A qualidade de vida é hoje um tema que concita grande
interesse dos investigadores sociais e de muitos outros, mas a sua ponderação
terá de respeitar sempre o valor primeiro e inviolável da própria vida. É
obviamente desejável assegurar a melhor qualidade de vida possível a todo o ser
humano. Porém, esta preocupação legítima pode levar, e tem levado, a um desvio
ético que põe em causa o respeito pela vida humana, denominador comum a todas
as culturas, aliás consagrado na Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Como assinala Ciccone, a teoria da qualidade de vida já levou muitos à iníqua
distinção entre vida com valor e vida sem valor, numa distorcida visão
antropológica em que “a vida só goza de valor se estiver na posse, ou puder
recuperar, certas condições de eficiência, de produtividade e de bem-estar: sem
essas condições, a vida apresentar-se-ia carecida de sentido e de valor”.
A qualidade de vida pode ser afetada por fatores de
vária ordem: a saúde, as condições económicas, etc. Mas, se para a satisfação
pessoal conta, obviamente, o modo como cada um encara as eventuais limitações
verificadas nesses campos, não pesam menos as relações interpessoais, a
manutenção de interesses, a convicção de que ainda se é útil e, de um modo
geral, as emoções positivas. Afinal, mais do que a situação de doença e as suas
limitações, são outros os fatores que fazem toda a diferença. A velhice,
envolvida numa boa rede de relações interpessoais e alimentada com pensamentos
positivos, é afinal um período que será vivido como uma fase bem agradável do
nosso percurso de vida.
Prof. Doutor Henrique Vilaça
Ramos
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