29/03/10

EU PARO QUANDO QUISER


Acaba de ser editado o livro “EU PARO QUANDO QUISER - Como lidar com vícios em crianças e adolescentes”, da Dr.ª Mena Casaleiro, cujo prefácio (que aqui publico) tive a honra de escrever:

O título do livro que tem entre mãos, «Eu Paro Quando Quiser – Como lidar com vícios em crianças e adolescentes», confronta-nos e desafia-nos. Alguns poderão considerá-lo excessivo e mesmo contraditório. Será possível as crianças, cuja candura e encanto tanto apreciámos, terem vícios?
Os dicionários definem «vício» como sendo qualquer «hábito ou costume prejudicial». A autora está consciente de que muitos dos comportamentos descritos no seu livro, sobretudo na infância, quando ocasionais ou até executados com uma certa regularidade, são relativamente inofensivos. Podem mesmo fazer parte do processo normal de crescimento e desenvolvimento da criança. O seu potencial destrutivo surge a partir do momento em que se tornam de tal maneira arreigados e compulsivos que constituem uma verdadeira adicção ou dependência, ou seja, se tornam autênticos vícios a combater.
Mena Casaleiro, com a sua sensibilidade de mulher e mãe, além de uma rica experiência clínica em terapia da fala e aconselhamento, escreve uma obra de referência sobre um assunto crucial e pertinente. Num estilo claro, fluente e bem estruturado, aborda com frontalidade e realismo uma preocupação de muitos educadores, nem sempre devidamente discutida e valorizada.
Na obra «Eu Paro Quando Quiser», a autora não se limita a identificar detalhadamente os hábitos e comportamentos nocivos mais comuns na infância e adolescência. Ao explicitar quais os “passos para a mudança” oferece a esperança de solução do problema e restauração integral da pessoa que se deixou controlar por ele. Por outro lado, tranquiliza os pais e encarregados de educação de crianças e adolescentes que apresentam algum dos vícios descritos no livro e acumulam sentimentos de culpa por esse motivo. A causa do aparecimento do vício é geralmente multifactorial e não por terem sido negligentes ou “maus pais”. No entanto, o seu contributo para a resolução do problema é essencial e inestimável. Ignorar o vício ou esperar que desapareça com o tempo é a pior atitude. O facto deste livro ter suscitado o seu interesse e ter iniciado a sua leitura demonstram o seu empenho e determinação em assumir o seu papel de formador consciencioso e esclarecido.
Para tirar o máximo proveito destes textos, a leitura deverá ser efectuada com espírito aberto e sem preconceitos, não se deixando influenciar pela atitude de permissividade e relativismo tão em voga nos dias de hoje.
Mena Casaleiro reconhece e valoriza a dimensão transcendente do ser humano, bem expressa nas palavras de Teilhard de Chardin, «Nós não somos seres humanos que têm uma experiência espiritual; somos seres espirituais que têm uma experiência humana». A sua fé cristã e conhecimento da Bíblia, conferem-lhe uma perspectiva ainda mais abrangente e completa na abordagem e tratamento dos vícios descritos no seu livro, até porque muitas vezes existem sentimentos de culpa envolvidos que não é possível escamotear.
Todos os pais e educadores que se preocupam com o desenvolvimento integral e saudável das suas crianças e jovens irão ser grandemente enriquecidos, esclarecidos e ajudados pela sua leitura.

17/03/10

HUMANIZAÇÃO NA SAÚDE

O texto que hoje publico é uma adaptação do artigo escrito originalmente em inglês pelo meu colega e amigo Dr. Huw Morgan, um dos formadores sénior da PRIME - Partnerships in International Medical Education:
É sempre reconfortante quando a investigação científica confirma a nossa intuição. Um editorial recente do British Medical Journal (BMJ 2010; 340:c657), sobre o tratamento da infecção urinária nos cuidados de saúde primários, tem como subtítulo “O modo como os médicos prestam os cuidados é tão importante como o tratamento em si”.
Nesse texto, é referido: “A descoberta mais interessante deste estudo é chamar a atenção para um aspecto muitas vezes esquecido – não é só aquilo que é feito que tem importância mas a forma como o cuidado é prestado. Os sintomas foram de menor intensidade e duração sempre que o médico fazia uma abordagem positiva em relação ao diagnóstico e prognóstico. Mais importante ainda, numa época em que se valorizam os protocolos e cumprimento de metas, o estudo de Little e colaboradores demonstra que o modo como o médico presta os cuidados pode aumentar a eficácia dos tratamentos. Uma preocupação excessiva com o diagnóstico e terapêutica pode ocultar aspectos mais amplos acerca do que influencia o tratamento”.
Estas conclusões confirmam outra descoberta importante relatada por Little alguns anos antes (BMJ 2001; 323:908-911) – uma abordagem centrada no paciente, durante a consulta, que inclua uma atitude positiva em relação ao diagnóstico e prognóstico comunicados pelo médico, está associada a uma melhor evolução clínica, seja qual for a natureza da doença inicial.
Estes estudos reiteram aquilo que para muitos profissionais de saúde parece evidente – um relacionamento médico-paciente cuidadoso, positivo e compassivo é tão importante como um diagnóstico correcto e técnicas terapêuticas adequadas. A maneira como tratamos os doentes é tão importante como aquilo com que os tratamos.

01/03/10

MEIAS ELÁSTICAS NA DOENÇA VENOSA

A utilização de meias de contenção elástica é um dos esteios do tratamento da doença venosa crónica (e do edema linfático), desde que não haja contra-indicações como insuficiência arterial associada ou outras patologias.
 
Se a insuficiência for proximal, ou seja, se houver varizes tronculares na coxa ou insuficiência franca acima do joelho, detectada no ecodoppler, deverá ser prescrito collant ou um par de meias elásticas até à virilha. Se a insuficiência venosa for apenas distal, poderá ser suficiente a utilização de meias até ao joelho.
 
Quanto ao grau ou classe de compressão, receito com mais frequência meias elásticas de grau II, correspondentes a 23-32 mmHg. As de grau I (18-21 mmHg) estão indicadas para alívio sintomático (de dor ou sensação de peso nos membros inferiores) quando o ecodoppler não revela alterações hemodinâmicas significativas.
 
Na insuficiência venosa crónica com história de ulceração ou com edema, pigmentação cutânea ou outros sinais de estase venosa, bem como nas situações de trombose venosa profunda, idealmente deveriam ser prescritas meias de grau III (34-46 mmHg). No entanto, na minha experiência é preferível receitar-se inicialmente meias de grau II e, se houver boa adesão do doente, grau III ou IV (>49 mmHg) numa consulta posterior.
 
Existem várias marcas à venda mas apenas algumas apresentam fiabilidade (em termos de compressão) e durabilidade comprovadas, com diferentes cores e modelos à escolha. Se apresenta doença venosa ou linfática dos membros inferiores, o seu médico de Cirurgia Vascular saberá receitar-lhe as meias elásticas mais adequadas à sua situação clínica.
 
As chamadas “meias de descanso” apresentam um grau de compressão variável, situado entre 6 e 14 mmHg. São classificadas, de acordo com a espessura da linha, em 70 ou 140 deniers. As últimas são um pouco mais grossas mas não necessariamente mais compressivas. Embora seja melhor que os doentes com insuficiência venosa utilizem este tipo de meias do que nenhum, não são as que recomendo no tratamento da doença venosa estabelecida.