Este artigo foi escrito pela minha estimada amiga e colega Dr.ª Adelina Amorim, especialista em Pneumologia.
A asma é uma doença inflamatória
crónica que afeta os brônquios e que se caracteriza por episódios recorrentes
de limitação da passagem de ar. Poderá ser alérgica ou não.
Quem afeta?
Calcula-se que a asma afeta
cerca de 300 milhões de pessoas no mundo, sendo mais frequente nos países
ocidentais, nas áreas urbanizadas.
A asma pode ocorrer em qualquer
fase da vida, embora seja mais comum desenvolver-se na infância. Estima-se que
em 30-50% das crianças os sintomas da asma desaparecem durante a puberdade mas
é comum ressurgir na idade adulta. Até aos 14 anos a asma é quase duas vezes
mais frequente nos rapazes mas na vida adulta as mulheres são mais afetadas.
Como se manifesta?
A doença manifesta-se principalmente
por episódios de falta de ar e tosse, particularmente à noite ou no início da
manhã. Pode também ser percetível ao
doente a presença de pieira (“gatinhos”, “chiadeira”) e sentir aperto ou
sensação de peso no peito. Nem sempre estão presentes todas estas queixas,
havendo casos, por exemplo, em que tosse seca persistente e com agravamento
preferencial à noite pode ser uma manifestação de asma. O agravamento noturno
tem sido atribuído a variações dos níveis de certas hormonas ao longo das 24
horas, bem como à redução durante a noite de mecanismos anti-inflamatórios do
nosso organismo. Os sintomas podem melhorar espontaneamente ou através de
medicação adequada.
As queixas referidas ocorrem
também noutras doenças pulmonares, pelo que o diagnóstico final baseia-se na
história clínica e também no resultado de alguns exames, sendo os mais
importantes as provas funcionais respiratórias e os testes cutâneos e/ou
sanguíneos de alergias.
A gravidade da asma é variável
sendo classificada em 4 graus: intermitente e persistente ligeira, moderada ou
grave. É importante que os doentes saibam que mesmo as formas mais leves podem
associar-se a crises graves, potencialmente fatais.
Quais as causas e fatores de risco?
Muitos doentes ou pais se questionam
sobre o porquê do aparecimento da asma. A verdade é que nem sempre a resposta
que o médico dá é clara ou satisfatória e isto deve-se, em grande medida, ao
facto de se tratar de uma doença multifatorial e com mecanismos subjacentes
complexos e ainda não totalmente conhecidos.
Os vários fatores que influenciam o risco de
asma podem-se agrupar nos que causam a doença e nos que levam ao aparecimento
dos sintomas, ou seja, ao desenvolvimento das crises de asma. De forma resumida
a doença manifestar-se-á nas pessoas que têm um predisposição genética mas após
exposição a fatores ambientais de risco. É, portanto, consequência de uma
complexa interacção de múltiplos genes e o ambiente.
A obesidade tem sido apontada
como factor de risco, sendo mais frequente e mais difícil de a controlar em
doentes obesos.
Algumas características da
alimentação dos países ocidentais também têm sido associadas ao risco de asma,
tais como, o aumento do consumo de alimentos processados, de gorduras
polinsaturadas n-6 (existente nas margarinas e óleo vegetal) e a diminuição do
consumo de antioxidantes (contidos nas frutas e vegetais) e gorduras
polinsaturadas n-3 (presente no óleo de peixe). Alguns dados apontam para que a
amamentação materna tenha um papel protetor para o desenvolvimento de asma.
Certas profissões têm sido associadas
ao risco de aparecimento de asma e, até à data, mais de 300 substâncias já
foram identificadas. Como exemplo de algumas atividades de risco são o fabrico
de detergentes, de conservas de peixe, os trabalhadores hospitalares, de
serrações, de aviários, de silos de cereais, de refinarias, carpinteiros,
padeiros, veterinários, estivadores, agricultores, esteticistas, etc.
Os sintomas podem surgir ou ser
agravados pelo exercício físico,
poluição, condições climáticas, infeções víricas, exposição ao tabaco, stress
emocional, riso e alergénios inalados.
