31/03/14

ASMA – UMA DOENÇA TRATÁVEL


Este artigo foi escrito pela minha estimada amiga e colega Dr.ª Adelina Amorim, especialista em Pneumologia.
 
A asma é uma doença inflamatória crónica que afeta os brônquios e que se caracteriza por episódios recorrentes de limitação da passagem de ar. Poderá ser alérgica ou não.
 
Quem afeta?
 
Calcula-se que a asma afeta cerca de 300 milhões de pessoas no mundo, sendo mais frequente nos países ocidentais, nas áreas urbanizadas.
A asma pode ocorrer em qualquer fase da vida, embora seja mais comum desenvolver-se na infância. Estima-se que em 30-50% das crianças os sintomas da asma desaparecem durante a puberdade mas é comum ressurgir na idade adulta. Até aos 14 anos a asma é quase duas vezes mais frequente nos rapazes mas na vida adulta as mulheres são mais afetadas.
 
Como se manifesta?

A doença manifesta-se principalmente por episódios de falta de ar e tosse, particularmente à noite ou no início da manhã. Pode também ser percetível  ao doente a presença de pieira (“gatinhos”, “chiadeira”) e sentir aperto ou sensação de peso no peito. Nem sempre estão presentes todas estas queixas, havendo casos, por exemplo, em que tosse seca persistente e com agravamento preferencial à noite pode ser uma manifestação de asma. O agravamento noturno tem sido atribuído a variações dos níveis de certas hormonas ao longo das 24 horas, bem como à redução durante a noite de mecanismos anti-inflamatórios do nosso organismo. Os sintomas podem melhorar espontaneamente ou através de medicação adequada.

As queixas referidas ocorrem também noutras doenças pulmonares, pelo que o diagnóstico final baseia-se na história clínica e também no resultado de alguns exames, sendo os mais importantes as provas funcionais respiratórias e os testes cutâneos e/ou sanguíneos de alergias.

A gravidade da asma é variável sendo classificada em 4 graus: intermitente e persistente ligeira, moderada ou grave. É importante que os doentes saibam que mesmo as formas mais leves podem associar-se a crises graves, potencialmente fatais.

Quais as causas e fatores de risco?

Muitos doentes ou pais se questionam sobre o porquê do aparecimento da asma. A verdade é que nem sempre a resposta que o médico dá é clara ou satisfatória e isto deve-se, em grande medida, ao facto de se tratar de uma doença multifatorial e com mecanismos subjacentes complexos e ainda não totalmente conhecidos.

 Os vários fatores que influenciam o risco de asma podem-se agrupar nos que causam a doença e nos que levam ao aparecimento dos sintomas, ou seja, ao desenvolvimento das crises de asma. De forma resumida a doença manifestar-se-á nas pessoas que têm um predisposição genética mas após exposição a fatores ambientais de risco. É, portanto, consequência de uma complexa interacção de múltiplos genes e o ambiente.

A obesidade tem sido apontada como factor de risco, sendo mais frequente e mais difícil de a controlar em doentes obesos.

Algumas características da alimentação dos países ocidentais também têm sido associadas ao risco de asma, tais como, o aumento do consumo de alimentos processados, de gorduras polinsaturadas n-6 (existente nas margarinas e óleo vegetal) e a diminuição do consumo de antioxidantes (contidos nas frutas e vegetais) e gorduras polinsaturadas n-3 (presente no óleo de peixe). Alguns dados apontam para que a amamentação materna tenha um papel protetor para o desenvolvimento de asma.

Certas profissões têm sido associadas ao risco de aparecimento de asma e, até à data, mais de 300 substâncias já foram identificadas. Como exemplo de algumas atividades de risco são o fabrico de detergentes, de conservas de peixe, os trabalhadores hospitalares, de serrações, de aviários, de silos de cereais, de refinarias, carpinteiros, padeiros, veterinários, estivadores, agricultores, esteticistas, etc.

Os sintomas podem surgir ou ser agravados  pelo exercício físico, poluição, condições climáticas, infeções víricas, exposição ao tabaco, stress emocional, riso e alergénios inalados.

