O Cristianismo é, para mim, a
explicação mais completa e satisfatória para as cinco perguntas mais
importantes da vida: de onde viemos?, quem somos?, por que estamos aqui?, como
devemos viver?, para onde vamos?
31/07/14
29/07/14
O ENSINO DAS HUMANIDADES NAS ESCOLAS MÉDICAS
Segundo Edmund Pellegrino, as
competências que devem constar dos programas de estudos humanísticos, na
formação médica pré-graduada, incluem a capacidade de reflexão crítica, a
capacidade de ouvir e ler de forma inteligente, a capacidade de tomar decisões
éticas, a capacidade de apreciar a arte, bem como a capacidade de compreender a
História. Defende que o ensino das humanidades liberta a mente e a imaginação,
estimula a criatividade e proporciona uma melhor apreciação da complexidade da
condição humana. Promove ainda o desenvolvimento das qualidades associadas a
uma educação liberal, designadamente “a capacidade de demanda da verdade, de se
compreenderem os valores dos outros e deste modo avaliar os próprios, de se
conceber uma resposta para os problemas da existência, e de comunicar de forma
clara e persuasiva”.
As disciplinas que poderão
integrar o curriculum das humanidades, pela sua capacidade de enriquecimento do
espírito humano, são a filosofia, a história da medicina, a literatura, a
antropologia, a psicologia, a sociologia, a arte, a teologia, o direito e,
naturalmente, a bioética.
Os objetivos desta formação,
aplicada à medicina, incluem a discussão sobre atitudes e virtudes do médico na
sua atividade profissional; a reflexão crítica acerca do papel do médico na
relação com o paciente e na sociedade contemporânea; a comunicação com o
paciente, a família e a sociedade; a apreciação do contexto sociocultural da
doença; a temática da humanização dos cuidados de saúde; bem como a exposição a
obras clássicas da literatura que promovam a reflexão sobre o exercício da
medicina, a relação médico-paciente, o sofrimento e a morte. Pellegrino considera
que a literatura tem provado ser uma forma eficaz de ensinar o cuidado e
compaixão pelos pacientes, pelos que sofrem e pelos que estão a morrer.
Nos Estados Unidos, os programas
mais bem sucedidos incluem uma disciplina de “Introdução às Humanidades” no
primeiro ano do curso médico, disciplinas específicas nos anos do ciclo
clínico, algumas delas opcionais, de acordo com os interesses dos alunos, assim
como a realização de seminários e aulas teóricas acompanhadas de discussão em
pequenos grupos. Para além de um ensino mais formal, tendo em conta os
objetivos enunciados, pretende-se que os estudantes tenham a oportunidade de
refletir, de modo crítico e construtivo, acerca da abordagem de casos clínicos
e dilemas éticos específicos encontrados na prática clínica.
Pellegrino adverte, porém, que os
casos clínicos devem ser bem selecionados, as questões que levantam devem ser
claramente definidas, e devem ser acompanhados de leituras complementares, para
melhor compreensão do problema. Este autor pretende que a formação humanística
tenha uma aplicação prática na atividade clínica quotidiana e que o ponto de
partida para a reflexão seja sempre “um ser humano real enfrentando um problema
real envolvendo valores, expectativas e preferências”. Lamenta que, por vezes,
a inclusão de disciplinas da área das humanidades nos curricula dos estudantes
de medicina represente mais uma sobrecarga de conhecimentos e informações que
têm de dominar em vez de facultarem o espaço e oportunidade de reflexão
subjacente ao espírito da educação liberal. Porém, um dos sinais promissores da
utilidade e relevância do ensino das humanidades nos cursos de medicina é o
número crescente de estudantes dos EUA que, após a licenciatura, realizam
cursos de formação pós-graduada em bioética e áreas afins.
O filósofo espanhol contemporâneo
Fernando Savater defende que, mais importante que a escolha das disciplinas
humanísticas que se incluam no plano de estudos, é o modo como são ensinadas.
Considera lamentável que por vezes o ensino de línguas ou da própria filosofia
seja transmitido de uma forma monótona, desinteressante e normativa, cerceando
o prazer da descoberta, o estímulo intelectual e o debate de ideias. Pior
ainda, pode levar a uma aversão dos estudantes por estas disciplinas, que é
precisamente o oposto do que se pretende com a introdução a estas áreas do
saber. Salienta que “o professor que quer ensinar uma disciplina tem que
começar por suscitar [nos alunos] o desejo de aprendê-la”.
