosso organismo. Os sintomas podem melhorar espontaneamente ou através de
medicação adequada.
As queixas referidas ocorrem
também noutras doenças pulmonares, pelo que o diagnóstico final baseia-se na
história clínica e também no resultado de alguns exames, sendo os mais
importantes as provas funcionais respiratórias e os testes cutâneos e/ou
sanguíneos de alergias.
A gravidade da asma é variável
sendo classificada em 4 graus: intermitente e persistente ligeira, moderada ou
grave. É importante que os doentes saibam que mesmo as formas mais leves podem
associar-se a crises graves, potencialmente fatais.
Quais as causas e fatores de risco?
Muitos doentes ou pais se questionam
sobre o porquê do aparecimento da asma. A verdade é que nem sempre a resposta
que o médico dá é clara ou satisfatória e isto deve-se, em grande medida, ao
facto de se tratar de uma doença multifatorial e com mecanismos subjacentes
complexos e ainda não totalmente conhecidos.
Os vários fatores que influenciam o risco de
asma podem-se agrupar nos que causam a doença e nos que levam ao aparecimento
dos sintomas, ou seja, ao desenvolvimento das crises de asma. De forma resumida
a doença manifestar-se-á nas pessoas que têm um predisposição genética mas após
exposição a fatores ambientais de risco. É, portanto, consequência de uma
complexa interacção de múltiplos genes e o ambiente.
A obesidade tem sido apontada
como factor de risco, sendo mais frequente e mais difícil de a controlar em
doentes obesos.
Algumas características da
alimentação dos países ocidentais também têm sido associadas ao risco de asma,
tais como, o aumento do consumo de alimentos processados, de gorduras
polinsaturadas n-6 (existente nas margarinas e óleo vegetal) e a diminuição do
consumo de antioxidantes (contidos nas frutas e vegetais) e gorduras
polinsaturadas n-3 (presente no óleo de peixe). Alguns dados apontam para que a
amamentação materna tenha um papel protetor para o desenvolvimento de asma.
Certas profissões têm sido associadas
ao risco de aparecimento de asma e, até à data, mais de 300 substâncias já
foram identificadas. Como exemplo de algumas atividades de risco são o fabrico
de detergentes, de conservas de peixe, os trabalhadores hospitalares, de
serrações, de aviários, de silos de cereais, de refinarias, carpinteiros,
padeiros, veterinários, estivadores, agricultores, esteticistas, etc.
Os sintomas podem surgir ou ser
agravados pelo exercício físico,
poluição, condições climáticas, infeções víricas, exposição ao tabaco, stress
emocional, riso e alergénios inalados.
A origem dos alergénios inalados pode
ser o ambiente doméstico ou a natureza. No primeiro grupo incluem-se os ácaros
como principal fonte, seguido dos animais domésticos, das baratas e dos fungos
ou bolores. Dentro dos animais domésticos o gato é o mais importante, seguido
do cão e por fim de outros animais de estimação como hamsters e coelhos. Os
alergénios encontrados na natureza mais comuns são os pólens de árvores (mais
na Primavera) e de ervas (mais na Primavera e Verão) .
Como tratar?
Para que um doente adira a um
tratamento, em qualquer patologia, é importante que este entenda minimamente o
que é a doença, qual o objetivo do tratamento e como deve tomar a medicação.
Na asma esta verdade assume ainda uma maior importância, dado ter um
comportamento muito variável ao longo do tempo e consequente necessidade de
ajustes frequentes das doses e mesmo do tipo de fármacos. Quando o doente estabiliza
tem tendência a reduzir ou mesmo parar a medicação, levando a recaídas
frequentes.
Outro motivo que ressalta a
importância do ensino relaciona-se com o facto de grande parte da medicação ser administrada
através de inaladores (comummente designados pelos doentes de “bombas”), cujo
funcionamento correto exige um esclarecimento adequado.
Apesar de haver no mercado
atualmente grande variedade de inaladores, eles podem ser agrupados nos de
alívio, que correspondem a broncodilatadores e nos de efeito anti-inflamatório,
de ação preventiva, sendo os corticóides os mais importantes.
Há uma tendência dos doentes
optarem pelo uso exclusivo dos broncodilatadores, uma vez que com estes sentem
alívio imediato da falta de ar. Em doentes com sintomas intermitentes isto
poderá ser suficiente mas em grande parte dos casos não é e se não for
associado o corticóide inalado, ou outros fármacos de ação anti-inflamatória, dificilmente
se consegue o controlo da doença. Para
contrariar esta tendência atualmente estão disponíveis inaladores que combinam ambos
os fármacos. É muito importante que o doente siga estritamente o plano
recomendado pelo seu médico assistente e compreenda bem para que servem e como
funcionam os inaladores prescritos.
Nos doentes que também têm
rinite, o que corresponde a 80% dos doentes com asma, o tratamento nasal adequado contribui também
para o controlo da asma.
Como prevenir?
Prevenir as crises de asma é o
meio mais eficaz de controlar a doença. Para prevenir eficazmente é necessário
em primeiro lugar identificar os fatores desencadeantes das exacerbações e
aprender a evitá-los.
No caso de se tratar de asma
alérgica, com sintomas associados à
exposição e comprovação através de testes adequados para o(s) alergénio(s) em
causa, deverão ser cumpridas as medidas de evicção recomendadas.
Quando os acáros são o principal
alergénio as medidas para os evitar centraliza-se particularmente nos cuidados
de higiene da cama do doente, mas idealmente toda a casa deve ser alvo de
cuidados especiais. Os lençóis e cobertores devem ser lavados semanalmente com
água quente (>55ºC), os colchões e
almofadas devem ser protegidos com cobertas, deve-se evitar mobiliário
revestido com tecido, as cortinas e peluches devem ser lavados frequentemente e
é conveniente retirar tapetes, em particular dos quartos de dormir.
Se a causa forem alergénios
animais, estes devem ser retirados de casa ou pelo menos devem ser mantidos
fora dos quartos de dormir e devem ser lavados semanalmente.
No caso dos pólens deve-se fechar
as portas e janelas de casa, ou do carro se em viagem, quando os valores
atmosféricos destes alergénios forem mais elevados.
O número de esporos de fungos
pode ser reduzido removendo ou limpando objetos bolorentos.
Quanto a medidas gerais,
aplicáveis a qualquer asmático, consta o não fumar, evitar a exposição passiva
ao fumo de tabaco, a exposição a fumo de lenha (churrascos/lareiras), sprays
domésticos, manter a casa bem ventilada e com baixa humidade e fazer anualmente
a vacina da gripe.
Dr.ª Adelina Amorim
Pneumologista no Centro Hospitalar de S. João, Porto, Portugal.
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