A origem dos alergénios inalados pode ser o ambiente doméstico ou a natureza. No primeiro grupo incluem-se os ácaros como principal fonte, seguido dos animais domésticos, das baratas e dos fungos ou bolores. Dentro dos animais domésticos o gato é o mais importante, seguido do cão e por fim de outros animais de estimação como hamsters e coelhos. Os alergénios encontrados na natureza mais comuns são os pólens de árvores (mais na Primavera) e de ervas (mais na Primavera e Verão) .

Como tratar?

Para que um doente adira a um tratamento, em qualquer patologia, é importante que este entenda minimamente o que é a doença, qual o objetivo do tratamento e como deve tomar a medicação. Na asma esta verdade assume ainda uma maior importância, dado ter um comportamento muito variável ao longo do tempo e consequente necessidade de ajustes frequentes das doses e mesmo do tipo de fármacos. Quando o doente estabiliza tem tendência a reduzir ou mesmo parar a medicação, levando a recaídas frequentes.

Outro motivo que ressalta a importância do ensino relaciona-se com o facto de  grande parte da medicação ser administrada através de inaladores (comummente designados pelos doentes de “bombas”), cujo funcionamento correto exige um esclarecimento adequado.

Apesar de haver no mercado atualmente grande variedade de inaladores, eles podem ser agrupados nos de alívio, que correspondem a broncodilatadores e nos de efeito anti-inflamatório, de ação preventiva, sendo os corticóides os mais importantes.  

Há uma tendência dos doentes optarem pelo uso exclusivo dos broncodilatadores, uma vez que com estes sentem alívio imediato da falta de ar. Em doentes com sintomas intermitentes isto poderá ser suficiente mas em grande parte dos casos não é e se não for associado o corticóide inalado, ou outros fármacos de ação anti-inflamatória, dificilmente se consegue o controlo da doença.  Para contrariar esta tendência atualmente estão disponíveis inaladores que combinam ambos os fármacos. É muito importante que o doente siga estritamente o plano recomendado pelo seu médico assistente e compreenda bem para que servem e como funcionam os inaladores prescritos.

Nos doentes que também têm rinite, o que corresponde a 80% dos doentes com asma,  o tratamento nasal adequado contribui também para o controlo da asma.

Como prevenir?

Prevenir as crises de asma é o meio mais eficaz de controlar a doença. Para prevenir eficazmente é necessário em primeiro lugar identificar os fatores desencadeantes das exacerbações e aprender a evitá-los.

No caso de se tratar de asma alérgica, com  sintomas associados à exposição e comprovação através de testes adequados para o(s) alergénio(s) em causa, deverão ser cumpridas as medidas de evicção recomendadas.

Quando os acáros são o principal alergénio as medidas para os evitar centraliza-se particularmente nos cuidados de higiene da cama do doente, mas idealmente toda a casa deve ser alvo de cuidados especiais. Os lençóis e cobertores devem ser lavados semanalmente com água quente (>55ºC),  os colchões e almofadas devem ser protegidos com cobertas, deve-se evitar mobiliário revestido com tecido, as cortinas e peluches devem ser lavados frequentemente e é conveniente retirar tapetes, em particular dos quartos de dormir.

Se a causa forem alergénios animais, estes devem ser retirados de casa ou pelo menos devem ser mantidos fora dos quartos de dormir e devem ser lavados semanalmente.

No caso dos pólens deve-se fechar as portas e janelas de casa, ou do carro se em viagem, quando os valores atmosféricos destes alergénios forem mais elevados.

O número de esporos de fungos pode ser reduzido removendo ou limpando objetos bolorentos.

Quanto a medidas gerais, aplicáveis a qualquer asmático, consta o não fumar, evitar a exposição passiva ao fumo de tabaco, a exposição a fumo de lenha (churrascos/lareiras), sprays domésticos, manter a casa bem ventilada e com baixa humidade e fazer anualmente a vacina da gripe.
 
Dr.ª Adelina Amorim
Pneumologista no Centro Hospitalar de S. João, Porto, Portugal.

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