Infelizmente em Portugal, à
semelhança de muitos outros países, os curricula da formação pré-graduada da
maior parte das escolas médicas, seguindo um modelo científico-positivista,
valorizam principalmente a aquisição de conhecimentos e competências técnicas,
em detrimento de uma formação clássica sólida em estudos humanísticos. Acresce
o facto de o ensino secundário separar relativamente cedo, no 10.º ano de
escolaridade, as disciplinas da área de ciências das humanidades, geralmente
consideradas o parente pobre do ensino secundário, e para o cálculo da média
final de acesso ao curso de medicina as classificações obtidas nos exames
nacionais a três disciplinas, todas elas da área de ciências, terem um papel
determinante.
Segundo Sir David Weatherall, o
sistema de ensino britânico padece do mesmo mal: “Os jovens, se desejam ser
médicos, têm de se distinguir em ciências no ensino secundário a partir dos
quinze anos, depois passam cinco ou seis anos tentando dominar os programas
curriculares sobrecarregados das escolas médicas, após o que são atirados para
a linha da frente da agitada vivência hospitalar moderna. Não admira que nunca
tenham tempo para aprender o suficiente sobre o mundo para serem capazes de
refletirem acerca dos problemas multifacetados das pessoas doentes”.
Tem-se assistido também, nos
últimos anos, a uma valorização crescente da componente técnica e científica de
outras disciplinas da área da saúde, nomeadamente a enfermagem. Por outro lado,
na opinião de Pellegrino, as ciências sociais e humanas como a psicologia e a
sociologia, apesar de importantes, não substituem outras áreas das humanidades
que deveriam integrar os programas curriculares do ensino médico. Na sua
procura de objetividade, têm-se tornado estudos especializados em que o recurso
à estatística e metodologias científicas se sobrepõem à reflexão sobre as
dimensões psíquicas e sociais da pessoa humana.
Há todavia sinais de esperança.
Em Portugal, no curso de medicina da Escola de Ciências da Saúde da
Universidade do Minho existe uma área curricular, em todos os anos do curso,
designada por “Domínios Verticais”, que inclui a antropologia, a filosofia, a
história da medicina, a literatura e a arte, bem como os designados “Casos do
Mês” que consistem na seleção, pelos alunos, de situações da atualidade local,
nacional ou internacional que mereçam reflexão; “Uma Pessoa Confessa-se”, que
consiste no diálogo vivo e presencial com personalidades públicas de
reconhecido mérito, e “Manta de Retalhos”, que são apresentações pelos alunos
de obras literárias e artísticas por eles escolhidas ou da sua autoria.
Parece-nos que esta abordagem
traduz uma melhor integração e articulação das humanidades com a vivência
clínica durante a formação médica pré-graduada. Trata-se de uma filosofia
distinta de outros modelos em que o ensino das humanidades, quando existe, é pontual,
muitas vezes opcional e desarticulado dos restantes conteúdos curriculares,
como uma espécie de contrapeso para compensar o paradigma científico dominante.
Para Pellegrino, a sociedade
atual necessita de médicos que, “além de serem tecnicamente competentes, sejam
compassivos e instruídos, que possam entender como o seu trabalho se relaciona
com a cultura de que fazem parte, e que possam lidar com empatia com outros
seres humanos em sofrimento”, mas reconhece que “todos estes atributos
raramente se encontram numa só pessoa. Um modelo de formação, mesmo baseado em
estudos humanísticos, não pode garantir todos”.
Em nossa opinião, devemos ter em
conta as recomendações de Edmund Pellegrino e outros autores sobre a
necessidade de se valorizar o ensino das humanidades nos cursos de medicina,
pois como refere também João Lobo Antunes, “percebi há muito que a medicina tem
um travo diferente quando é praticada por médicos cultos, não só porque apreendem
mais facilmente a complexidade do que é estar doente […] mas também porque
desenvolvem aptidões como empatia, curiosidade, sentido de humor, imaginação,
disponibilidade, que lhes permitem saborear melhor a profissão que abraçaram”.
Jorge Cruz. Bioética e
Humanidades Médicas: Uma abordagem a partir de Edmund Pellegrino. Mirabilia Medicinae 2:38-48, 2014.
