31/10/13

SERÁ ALERGIA?


O texto seguinte foi escrito pelo meu colega e amigo Dr. Filipe Silva, especialista em Pediatria do Desenvolvimento.

Nariz entupido, espirros, tosse, falta de ar, borbulhas... será alergia? Aprenda a reconhecer os sintomas.

Para a maioria, o contacto com o pó, pólenes, marisco e medicamentos não constitui um problema. Contudo, algumas pessoas tornam-se alérgicas a estas e outras substâncias, que se designam então como alergenos. Nestas situações, o sistema imunitário começa a reagir contra os alergenos e isso provoca inflamação. Dependendo do local onde se forma a  inflamação, podem existir diferentes sintomas.

A Rinite Alérgica é a manifestação de alergia mais frequente, afetando cerca de um quarto dos portugueses. Os sintomas incluem o nariz entupido, corrimento nasal, espirros frequentes e tosse. Estes sintomas também aparecem nas constipações, mas são mais persistentes quando existe alergia. A sensação de prurido (comichão) no nariz e na garganta são também muito frequentes na rinite alérgica. A rinite associa-se muitas vezes a Conjuntivite alérgica: olho vermelho, lacrimejo e prurido ocular intenso.

Na Asma, a inflamação alérgica diminui o diâmetro dos brônquios mais pequenos e torna-os mais reativos. Manifesta-se habitualmente por crises de dificuldade respiratória com tosse, sensação de falta de ar, aperto no peito e respiração ruidosa com sons que lembram o miar de gatos (os sibilos). Também pode originar tosse e falta de ar com o esforço físico (ao correr, por exemplo).

As manifestações de doença alérgica na pele podem ser a pele seca, o Eczema, a Urticária e outro tipo de exantemas (borbulhas). Contudo, nem todas as borbulhas ou mesmo urticárias são manifestações de alergia. Podem resultar apenas de infeções virais, principalmente nas crianças, desaparecendo passados alguns dias.

Ocasionalmente, podem suceder reações alérgicas graves e exuberantes - a Anafilaxia - que surgem de forma súbita pouco tempo depois da exposição ao alergeno. Podem envolver conjuntivite, angioedema (inchaço nos olhos, lábios, língua), tosse, falta de ar, urticária, dor abdominal, náuseas e vómitos, tensão baixa, desmaio, ou mesmo morte. As pessoas com estes sintomas devem ter assistência médica rápida para ser administrada adrenalina. Em alguns casos, devem passar a transportar consigo um dispositivo de administração de adrenalina para emergências deste tipo.

Alergia a quê?

Grande parte das substâncias que causam alergia são transportadas pelo ar (aeroalergenos) incluindo os ácaros do pó, pólenes, fungos, ervas, pelos, penas e escamas de animais, entre outros. O tipo de alergeno determina a altura do ano em que aparecem as queixas alérgicas. Muitas pessoas com alergia a pólenes passam pior na primavera, quando existe maior concentração deste alergeno no ar. Pelo contrário, as pessoas com alergia ao pó costumam ter mais queixas no outono e inverno, quando as casas estão menos arejadas, mais húmidas e com mais cobertores, que promovem a acumulação de ácaros.

As pessoas também se podem tornar alérgicas a alimentos. As alergias ao leite de vaca e ao ovo são as mais frequentes na infância. Mais tarde, surgem alergias a frutos como o kiwi, frutos secos como o amendoim, marisco, moluscos, entre outros.

As alergias a medicamentos também costumam ter manifestações cutâneas. No entanto, existem muitos falsos alarmes porque as alterações na pele são frequentes nas infeções mesmo sem alergia. Por isso, as suspeitas de alergia a medicamentos devem ser avaliadas num centro de imunoalergologia, de forma a não ficar toda a vida a evitar medicamentos desnecessariamente.

Posso saber ao que sou alérgico?

Pode e deve! Saber o que provoca alergia permite diminuir a exposição, que é uma das formas de controlar os sintomas. Em alguns casos, podem ser dadas vacinas específicas ou outras formas de indução de tolerância para diminuir a reação do organismo ao alergeno.

