A história da experimentação
humana é prova dos êxitos extraordinários da ciência médica em benefício da
humanidade. Contudo, é também testemunha do abuso de seres humanos pelo seu
próximo, na procura do conhecimento.
Sabe-se atualmente que foram
realizadas pelo menos 26 tipos de experiências em seres humanos, nos campos de
concentração nazis. Muitas delas pretendiam justificar as teorias eugénicas e
promover o apuramento e supremacia raciais. Outras destinavam-se a desenvolver
mecanismos de defesa corporal do exército, aviação e marinha alemães em circunstâncias
desfavoráveis como naufrágios ou queda de aeronaves. Algumas, numa clara e
perversa inversão de valores, destinavam-se à descoberta do método mais rápido
e eficaz de aniquilar a vida humana, não se distinguindo de outras formas de
tortura cruel.
As experiências realizadas por
Josef Mengele, médico-chefe do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau,
entre 1943 e 1945, em gémeos, anões e indivíduos com diversas anomalias
genéticas, representam um exemplo extremo da utilização abusiva e prepotente de
cobaias humanas com fins pseudocientíficos. Mengele dedicava-se ao estudo das
características genéticas das raças, tendo em vista o aperfeiçoamento da “raça”
ariana. Com essa finalidade, escolheu entre os prisioneiros de guerra cerca de
1500 irmãos gémeos, que usava como cobaias. Muitas vezes mandava matá-los, após
certas experiências, para estudar os cadáveres na autópsia. Os deficientes eram
outro dos seus interesses, de modo a provar que os judeus eram uma “raça”
inferior. Mengele foi também responsável por selcionar para a morte centenas de
milhar de homens, mulheres e crianças, junto aos portões de Auschwitz.
É hoje um dado adquirido que a
maior parte destas experiências perversas e cruéis, utilizando como cobaias
homens, mulheres e crianças, não produziram qualquer progresso científico
válido. Mas ainda que tivessem interesse científico, coloca-se a questão da
licitude da utilização dos resultados dessas experiências. Eva Mozes Kor, uma
sobrevivente das experiências de Auschwitz, apresenta uma ideia original: “Os
dados das vítimas deveriam ser rasgados em tiras e colocados num monumento
transparente, como evidência de que existem, mas não podendo ser utilizados.
Deveriam servir como uma lição ao mundo de que a dignidade e a vida humanas são
mais importantes do que qualquer avanço na ciência ou na medicina”.
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