28/07/14
BIOÉTICA E HUMANIDADES MÉDICAS
Nos séculos XVII e XVIII, verificou-se uma divisão radical
entre as ciências e as humanidades, por influência do Iluminismo. Esta cisão
teve profundas repercussões em vários domínios, sendo responsável pela
implementação da racionalidade científica como paradigma dominante. A medicina
passou a ser encarada como uma ciência pelo mundo académico, obtendo o mesmo
estatuto que a física, a química ou a biologia, o que contribuiu para os
enormes êxitos alcançados no conhecimento da etiopatogenia das doenças e seu
tratamento, bem como para o desenvolvimento da farmacologia, da genética e de
muitas outras áreas de especialização.
Contudo, passou a valorizar-se um modelo biomédico ou
biomecânico no ensino e prática da medicina, em detrimento de uma conceção
holística, antropológica ou biopsicossocial da pessoa doente, que só nas
últimas décadas tem vindo a ser novamente apreciada. O médico e bioeticista
Walter Osswald partilha desta opinião: “A partir do iluminismo e da aceitação
da ciência como esperança de salvação, as coisas modificaram-se: a medicina
rejeitou a sua componente de arte para se declarar ciência, dura e pura,
exibindo desvanecidamente as suas descobertas e progressos e prometendo a
resolução, para breve, das imensas áreas de desconhecimento que maculam o mapa
das suas conquistas”.
O modelo biomédico, que tem sido o mais divulgado e
dominante na sociedade contemporânea, está focalizado na doença, enquanto que o
antropológico, como o próprio nome indica, se encontra centrado na pessoa
doente. Segundo o grande bioeticista Edmund Pellegrino, tendo em conta as
quatro dimensões geralmente envolvidas numa relação médico-paciente (biológica,
psicológica, social e espiritual), qualquer modelo que apenas tenha em
consideração uma delas será sempre insuficiente e redutor. Nas suas palavras,
“a limitação empírica mais grave do modelo biomédico é ser unidimensional,
negar a complexidade da experiência de estar doente e, portanto, a complexidade
que envolve o tratamento e cuidado dos pacientes”.
No encontro clínico as circunstâncias não são reprodutíveis,
nem sequer para o mesmo paciente, noutra ocasião. Ao contrário da ciência, que
através do método científico procura conhecimentos baseados na observação
sistemática e controlada, que se forem reprodutíveis se poderão generalizar, a
medicina é, na sua essência, a ciência do caso particular. Por esse motivo,
terá de ser necessariamente humanista, até porque, muitas vezes, o elemento mais
importante na relação assistencial não tem caráter científico. Caso contrário,
não se estará a exercer verdadeira medicina, mas uma amálgama de técnicas,
ciência e psicologia.
Edmund Pellegrino, na esteira do pensador romano do século
II d.C. Aulus Gellius, identifica dois conceitos distintos de humanismo na
medicina. Por um lado, a noção derivada da palavra latina humanitas ou do vocábulo grego paideia,
que significava o ensino e a formação em humanidades e que podemos designar de
componente educacional; por outro lado, o sentido de compaixão ou filantropia
nas relações humanas e em particular no encontro médico-paciente, que podemos
denominar de componente relacional. Na sua opinião, as duas vertentes são
necessárias na prática clínica.
Na conceção de Pellegrino, o humanismo caracteriza-se pela
preocupação genuína pela centralidade da pessoa humana em cada aspeto da
atividade profissional, o que se traduz no respeito pela sua liberdade,
dignidade e sistema de valores, numa demonstração de cuidado e interesse pelo
seu bem-estar. O seu conceito de humanismo não se restringe assim a um ideal
educacional ou literário, nem está dependente de uma formação clássica nas
humanidades. Segundo Patrão Neves, a própria bioética é um movimento de
expressão humanista porque pretende contribuir “para a preservação e promoção
do humano”.
De uma maneira geral, a referência ao humanismo ou
humanização, no contexto da saúde, está relacionada com a necessidade sentida
de que os médicos e outros profissionais tenham um interesse sincero pelos
pacientes como pessoas. Sir William Osler (1849-1919), um dos fundadores do
Hospital Johns Hopkins, em Baltimore, pretendendo destacar a importância deste
aspeto na relação clínica, referia que “é mais importante conhecer o doente que
tem a doença do que conhecer a doença que o doente tem”.
A primeira obra de Edmund Pellegrino Humanism and the Physician, editada em 1979, procura precisamente
chamar a atenção para a relevância e utilidade das humanidades para o exercício
da medicina. Em sua opinião, é fundamental o recurso às humanidades para se
compreenderem melhor as questões éticas e os valores envolvidos em muitas
decisões clínicas, para poder fazer uma autoanálise crítica da prática da
profissão, e porque são elas que conferem as atitudes e competências que
distinguem um médico culto de um simples executor de um conjunto de técnicas e
procedimentos. Considera que um relacionamento verdadeiramente humanista entre
o médico e o paciente permite que cada um expresse o mais possível a sua
humanidade. Defende que um médico culto está mais bem habilitado do que outro
que apenas tenha desenvolvido competências técnicas e científicas, para atender
às várias dimensões do ato médico, que quase sempre envolvem fatores sociais e
mentais para além da componente física ou biológica.
