19/05/14

O ABAFADOR

 
Em algumas culturas, havia o costume pagão de acelerar a morte de pessoas com doenças graves supostamente incuráveis, por meio do estrangulamento ou da sufocação. Miguel Torga, no seu livro Novos Contos da Montanha, apresenta a personagem Alma Grande, também chamado de pai da morte ou abafador, que existia em algumas aldeias rurais de Portugal.
  
“Entrava, atravessava impávido e silencioso a multidão que há três dias, na sala, esperava impaciente o último alento do agonizante, metia-se pelo quarto dentro, fechava a porta, e pouco depois saía com uma paz no rosto pelo menos igual à que tinha deixado ao morto.” (M. Torga, «O Alma Grande», Contos. Lisboa: Dom Quixote, 2001)
  
Contudo, como este conto retrata de forma magistral, nem sempre as doenças eram fatais. Lemos mais à frente nesta narrativa: “o Alma Grande olhara pela primeira vez a escuridão do seu poço”.
  
Matar, mesmo por motivos altruístas, não dignifica ninguém.

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