Existem testes cutâneos e laboratoriais que permitem identificar as alergias. Estes testes devem ser pedidos de forma racional, numa consulta médica, de acordo com as queixas. As ofertas de baterias de "testes a tudo" são um desperdício de sangue e de dinheiro que não é útil. É muito provável que algum teste venha positivo e isso, só por si, não significa que a pessoa seja alérgica.
É melhor prevenir

As pessoas com familiares próximos com alergias têm maior risco de as desenvolver. Por isso, é um bom princípio controlar a exposição aos alergenos mais frequentes, nomeadamente aos ácaros do pó.

Estes seres microscópicos, que se alimentam de restos de pele humana, gostam de ambientes quentes e húmidos acumulando-se em colchões, mantas de lã, almofadas de penas, tapetes, alcatifas, sofás, bonecos de peluche e mesmo nos livros.

Algumas medidas simples podem ajudar a diminuir os ácaros:
·         Arejar diariamente os quartos para diminuir a humidade
·         Expor ao ar e ao sol os colchões, edredons e almofadas
·         Lavar as roupas da cama, cortinados e tapetes, quando possível, a 60 graus, temperatura que destrói os ácaros
·         Substituir colchões antigos e/ou usar coberturas anti-alérgicas que retêm os ácaros
·         Aspirar colchões e tapetes com aspiradores com filtros HEPA
·         Não acumular bonecos de peluche no quarto, particularmente na cama
·         Quando existem muitos livros no quarto, devem estar guardados em estantes fechadas para acumularem menos pó

E nunca é de mais frisar a importância de diminuir a exposição a irritantes como o fumo do tabaco e a poluição, que contribuem para a inflamação das vias respiratórias e agravam os sintomas.

As alergias são muito frequentes, é certo. A boa notícia é que existem tratamentos eficazes que permitem controlar os sintomas e ter uma boa qualidade de vida. Se reconheceu aqui os seus sintomas, fale sobre isso com o seu médico assistente ou procure uma Consulta de Imunoalergologia.

Dr. Filipe Glória e Silva
dormirecrescer.blogspot.com

22/10/13

EFEITOS DO TABACO NO CORPO HUMANO

Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras. Na ligação seguinte, pode observar os efeitos devastadores do tabaco no corpo humano masculino e feminino. Trata-se de um projeto desenvolvido pela Cancer Society of Finland, denominado Tobacco Body.

21/10/13

NÃO FUMAR: UMA QUESTÃO DE BOM SENSO


O tabaco sob a forma de cigarros, charutos, cachimbo ou cigarrilhas, é causa de milhares de mortes prematuras no nosso País, seja por doenças cardiocerebrovasculares seja por cancros do pulmão, laringe, bexiga e vários outros.

Muitas crianças e muitos jovens são também consumidores de tabaco por causas sociais ou comportamentais, ou por falta de informação concreta, sobre os perigos reais para a sua saúde e a sua vida.

O número de fumadores passivos (aqueles que só respiram o fumo dos outros) cresce a par do número de fumadores.

Muitos fumadores querem deixar de fumar e não conseguem, outros não querem mesmo. Mas outros ainda não têm alternativa senão fumar o tabaco dos colegas de trabalho, ou dos familiares fumadores, e também sofrem doenças ou morrem por isso.

Aqui ficam algumas regras que se aplicam a todos:

1. O melhor de tudo é não começar a fumar. Se pensa que, “todos os meus colegas fumam”, seja diferente, seja original, não fume e tente que os seus amigos venham também a ser não fumadores, esclarecendo-os se porventura ainda ignoram os perigos para a sua saúde e a sua própria vida.

É imperioso que aos mais novos tudo seja explicado e discutido atempadamente (em vez de proibir) para que eles não nos acusem mais tarde de não lhes termos dado o conhecimento prévio dos terríveis malefícios e das dificuldades em parar!