Pellegrino salienta que um médico culto se distingue dos
seus pares pela sua capacidade de pensar de forma crítica e inteligente fora do
âmbito estrito da medicina e sugere que uma das formas mais eficazes dos
médicos evitarem a rotina, o tédio e o desânimo na sua atividade profissional é
através do estudo sistemático de pelo menos uma das humanidades ao longo da vida.
Concorda com a proposta do filósofo estadunidense Albert William Levi, que
dividiu as humanidades em três áreas principais, designadamente a comunicação
(linguagem e literatura), a continuidade (história) e a crítica ou reflexão
(filosofia).
As humanidades ajudam a refletir criticamente sobre as
decisões clínicas, que envolvem quase sempre aspetos éticos, e o impacto que
podem ter na vida dos doentes. Facultam ao médico instrumentos que lhe permitem
fazer uma autoanálise séria e honesta sobre as decisões tomadas, tendo em vista
o aperfeiçoamento da sua prática profissional, evitando o conformismo e a
repetição de erros evitáveis.
A medicina tem claramente um componente científico, na
medida em que utiliza metodologia das ciências na prossecução dos seus fins,
mas tem igualmente um componente humanístico, que valoriza todas as dimensões
da vida humana. Conforme refere Sgreccia, os valores éticos integram a cultura
humanística, os factos biológicos associam-se à cultura científica. Para
Pellegrino, a medicina é a mais humanista das ciências e a mais científica das
humanidades. Nas suas palavras, “a medicina é uma ciência humanista, uma vez
que tem de examinar o ser humano simultaneamente como pessoa e objeto de
estudo.
Por um lado, para compreender o ser humano como objeto de
estudo utiliza uma linguagem objetiva, factual e científica e o método das
ciências, "expurgando" necessariamente todo o mito; por outro lado,
para compreender o ser humano como pessoa, deve ter em conta todos os aspetos
subjetivos, imaginários, intencionais, autoconscientes e mitológicos”. Ao longo
dos séculos, muitos foram os clínicos que se dedicaram às artes ou sentiram a
necessidade de complementar a sua formação científica pelo estudo das
humanidades.
Van Rensselaer Potter sugeriu que a bioética poderia ser a
ponte epistemológica entre as duas culturas mencionadas pelo físico e escritor
inglês C. P. Snow (1905-1980), devido à sua natureza transdisciplinar, que
abrange as ciências e as humanidades, bem como à sua perspectiva ecológica ou
global, não se restringindo ao âmbito das ciências da saúde. Edmund Pellegrino
considera ser a medicina a disciplina que reúne as melhores condições para ser
o elo de ligação entre a cultura científica e a humanística. Também para o
neurocirurgião João Lobo Antunes, “a tese de Snow continua a suscitar
controvérsia e alguma irritação, mas agrada-me por entender eu que a medicina,
filha de mãe jovem, a biologia, e pai idoso, a filosofia […] é, por excelência,
a cultura que harmoniza as outras duas, tão antipaticamente dissonantes”.
Esta perspectiva parece-nos mais realista, pois, ao
contrário da medicina, a bioética não surgiu no contexto das ciências humanas,
mas das ciências médicas. Além disso, não se pode falar com propriedade de um
único modelo de bioética, mas de vários, desde uma perspectiva mais restrita de
uma ética dos cuidados de saúde a uma mais ampla de bioética ambiental, e tendo
em conta os vários desenvolvimentos desta nova área do saber humano nos
diferentes contextos geográficos e culturais do globo.
Jorge Cruz. Bioética e
Humanidades Médicas: Uma abordagem a partir de Edmund Pellegrino. Mirabilia Medicinae 2:38-48, 2014.
23/07/14
MATERNIDADE DE SUBSTITUIÇÃO: PROBLEMAS ÉTICOS
O debate em torno da maternidade
de substituição, em que embriões resultantes de fecundação in vitro são implantados no útero de uma mulher externa ao casal,
tem suscitado grande controvérsia.
