24/02/14

VIAGEM AO OUTONO DA VIDA



Os próximos posts serão dedicados à temática do envelhecimento. Solicitamos ao Prof. Doutor Henrique Vilaça Ramos autorização para reproduzir neste espaço o texto luminoso que escreveu sobre o assunto, que foi amavelmente concedida. O texto integral com as respetivas referências bibliográficas, baseado na sua comunicação à Academia Nacional de Medicina de Portugal (Coimbra, 13.04.2013), foi publicado na Revista Brotéria 176 (5/6) Maio/Junho 2013.

«O envelhecimento, que marca o outono da vida e a leva até ao seu fim último, é o destino inexorável de todo o ser humano que não foi ceifado antecipadamente pela gadanha impiedosa de uma morte prematura. Visitar o outono da vida é de inegável atualidade, não só por serem os velhos uma população cada vez mais numerosa em Portugal, mas também porque, sendo o envelhecimento uma questão velha, a velhice atual coloca problemas novos.

Temos cada vez mais pessoas idosas e idosos mais longevos, graças ao aumento da esperança média de vida que se deve à melhoria de condições como o saneamento básico, alimentação e abrigo, mas também, ainda que em menor grau, aos progressos nos cuidados médicos: prevenção, diagnósticos mais precoces, tratamentos e reabilitações mais eficazes.

No império romano, a esperança de vida era baixa, rondava os trinta anos, e no dealbar do século XX tinha subido para 45 anos. Em Portugal, a esperança de vida ao nascer é de 79,6 anos (homens, 76,5 e mulheres, 82,4). Isto é: em pouco mais de um século, ganharam-se cerca de 35 anos, quase dobrou a esperança de vida! Esta evolução levou alguém a dizer, com um humor desconsolado: “é verdade que acrescentámos mais anos à vida, mas o mal é que são os últimos”. Todavia, esta boutade não corresponde inteiramente ao que se passa, pois que, apesar de na fase última do processo de envelhecimento ser cada vez maior a incidência das doenças geriátricas, mercê desse importante aumento da longevidade, também é certo que o tempo de vida com boa saúde ou, pelo menos, com saúde regular é cada vez mais longo».
 
Prof. Doutor Henrique Vilaça Ramos
Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Portugal

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