25/01/10

ESTADO VEGETATIVO PERSISTENTE

O estado vegetativo persistente (EVP) é uma entidade clínica que resulta, normalmente, de um episódio de interrupção temporária do fluxo sanguíneo cerebral, por exemplo durante uma paragem cardíaca seguida de reanimação bem sucedida, mas que acarreta uma destruição extensa do córtex cerebral, ficando o tronco cerebral relativamente preservado. Pode também ser consequência de uma doença neurológica, degenerativa ou metabólica, que afecte gravemente o cérebro. Nestas situações, a actividade cardiovascular e os reflexos neurológicos dependentes do tronco cerebral estão presentes, o que inviabiliza o diagnóstico de morte cerebral.
Os doentes em estado vegetativo têm padrões relativamente normais de vigília e de sono, podem abrir os olhos, respirar e deglutir espontaneamente e inclusive ter reacções de sobressalto perante ruídos intensos, mas perderam de forma temporária ou permanente a capacidade de pensarem e de agirem conscientemente. A maioria têm reflexos anormalmente exagerados, bem como rigidez e movimentos espásticos dos membros. Pode também ser registada actividade eléctrica no electroencefalograma
Apesar da gravidade dos casos de EVP, muitos doentes podem efectuar movimentos descoordenados dos membros e ocasionalmente podem sorrir, chorar ou mesmo gritar. Contudo, aparentemente não existe qualquer reconhecimento psicológico por detrás destas actividades motoras.
Um dos aspectos mais notórios do EVP é a incapacidade destes doentes se alimentarem por si próprios. Embora alguns apresentem o reflexo de deglutição, se lhes forem colocadas substâncias sólidas ou líquidas na boca, a tentativa de alimentá-los deste modo seria extremamente morosa e arriscada, pelo perigo de poder ocasionar pneumonia de aspiração. Por esta razão, os doentes em EVP são habitualmente alimentados através de sondas nasogástricas ou de gastrostomia, estas últimas inseridas através da parede abdominal.
Alguns doentes podem viver décadas em EVP, desde que lhes sejam facultados alimentação, hidratação e cuidados de higiene adequados, apresentando uma esperança de vida idêntica à da população em geral. Por vezes os pacientes recuperam do EVP, apesar de se tratar de um acontecimento raro. Outras vezes, como provavelmente se verificou no caso relatado neste artigo, o diagnóstico de EVP teria sido incorrectamente formulado.
Embora seja evidente que os doentes em EVP não preenchem os critérios que permitem diagnosticar a morte, há quem defenda a eticidade de se retirarem as sondas nasogástricas ou de gastrostomia, consideradas um tratamento médico inútil e inadequado, de modo a que lhes sobrevenha a morte por inanição, tal como se verificou com Anthony Bland no Reino Unido, em 1993, ou com Terri Schiavo nos EUA, em 2005.
Na minha opinião, ainda que possa ser questionada a utilização de medidas terapêuticas extraordinárias, como a antibioterapia ou a reanimação cardio-respiratória, em situações de mau prognóstico, discordo que os cuidados básicos de higiene, hidratação e nutrição sejam interrompidos em doentes em EVP clinicamente estáveis. Por um lado, porque não estão mortos. Por outro lado, porque há sempre a possibilidade e esperança, ainda que remota, da sua recuperação.

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