Na opinião do Prof. Pinto Machado
e outros eticistas, “a maternidade de substituição não é eticamente
admissível”, “porque instrumentaliza a gravidez, que passa a ter sentido
comercial, e porque coarta radicalmente os laços íntimos de comunicação entre a
gestante e o feto”.
J.
Pinto Machado. Problemas éticos relativos à reprodução / procriação medicamente
assistida. In Archer L, Biscaia J, Osswald, Renaud M (Coord). Novos Desafios à
Bioética. Porto Editora, 2001, pp. 98-109.
21/07/14
PROTEGER OS OLHOS DA LUZ SOLAR
Com a chegada do verão e o
aumento dos índices de raios ultravioleta (UV), a Sociedade Portuguesa de
Oftalmologia deixa o alerta: é fundamental proteger devidamente os olhos da luz
solar, que está na origem de patologias graves como a degenerescência macular
da idade e o melanoma da coroideia.
“O sol atua diretamente sobre
diferentes elementos do olho: atinge a córnea e a mácula por ação dos raios UV
e o cristalino e retina por ação dos raios infravermelhos. A luz solar também atua
por efeito acumulativo dos raios UV podendo levar a lesões da retina e área
macular” explica o oftalmologista Dr. Fernando Bivar.
Este especialista afirma também que
“de acordo com alguns autores, a ação continuada do sol sobre o olho ao longo
dos anos está na origem da Degenerescência Macular da Idade que é, segundo a
Organização Mundial de Saúde, a principal causa de cegueira a partir dos 50
anos de idade, nos países desenvolvidos. A exposição prolongada e desprotegida
à luz solar pode também originar melanoma nas pálpebras e no interior do olho –
melanoma da coroideia. Este é o tumor intraocular primário mais frequente nos
adultos. Tal como os melanomas da pele, surge com maior frequência nas pessoas
de pele e olhos claros, com tendência para as queimaduras solares. Muitas vezes
cresce sem dar sintomas e tem risco de metastização para o fígado, pulmão e
pele”.
Relativamente à proteção, o Dr. Fernando
Bivar refere: “é essencial que quem está mais sujeito à exposição solar proteja
os olhos com óculos com filtros para os raios UV. A lente pode não ser
necessariamente escura, mas deve ter este tipo de filtro. Isto significa que
quem usa óculos de lentes escuras mas sem filtros para raios UV está tão
exposto aos efeitos nocivos da luz solar como quem não os usa”.
Fonte: Sociedade Portuguesa de
Oftalmologia
17/07/14
PREVENÇÃO DO CANCRO
“Os diversos estudos que avaliaram os benefícios que se
podem obter através de medidas de prevenção primária – e que se traduzem numa
redução da incidência e/ou mortalidade por cancro – apontam quase todos para os
ganhos quantitativos a seguir descritos.
Nas sociedades ocidentais, seria possível reduzir a
ocorrência de cancro e a mortalidade a ele associada em cerca de 80-90 %
através da adoção das seguintes medidas de prevenção: a) a eliminação do tabaco
levaria a uma redução daqueles valores na ordem dos 30 %; b) a modificação do
estilo de vida, com alteração substancial da dieta (maior consumo de vegetais e
frutas, menor consumo de açúcar, carne vermelha e gorduras saturadas), combate
ativo à obesidade e aumento da prática de exercício físico regular, conduziria
a uma redução de 30-40 %; c) a eliminação do álcool, por seu turno,
traduzir-se-ia numa redução de cerca de 10 %.
Estes estudos referem também, embora sem uma
quantificação tão precisa, que a vacinação contra o HBV e o HPV, bem como a
redução da exposição a carcinogéneos ambientais (p. ex. radiação solar e radiações
ionizantes) e a carcinogéneos ocupacionais, permitiria alcançar uma redução da
mortalidade por cancro da ordem dos 10 %.
Os 10-20 % restantes correspondem à susceptibilidade genética
(cancros hereditários e cancros com elevada agregação familiar) e à influência
de fatores individuais, em parte também geneticamente condicionados”.
Pequeno excerto do recente livro O Cancro, do Prof. Manuel Sobrinho Simões (pp. 89-90). Pode
encomendar aqui.
14/07/14
EFICÁCIA DOS PROTETORES SOLARES
Os protetores solares são
importantes na prevenção das queimaduras solares e do cancro da pele, apesar de
nem todos serem eficazes. Segundo o Environmental
Working Group, dos EUA, a utilização de protetores em forma de spray, com índice de proteção acima de
50 ou com vitamina A não são aconselháveis.
