17/03/14

QUALIDADE DE VIDA E VALOR DA VIDA


A qualidade de vida é hoje um tema que concita grande interesse dos investigadores sociais e de muitos outros, mas a sua ponderação terá de respeitar sempre o valor primeiro e inviolável da própria vida. É obviamente desejável assegurar a melhor qualidade de vida possível a todo o ser humano. Porém, esta preocupação legítima pode levar, e tem levado, a um desvio ético que põe em causa o respeito pela vida humana, denominador comum a todas as culturas, aliás consagrado na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Como assinala Ciccone, a teoria da qualidade de vida já levou muitos à iníqua distinção entre vida com valor e vida sem valor, numa distorcida visão antropológica em que “a vida só goza de valor se estiver na posse, ou puder recuperar, certas condições de eficiência, de produtividade e de bem-estar: sem essas condições, a vida apresentar-se-ia carecida de sentido e de valor”.
  
A qualidade de vida pode ser afetada por fatores de vária ordem: a saúde, as condições económicas, etc. Mas, se para a satisfação pessoal conta, obviamente, o modo como cada um encara as eventuais limitações verificadas nesses campos, não pesam menos as relações interpessoais, a manutenção de interesses, a convicção de que ainda se é útil e, de um modo geral, as emoções positivas. Afinal, mais do que a situação de doença e as suas limitações, são outros os fatores que fazem toda a diferença. A velhice, envolvida numa boa rede de relações interpessoais e alimentada com pensamentos positivos, é afinal um período que será vivido como uma fase bem agradável do nosso percurso de vida.

Prof. Doutor Henrique Vilaça Ramos

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