2. Pense nas vantagens dos não fumadores: poupam dinheiro, têm um hálito mais fresco, menos rugas e menos constipações; têm mais tempo de vida; têm menos probabilidades de vir a ter cancro no pulmão, nos lábios, na laringe, orofaringe, esófago, pâncreas, bexiga, rim, etc. e também de vir a ter alguma ou algumas doenças cardiocerebrovasculares (acidente vascular cerebral, angina de peito, enfarte do miocárdio, insuficiência cardíaca, morte súbita e isquemia dos membros inferiores), doenças pulmonares como a bronquite crónica ou o enfisema, com grave insuficiência respiratória. A própria osteoporose é agravada pelo tabaco. E não menos importante é ainda a maior frequência de acidentes de estrada e de incêndios por causa do tabaco!

3. Não pense “o tio José sempre fumou e durou até aos 90 anos”. Isso é a exceção, a regra geral não é assim, o fumador (ou a fumadora) morre 10 anos mais cedo do que os que não fumam.  Pense se vale a pena arriscar e sofrer, de que maneira!

4. Nunca é tarde para deixar de fumar. Vale a pena, tem tudo a ganhar. Tente sozinho, ou com a ajuda dos que o amam, mas se não conseguir peça ajuda ao seu médico, ou tente encontrar outro fumador que queira também parar de fumar e entreajudem-se! É mais fácil, e são dois a ganhar!

5. Deixar de fumar é duro e difícil, e alguns recaem: poderá tentar parar várias vezes antes de conseguir parar de vez. Arranje a vontade e acredite que vai valer a pena o esforço: a sua força de vontade é a chave do sucesso.

6. Não espere por começar a sentir-se mal, ou que o médico e as doenças o obriguem. Pare, assim que tomar consciência do que é ser fumador. Se precisar de ajuda há também medicamentos vários para ajudar a cessar de fumar! Desde os substitutos da nicotina, pastilhas, adesivos, e outros que só o médico pode receitar.

7. Ao fumar, pense no mal que isso lhe faz, e pense no mal que isso faz aos outros, os que não fumam, mas que junto de si inalam também o seu fumo: companheira(o), filhos, parentes, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, etc. Esteja particularmente atento às crianças e às grávidas.

8. Se está grávida não fume, e convença o pai da criança a não fumar também: o pequeno ser que está dentro de si nem sequer se pode desviar do fumo que tanto mal lhe faz - é obrigado a fumar: fumador coercivo!

Aliás o que devem fazer ambos, é parar de fumar (e de beber) logo que planeiam ter um filho, para que os óvulos  e os espermatozóides sejam mais saudáveis!

9. Se é fumador passivo tenha a coragem de dizer ao seu mais próximo “Não fume por favor, porque isso me incomoda”. O seu direito à saúde e a respirar ar puro é muito importante e tem de ser respeitado – a liberdade dos outros acaba onde começam a nossa liberdade e os nossos direitos!

10. Comece a fazer valer os seus direitos: está a ajudar-se a si, e a ajudar outros fumadores passivos, e até ajuda os fumadores ativos (mesmo que eles o não reconheçam) porque fumarão menos.
 
E já agora ajude-os também a obter um lugar para fumar, quando já não aguentam mais!
 
Fonte: Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva (Prof. Fernando de Pádua)

14/10/13

POEMA DE LUÍS DE CAMÕES

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve) as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.

Luís Vaz de Camões (1524-1580)


10/10/13

WHEN THE DOCTOR WENT TO HOSPITAL


Partilho hoje o testemunho pungente da Drª. Mary Wren, médica de família no Reino Unido, que também esteve “do outro lado da bata”.

From the moment you walk in the door it’s as if something changes. You are now part of a surreal world of gowns, tubes, paper knickers and loss of control. Just 24 hours after working in the GP surgery myself, I am tied to a bed with several tubes coming out; pain, things being done to me, an out-of-reach buzzer for when I needed help.

Suddenly the topics of conversation are how full your catheter bag is, whether you’ve passed wind, how many vomits, what you have had done and why. No room for embarrassment here. With me are four very different women in the bay – all with their own stories, families, backgrounds, personalities, humour, houses and life outside the hospital. Yet it’s as if none of that counts any more. Now I was the day-one hysterectomy with a fever.