Mesmo com o uso de um protetor solar adequado, a única proteção realmente eficaz é limitar o período de exposição ao sol.
Mesmo com o uso de um protetor solar adequado, a única proteção realmente eficaz é limitar o período de exposição ao sol.
11/07/14
O ENFARTE NÃO PODE ESPERAR
CONHEÇA OS SINTOMAS
Os sintomas mais comuns de um
enfarte do miocárdio são dor no peito, por vezes com irradiação para o braço
esquerdo, costas e pescoço, podendo ser acompanhada de suores, náuseas, vómitos,
falta de ar e ansiedade. Por vezes, sobretudo nas mulheres, os sintomas podem
manifestar-se por falta de ar, fraqueza, sensação de indigestão e fadiga. Os
sintomas normalmente duram mais de 20 minutos mas também podem ser
intermitentes
NÃO PERCA TEMPO
Conhecer e compreender os sinais
de um enfarte permite agir rapidamente e procurar ajuda médica. A rapidez é
fundamental para o sucesso do tratamento. A cada minuto que passa o risco de
morte aumenta.
Em caso de enfarte, não deve
tentar chegar a um hospital pelos seus próprios meios. Em Portugal e na Europa,
ligue o número 112.
09/07/14
SEJA ATIVO NA PREVENÇÃO DIÁRIA DO CANCRO
Faça uma alimentação saudável. Um
terço das mortes por cancro é atribuído a hábitos alimentares errados e à
inatividade física. 75 a 80% da maior parte dos cancros são causados por
fatores associados ao estilo de vida. 30% dos cancros estão direta ou
indiretamente relacionados com a nutrição. 40% dos cancros podem ser evitados
com mudanças no estilo de vida.
Recomendações para a prevenção
Limite o consumo de gorduras
saturadas e de alimentos ricos em açúcares e sal. Reduza o consumo de carnes
vermelhas - prefira as carnes brancas (aves, coelho) e o peixe. Os peixes
gordos (sardinha, cavala, salmão) são fontes de ómega-3, que protegem contra o
cancro.
Não coma alimentos
pré-confecionados pois contêm muito sal. Utilize ervas aromáticas e especiarias
para temperar os seus pratos.
Não reutilize as gorduras - use pouca gordura na confeção de alimentos e prefira o azeite.
Aumente os produtos hortícolas e
fruta nas suas refeições. Inclua leguminosas na sua alimentação - os legumes de
cor vermelha e roxa (tomate, beringela, beterraba) são ricos em licopeno (potente
antioxidante). Contêm também fibras, vitaminas e minerais.
Consuma cereais integrais, pelo
seu alto teor em fibra.
Tenha especial atenção na
preparação dos alimentos - não consuma alimentos total ou parcialmente
carbonizados. Prefira cebola e alho para temperar.
Modere o consumo de bebidas
alcoólicas - o consumo excessivo de álcool aumenta o risco de desenvolvimento
de cancro. Prefira água.
Leia os rótulos dos alimentos.
Combata a obesidade. Pratique atividade física regular.
Fonte: Liga Portuguesa Contra o
Cancro
07/07/14
A QUÍMICA DO DIA-A-DIA
Uma apresentação magistral, em
língua inglesa, sobre o papel da química no dia-a-dia e, em particular, na
alimentação humana. O Doutor Joe Schwarcz é
professor de Química na Universidade McGill em Montreal, no Canadá. É
autor de vários livros sobre estes temas, um dos quais (O génio da Garrafa) foi
publicado pela Gradiva em 2005.
02/07/14
MEDICINA E LITERATURA (3.ª parte)
Pelo que acabo de muito
sucintamente expor, facilmente se entenderá que não concebo a relação entre
Medicina e Literatura na base da eventual evasão ou do mero lazer (embora,
claro, a leitura de textos literários faça parte para maioria dos seus tempos
livres), nem tão pouco como uma espécie de complemento de erudição opcional e
decorativa. O que está em jogo quando se cruzam estas duas áreas do
conhecimento e respetivos quadros epistémicos e retóricos, é tão importante e
complexo quanto a compreensão e representação da vida humana nas suas
diferentes e complementares vertentes, pelo que não se deverá ficar por um
simples voluntarismo de horas vagas ou de vagas afinidades.
De resto, o aturado estudo do
Doutor Jorge Cruz a partir da obra de Edmund Pellegrino, mostra bem que não
bastam nem ideias imprecisas, vulgo preconceitos, nem legislações muito
sofisticadas - por muito bem intencionadas que umas e outras possam ser - para
que estejamos perante uma Medicina radicada em valores humanistas e éticos.