A origem dos alergénios inalados pode
ser o ambiente doméstico ou a natureza. No primeiro grupo incluem-se os ácaros
como principal fonte, seguido dos animais domésticos, das baratas e dos fungos
ou bolores. Dentro dos animais domésticos o gato é o mais importante, seguido
do cão e por fim de outros animais de estimação como hamsters e coelhos. Os
alergénios encontrados na natureza mais comuns são os pólens de árvores (mais
na Primavera) e de ervas (mais na Primavera e Verão) .
Como tratar?
Para que um doente adira a um
tratamento, em qualquer patologia, é importante que este entenda minimamente o
que é a doença, qual o objetivo do tratamento e como deve tomar a medicação.
Na asma esta verdade assume ainda uma maior importância, dado ter um
comportamento muito variável ao longo do tempo e consequente necessidade de
ajustes frequentes das doses e mesmo do tipo de fármacos. Quando o doente estabiliza
tem tendência a reduzir ou mesmo parar a medicação, levando a recaídas
frequentes.
Outro motivo que ressalta a
importância do ensino relaciona-se com o facto de grande parte da medicação ser administrada
através de inaladores (comummente designados pelos doentes de “bombas”), cujo
funcionamento correto exige um esclarecimento adequado.
Apesar de haver no mercado
atualmente grande variedade de inaladores, eles podem ser agrupados nos de
alívio, que correspondem a broncodilatadores e nos de efeito anti-inflamatório,
de ação preventiva, sendo os corticóides os mais importantes.
Há uma tendência dos doentes
optarem pelo uso exclusivo dos broncodilatadores, uma vez que com estes sentem
alívio imediato da falta de ar. Em doentes com sintomas intermitentes isto
poderá ser suficiente mas em grande parte dos casos não é e se não for
associado o corticóide inalado, ou outros fármacos de ação anti-inflamatória, dificilmente
se consegue o controlo da doença. Para
contrariar esta tendência atualmente estão disponíveis inaladores que combinam ambos
os fármacos. É muito importante que o doente siga estritamente o plano
recomendado pelo seu médico assistente e compreenda bem para que servem e como
funcionam os inaladores prescritos.
Nos doentes que também têm
rinite, o que corresponde a 80% dos doentes com asma, o tratamento nasal adequado contribui também
para o controlo da asma.
Como prevenir?
Prevenir as crises de asma é o
meio mais eficaz de controlar a doença. Para prevenir eficazmente é necessário
em primeiro lugar identificar os fatores desencadeantes das exacerbações e
aprender a evitá-los.
No caso de se tratar de asma
alérgica, com sintomas associados à
exposição e comprovação através de testes adequados para o(s) alergénio(s) em
causa, deverão ser cumpridas as medidas de evicção recomendadas.
Quando os acáros são o principal
alergénio as medidas para os evitar centraliza-se particularmente nos cuidados
de higiene da cama do doente, mas idealmente toda a casa deve ser alvo de
cuidados especiais. Os lençóis e cobertores devem ser lavados semanalmente com
água quente (>55ºC), os colchões e
almofadas devem ser protegidos com cobertas, deve-se evitar mobiliário
revestido com tecido, as cortinas e peluches devem ser lavados frequentemente e
é conveniente retirar tapetes, em particular dos quartos de dormir.
Se a causa forem alergénios
animais, estes devem ser retirados de casa ou pelo menos devem ser mantidos
fora dos quartos de dormir e devem ser lavados semanalmente.
No caso dos pólens deve-se fechar
as portas e janelas de casa, ou do carro se em viagem, quando os valores
atmosféricos destes alergénios forem mais elevados.
O número de esporos de fungos
pode ser reduzido removendo ou limpando objetos bolorentos.
Quanto a medidas gerais,
aplicáveis a qualquer asmático, consta o não fumar, evitar a exposição passiva
ao fumo de tabaco, a exposição a fumo de lenha (churrascos/lareiras), sprays
domésticos, manter a casa bem ventilada e com baixa humidade e fazer anualmente
a vacina da gripe.
Dr.ª Adelina Amorim
Pneumologista no Centro Hospitalar de S. João, Porto, Portugal.