The staff were very busy and worked very hard. They often seemed stretched and stressed, but masked it well. So many bleeping machines, vomiting patients, pain-relief requests, blood pressure checks.

The funniest experience was the day one bed bath administered by a very efficient, very competent team who ‘went from top to bottom’ left me feeling I had been through a car wash…but grateful. Second funniest was the patient opposite coming over to me as I lay in bed, dropping her pyjamas and asking me if her scar looked all right…and she didn’t know I was a doctor.

So in the middle of all this activity, what I really noticed was that some people really cared and others didn’t. All did the job ok. But some didn’t look me in the eye, smile, squeeze my hand, or give time. I noticed the one nurse who asked the elderly lady next to me how her husband was getting on at home – it only took two minutes but made all the difference.

That hand squeeze, the compassionate look, acknowledgement of the person inside, two minutes to listen…it can make the patient feel good, peaceful, hopeful, valued, warm inside. The doctor who came and looked me in the eye and squeezed my hand as she told me all about what they found inside made me cry. Good crying. That was real, complete care of me the person, as well as my body.

I wonder how much difference that art of medicine, that soft immeasurable care, makes to the recovery of the person. I wonder if that hug or hand-squeeze would result in less pain relief being needed, less pressing of buzzers, patients getting home quicker.

The lady who showed me her scar told me how she had been too frightened to come into hospital for five years since her mum died there. She had a lot of pain post-op and was demanding to staff. I don’t think any of the staff knew why her pain was so bad. Maybe it was more emotional than physical pain, but how many staff would think to ask or choose to take apparently more time to just sit and probe a little? Isn’t it great if a person can go home not just with a physical op done but with an emotional wound healed as well.

Maybe if we focused on that bit more, the staff wouldn’t be so busy and the NHS (National Health Service) wouldn’t be so stretched.

Triple Helix 57, Summer 2013, p. 23.

09/10/13

ENSAIOS CLÍNICOS: O QUE SÃO?

Os cidadãos têm, atualmente, um papel cada vez mais ativo e decisivo na escolha dos cuidados e serviços de saúde. É de extrema importância que tenham oportunidade de aprofundar o seu conhecimento sobre as doenças, os meios de prevenção e os tratamentos disponíveis.
Os ensaios clínicos são estudos que permitem avaliar a segurança e a eficácia de um novo tratamento ou medicamento. Ao participar num ensaio clínico, poderá ajudar-se a si próprio e/ou a outras pessoas com a mesma doença a alcançar a cura ou a obter uma melhor qualidade de vida.
  
Fonte: Liga Portuguesa Contra o Cancro
  

07/10/13

IN MEMORIAM: EDMUND D. PELLEGRINO (1920-2013)


Edmund Daniel Pellegrino nasceu em Newark, no estado norte-americano de New Jersey, em 1920. Terminou a licenciatura em medicina em 1944, especializando-se em Medicina Interna. Interessou-se inicialmente pela investigação sobre fisiologia e patologia renal, publicando mais de 50 trabalhos científicos nesta área.

Na década de 80, assumiu a Direção do Kennedy Institute of Ethics, o primeiro centro universitário do mundo dedicado à Bioética, após o falecimento de Andre Hellegers, fundador e primeiro Diretor desta prestigiada instituição.

Reconhecido como um dos pioneiros da Bioética e um dos mais brilhantes e aclamados dos seus cultores, foi um dos maiores apologistas de uma ética das virtudes no exercício da medicina. Foi também um dos principais responsáveis pela introdução do ensino das Humanidades nas Faculdades de Medicina dos EUA.