Em primeiro lugar, importa que
saibamos exatamente o que está em causa por detrás dos princípios, modelos e
termos, expressos ou subjacentes a diferentes práticas de Medicina. Depois,
importa ter em conta as dificuldades que se apresentam na passagem das teorias
às práticas. Nesse sentido, enquanto leitora e cidadã, (e até agora pelo menos,
pontualmente paciente ou familiar de pacientes), a explicitação do chamado
“paradigma das virtudes” foi para mim muito esclarecedora. Não que eu não
tivesse já intuído que um médico deverá ter certos traços de carácter como a
prudência ou a justiça, mas o enquadramento e explicitação dessas e outras
“virtudes” permitiu-me tomar consciência de diferentes pressupostos e
consequências na formação dos médicos e no decurso do exercício da sua
atividade; permitiu-me encontrar termos mais adequados e fundamentados para
dirimir argumentos e para me envolver naquela pergunta que dá título ao livro
de Jorge Cruz - “Que médicos queremos?” - fazendo-o não de uma forma mais ou
menos emotiva e volátil, como tantas vezes se
assiste na praça pública, mas de um modo mais consciente e consistente.
Julgo que este acesso às palavras
adequadas (como aquelas a que a Literatura também tantas vezes dá acesso), esta
consciência de valores estruturantes de uma prática tão nobre como a prática
médica, pode vir a reunir quer pacientes e sociedade em geral num propósito
comum traduzível no completar do título com o verbo ter - “que médicos queremos
ter?” –, quer aqueles que, pelas suas funções, a completarão com o verbo ser –
“que médicos queremos ser?”. Parece-me evidente que só quando houver, ou sempre
que houver, essa conjunção de vontades e de expetativas, existirá uma
verdadeira relação clínica em prol do humano. Tanto da humanidade do paciente
como da humanidade do médico.
Prof. Doutora Ana Paula Coutinho
Professora Associada do
Departamento de Estudos Portugueses e Estudos Românicos da Faculdade de Letras
da Universidade do Porto. Doutorada em Literatura Comparada.
01/07/14
MEDICINA E LITERATURA (2.ª parte)
Num tempo tão paradoxal como aquele que nos está a ser dado viver, tanto se assiste a uma desvalorização das Humanidades, desde logo em termos curriculares nos diferentes níveis de ensino, desinteresse sumariamente sustentado na sua fraca rentabilidade ou empregabilidade nas sociedades contemporâneas, como se depara também com a chamada de atenção, em várias frentes, para a urgência de complementar as formações cada vez mais específicas e tecnológicas com uma formação humanista, no sentido mais abrangente, nobre e consistente do termo, que colmate graves lacunas de formação noutras áreas culturais como a Filosofia, a História, as Línguas, a Literatura e/ou outras expressões artísticas.
Algumas universidades – e desde logo universidades estrangeiras consideradas de topo, mas também entre nós, registe-se, a Universidade do Minho, com os chamados “domínios verticais” no seu curso de Medicina - têm apostado nessa associação de saberes que se não é de modo nenhum nova, aponta para um paradigma outro de conhecimento, onde o grande desafio não é (ou não deverá ser) a simples adição de informações, mas sim a pesquisa e o ensaio cada vez mais sólidos da articulação complementar de saberes com um propósito comum e nuclear: o conhecimento e a preservação do mundo, da vida ou da criação em todas as suas formas.
Assim, em boa hora, seguindo a lógica do próprio pensamento de Edmund Pellegrino, o Doutor Jorge Cruz dedicou os últimos capítulos do seu livro Que médicos queremos? às temáticas da “Medicina e Humanidades” e da “Relação médico-paciente na Literatura”.
Se é verdade que a Medicina é a mais humanista das ciências e a mais científica das humanidades, como defende Pellegrino (note-se, aliás, que o radical indo-europeu “med-“, que significa cuidar, é comum à palavra meditação, ou ao verbo meditar), importa defender a inclusão das Humanidades na formação dos estudantes de Medicina, como o fez Pellegrino, médico e pioneiro da Bioética. E eu diria até mais: essa formação inclusiva deveria acontecer não apenas na formação inicial dos médicos como na sua formação (obrigatória) ao longo da vida, (co)respondendo assim à consideração tão sábia quanto oportuna do conhecido médico português, escritor e pintor, Abel Salazar: “ o médico que só sabe medicina, nem medicina sabe”.
