As várias teorias sobre a
natureza do processo de senescência podem agrupar-se em dois tipos: as teorias
do envelhecimento programado e as teorias do desgaste. A conceção do
envelhecimento como fenómeno programado assenta na existência de um presumido
relógio biológico a comandar a evolução de cada indivíduo. Segundo alguns, esta
interpretação também colhe argumentos na perspetiva da evolução. Depois de ter
passado os seus genes, termina o interesse do animal para a espécie: já fez o
seu papel e por isso deixa de ser necessário. Portanto, não pareceria
destituído de sentido admitir um mecanismo biológico que, após o período
fértil, promovesse o declínio progressivo até surgir a morte, de que é exemplo
extremo o salmão que sofre uma tempestade hormonal com produção de enormes
quantidades de corticosteroides, sobretudo na altura da reprodução, seguida de morte
rápida.
De facto, hoje poucos duvidam que
o nosso capital genético esteja implicado no envelhecimento e, aparentemente,
por vias idênticas às que se verificam em várias espécies animais. Uma das vias
dessa ação genética traduz-se na propensão para sofrer de doenças relacionadas
com a idade. Mais ainda, em vários animais de experiência foi possível aumentar
a longevidade intervindo nos genes.
O envelhecimento programado seria
pois um processo inscrito nos genes, semelhante ao programa que promove a elaboração
dos vários órgãos e tecidos do feto e, depois, ao desenvolvimento da criança
através das várias fases da vida extrauterina, até ao aparecimento da
maturidade sexual. Mas o envelhecimento programado não explica tudo. Por
exemplo: como perceber que o mecanismo que faz surgir todas as fases do
desenvolvimento até à puberdade dentro de períodos precisos, com escassas
variações temporais, explique as grandes diferenças do processo de
envelhecimento de pessoa para pessoa?
Visão diferente é de o envelhecimento
não resultar de qualquer determinismo genético, mas de um processo de desgaste
que se situa na relação do meio ambiente com as células, processo de tipo
estocástico, originado portanto em danos acidentais. A senescência resultaria,
assim, de agressões celulares incidindo a nível molecular. O envelhecimento não
seria então um processo fisiológico, antes o resultado de uma desregulação
condicionada por fatores externos, uma doença, afinal.
Não é recente a conceção de que a
velhice é uma doença. Públio Terêncio Africano, um dramaturgo latino que viveu
no II século antes de Cristo, na sua comédia Phormio, pôs um homem a perguntar a um velho de que doença padecia,
ao que este respondeu “Porque perguntas? A doença é a própria velhice” e Séneca
foi mais longe ao dizer: a velhice é ela mesma uma doença incurável (senectus enim insanabilis morbus est).
Hoje é geralmente admitido que o
envelhecimento é condicionado quer pelo capital genético, quer pelos fatores
ambientais. Contudo, o papel dos genes, ainda que importante, não é o mais
fundamental, pois se admite que eles só contam com 25% para o que será a
velhice da pessoa, se bem que a importância relativa das várias causas varie de
indivíduo para indivíduo. Mas além dos aludidos fatores genéticos e ambientais,
devemos reconhecer que há outros capazes de condicionar o processo, podendo
acelerá-lo ou retardá-lo. Neste contexto, têm sido avançadas várias teorias
para o envelhecer que poderíamos designar teorias psicossociais. É sabido, por
exemplo, que as pessoas envelhecem menos se se mantiverem ativas, ocupadas e
igualmente as favorece se continuarem a ter na idade avançada os mesmos hábitos
e estilo de vida que tinham nas décadas antecedentes (teorias da atividade e da
continuidade). Exemplo oposto é a teoria da desvinculação (disengagement theory) de Henry e Cumming. Esta presume que é o
afastamento das pessoas idosas no que se refere ao desempenho de funções ativas
na sociedade (roleless role) a causa
do envelhecimento, afastamento que seria da iniciativa do idoso. A teoria da
desvinculação é objeto de críticas sérias. Admite-se mesmo que a maioria das
pessoas que mostram desvinculação já antes apresentava um perfil psicológico de
menor envolvimento social. Por outro lado, a desvinculação pode ser
involuntária e até indesejada pela pessoa, sendo neste caso da iniciativa da
sociedade, como sucede quando o velho é “depositado” num lar de idosos.
Prof. Doutor Henrique Vilaça
Ramos