Edmund Pellegrino foi autor, co-autor ou editor de 23 livros e escreveu mais de 600 artigos em revistas científicas. As suas obras mais conhecidas e com maior influência na área da Bioética são: Humanism and the Physician (University of Tennessee Press, 1979), A Philosophical Basis of Medical Practice (Oxford University Press, 1981), For the Patient’s Good: Toward the Restoration of Beneficence in Health Care (Oxford University Press, 1988), The Virtues in Medical Practice (Oxford University Press, 1993), The Christian Virtues in Medical Practice (Georgetown University Press, 1996) e Helping and Healing: Religious Commitment in Health Care (Georgetown University Press, 1997). Todos os livros, com exceção do primeiro, foram escritos em co-autoria com o filósofo dominicano David C. Thomasma, falecido em 2002, que durante vinte e cinco anos foi o seu principal colaborador.

Numa época marcada por uma profunda transformação dos cuidados de saúde, em que se verifica a preponderância de modelos de relação médico-doente como o comercial e o contratual, centrados na autonomia do paciente, mas que encaram a medicina como um negócio e uma profissão como qualquer outra, Pellegrino e Thomasma propuseram um modelo de beneficência fiduciária. Este modelo promove a confiança entre médico e paciente, essencial para que a relação clínica seja uma relação terapêutica, e minimiza a assimetria de poder do encontro clínico protegendo o doente, que se encontra habitualmente num estado de vulnerabilidade e dependência de natureza ontológica, devido à doença.

Entre muitos cargos e funções que o Prof. Pellegrino desempenhou, destacaria o facto de ter sido membro da Academia Pontifícia para a Vida desde a sua instituição em 1994 pelo Papa João Paulo II, bem como do Comité Internacional de Bioética da UNESCO, para o qual foi convidado em 2004.  Edmund Pellegrino integrou o comité responsável pela redação da Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos, adotada pela UNESCO no ano seguinte.  

Em 2005, com 85 anos de idade, foi nomeado para presidir ao Conselho Presidencial de Bioética dos EUA. A um jornalista espanhol que o interrogou se a sua idade não seria um obstáculo para o desempenho deste importantíssimo cargo, respondeu: «porque iria deixar de pensar a partir dos 85?». Sob a sua Direção neste Conselho, foram concluídos e apresentados os seguintes documentos: Human Dignity and Bioethics: Essays Commissioned by the President's Council on Bioethics, The Changing Moral Focus of Newborn Screening: An Ethical Analysis by the President's Council on Bioethics, e Controversies in the Determination of Death: A White Paper by the President's Council on Bioethics.

No decurso da sua longa carreira académica, Edmund Pellegrino foi um exemplo e fonte de inspiração para várias gerações de estudantes de medicina, salientando o valor da honestidade intelectual e da centralidade do estabelecimento de uma relação de confiança entre o médico e o doente no exercício da profissão. Muitos dos seus antigos alunos e colaboradores, de várias universidades de diferentes estados norte-americanos, contribuíram com textos para o livro The Health Care Professional as Friend and Healer: Building on the Work of Edmund D. Pellegrino, editado por David Thomasma e Judith Lee Kissell em 2000. No ensaio que escreveu para esta publicação, Courtney Campbell considera Pellegrino «uma voz profética para a profissão médica, procurando chamar a comunidade de volta aos compromissos morais fundamentais da sua vocação».

Numa entrevista que tive o privilégio de fazer ao Professor Pellegrino em 2011, perguntei-lhe o que considerava ser o aspeto mais preocupante na evolução da Bioética na atualidade. Na sua opinião, sempre que a Bioética deixar de procurar a sua fundamentação na Ética, que é um ramo da filosofia, e procurar estabelecer normas e doutrinas a partir da sociologia, da psicologia ou da política, estará mais permeável à influência de opiniões pessoais, políticas ou ideológicas. Essas disciplinas podem dar importantes contributos à reflexão ética e bioética mas não devem constituir a base da filosofia moral.

O Professor Pellegrino faleceu no passado dia 13 de Junho em Washington D. C., poucos dias antes de completar 93 anos. O seu legado será sempre uma referência obrigatória na história da Bioética norte-americana e mundial, e indispensável para todos os que quiserem refletir e aprofundar o seu pensamento bioético sobre a educação médica, a ética das virtudes, a relação médico-doente ou as humanidades na medicina.

Revista Portuguesa de Bioética 19:143-145, 2014.