O médico português João Rodrigues
(1511-1568), natural de Castelo Branco e mais conhecido por Amato Lusitano, na sua obra Centúrias inclui um
Juramento na linha do Juramento de Hipócrates do século IV a. C., que representa
um manual de conduta que os médicos deveriam seguir:
Juro perante Deus imortal e pelos
seus dez santíssimos mandamentos, dados no Monte Sinai ao povo hebreu, por
intermédio de Moisés, após o cativeiro do Egito, que na minha clínica nada tive
mais a peito do que promover que a fé intacta das coisas chegasse ao
conhecimento dos vindouros. Nada fingi, acrescentei ou alterei em minha honra
ou que não fosse em benefício dos mortais. Nunca lisonjeei, nem censurei
ninguém ou fui indulgente com quem quer que fosse por motivo de amizades
particulares; sempre em tudo exigi a verdade;
Se sou perjuro, caia sobre mim a
ira do Senhor e de Rafael, seu ministro, e ninguém mais tenha confiança no
exercício da minha arte;
Quanto a honorários, que se
costumam dar aos médicos, também fui sempre parcimonioso no pedir, tendo
tratado muita gente com mediana recompensa e muita outra gratuitamente; muitas
vezes rejeitei, firmemente, grandes salários, tendo sempre mais em vista que os
doentes por minha intervenção recuperassem a saúde, do que tornar-me mais rico
pela sua liberalidade ou pelos seus dinheiros;
Para tratar os doentes, jamais
curei de saber se eram hebreus, cristãos ou sequazes da lei maometana; não
corri atrás das honras e das glórias e com igual cuidado tratei dos pobres e
dos nascidos em nobreza;
Nunca provoquei a doença; nos
prognósticos disse sempre o que sentia; não favoreci um farmacêutico mais do
que outro, a não ser quando em algum reconhecia, porventura, mais perícia na
arte e maior bondade de coração, porque então o preferia aos demais;
Ao receitar sempre atendi às
possibilidades pecuniárias do doente, usando de relativa moderação nos
medicamentos prescritos; nunca divulguei o segredo a mim confiado, nunca a
ninguém propinei poção venenosa; com minha intervenção nunca foi provocado o
aborto; nas minhas consultas e visitas médicas femininas nunca pratiquei a
menor torpeza; em suma, jamais fiz coisa de que se envergonhasse um médico
preclaro e egrégio.
Sempre tive diante dos olhos,
para os imitar, os exemplos de Hipócrates e de Galeno, os pais da Medicina, não
desprezando as obras monumentais de alguns outros excelentes mestres na Arte
Médica; fui sempre diligente no estudo e por tal forma que nenhuma ocupação ou
circunstância, por mais urgente que fosse, me desviou da leitura dos bons
autores; nem o prejuízo dos interesses particulares, nem as viagens por mar,
nem as minhas frequentes deambulações por terra, nem por fim o próprio exílio,
me abalaram a alma, como convém ao homem sábio; os discípulos que até hoje
tenho tido em grande número e em lugar dos filhos tenho educado, sempre os
ensinei muito sinceramente a que se inspirassem no exemplo dos bons;
Os meus livros de Medicina nunca
os publiquei com outra ambição que não fosse contribuir de qualquer modo para a
saúde da humanidade. Se o consegui, deixo a resposta ao julgamento dos outros,
na certeza de que tal foi sempre a minha intenção e o maior dos meus desejos.
(Redigido em Tessalonica em 1559)
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