Correndo o risco de ser a este nível suspeita, não posso deixar de sublinhar a importância da Literatura nessa formação humanística dos médicos, uma vez que ela representa já, em si mesma, um vasto domínio onde confluem muitos outros saberes, por vezes também de natureza científica, e onde são trabalhadas as grandes questões existenciais que ocupam e atravessam igualmente outras áreas do conhecimento.
Quando se pensa nas relações entre Medicina e Literatura, imediatamente vêm à ideia os muitos casos de médicos-escritores, não só ao longo dos tempos, como em diferentes quadrantes geográficos e culturais, facto esse que levou à fundação, em 1959, da Union Mondiale des Écrivains-Médecins. A existência de tantos casos de complementaridade de ação ou de “identidade dupla” é já em si mesma bastante sintomática, supondo por conseguinte várias afinidades entre esses dois tipos de “intérpretes de signos”, cuja observação radica e se transforma em narrativa.
No entanto, de modo nenhum o estudo desses exemplos de “identidade dupla” esgota as virtualidades das relações entre Medicina e Literatura. Que puderam (ou podem) aproveitar todos os restantes - os que são médicos e que não são escritores, os que não são nem uma coisa nem outra, mas que um dia já foram ou serão doentes - do contacto com a Literatura e até muito em especial do contacto com a Literatura atravessada pelos universos da Medicina e da doença? Eu diria que uns e outros têm a ganhar com a leitura e a análise dos textos literários (tanto contemporâneos como antigos), na medida em que eles preparam (ou podem preparar) para a observação, para a interpretação, para a reflexão e para a comunicação, em suma, para o reconhecimento e uso cada vez mais ajustado das palavras, não exatamente, claro, de termos científicos, mas das palavras que concorrem para discursos de reflexão e de comunhão; palavras que ressoam conhecimento do passado, que se adaptam ao presente e que imaginam futuro.
Muitas vezes se tem justificado alguma manifesta deterioração da relação médico-paciente com a falta de tempo, com o excesso de burocracia e com o aumento exponencial de exames complementares de diagnóstico. Sabemos bem que essas são razões muito verídicas, mas convir-se-á que, por vezes, existe também, ou quiçá sobretudo, uma falta de sensibilidade ou de compreensão por parte dos médicos (bem como de outros profissionais de saúde) das múltiplas formas de que se revestem o sofrimento, a doença, a angústia, o desespero ou a morte. Por outras palavras, existe incompreensão perante tentativas indiretas do dizer ou mesmo de silêncios na declaração de doença por parte do próprio doente, o que tantas vezes compromete irremediavelmente a sintonia na relação fundadora do encontro entre médico e paciente, e que é, ela própria, ocasião de biografia.
Quer isto dizer que existindo, por parte do médico e/ou de outros profissionais da saúde, falhas no conhecimento do humano – um conhecimento que extravasa de tabelas e nomenclaturas anatómicas ou fisiológicas - instala-se já aí uma incapacidade de comunicação porque incapaz de aceder a uma efetiva individuação. Ora, esta individuação é fundamental para o diagnóstico, prognóstico e terapêutica, concebidos não só em si mesmo, ou seja, em abstrato, mas sobretudo adaptados a uma relação com um outro específico, aberta à singularidade do seu rosto, da sua linguagem verbal e corporal, portanto resistente a (se não mesmo incompatível com) consultas no mundo virtual ou à chamada e-medicina…
O convívio com a boa Literatura, portuguesa ou estrangeira, e chamo aqui boa Literatura àquela que se foi mostrando ao longo dos tempos exigente do ponto de vista estético, isto é, do trabalho com a linguagem, não exatamente apenas com a linguagem como um valor em si mesma, mas enquanto meio de representação e construção da densidade antropológica e de questionação do mundo, esse convívio - dizia - não significa um mero conhecimento livresco, como muitas vezes é pejorativamente apontado, mas confere ao leitor (ou pode conferir, se a leitura for aprofundada pela suscitação e discussão de questões antropológicas, filosóficas, estéticas, históricas ou mesmo religiosas) uma experiência maturada de vida.
Através de processos de exposição e de identificação, a leitura de textos literários constitui um espaço privilegiado para o desenvolvimento dessa experiência refletida, fazendo com que cada um, e no caso concreto, cada médico se torne mais humano, no sentido em que o humano é um processo sempre em aberto. Com efeito, nunca será demais lembrar que mais do que nascermos humanos, vamo-nos tornando humanos.
Prof. Doutora Ana Paula Coutinho
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