O texto seguinte foi escrito pelo meu colega e amigo Dr. Filipe Silva,
especialista em Pediatria do Desenvolvimento.
Nariz entupido, espirros, tosse, falta de ar,
borbulhas... será alergia? Aprenda a reconhecer os sintomas.
Para a maioria, o contacto com o pó, pólenes,
marisco e medicamentos não constitui um problema. Contudo, algumas pessoas tornam-se
alérgicas a estas e outras substâncias, que se designam então como alergenos. Nestas situações, o sistema
imunitário começa a reagir contra os alergenos e isso provoca inflamação.
Dependendo do local onde se forma a
inflamação, podem existir diferentes sintomas.
A Rinite Alérgica
é a manifestação de alergia mais frequente, afetando cerca de um quarto dos portugueses.
Os sintomas incluem o nariz entupido, corrimento nasal, espirros frequentes e
tosse. Estes sintomas também aparecem nas constipações, mas são mais
persistentes quando existe alergia. A sensação de prurido (comichão) no nariz e
na garganta são também muito frequentes na rinite alérgica. A rinite associa-se
muitas vezes a Conjuntivite alérgica:
olho vermelho, lacrimejo e prurido ocular intenso.
Na Asma,
a inflamação alérgica diminui o diâmetro dos brônquios mais pequenos e torna-os
mais reativos. Manifesta-se habitualmente por crises de dificuldade
respiratória com tosse, sensação de falta de ar, aperto no peito e respiração
ruidosa com sons que lembram o miar de gatos (os sibilos). Também pode originar
tosse e falta de ar com o esforço físico (ao correr, por exemplo).
As manifestações de doença alérgica na pele podem
ser a pele seca, o Eczema, a Urticária e outro tipo de exantemas
(borbulhas). Contudo, nem todas as borbulhas ou mesmo urticárias são
manifestações de alergia. Podem resultar apenas de infeções virais,
principalmente nas crianças, desaparecendo passados alguns dias.
Ocasionalmente, podem suceder reações alérgicas
graves e exuberantes - a Anafilaxia
- que surgem de forma súbita pouco tempo depois da exposição ao alergeno. Podem
envolver conjuntivite, angioedema (inchaço nos olhos, lábios, língua), tosse,
falta de ar, urticária, dor abdominal, náuseas e vómitos, tensão baixa,
desmaio, ou mesmo morte. As pessoas com estes sintomas devem ter assistência
médica rápida para ser administrada adrenalina. Em alguns casos, devem passar a
transportar consigo um dispositivo de administração de adrenalina para
emergências deste tipo.
Alergia a quê?
Grande parte das substâncias que causam alergia
são transportadas pelo ar (aeroalergenos) incluindo os ácaros do pó, pólenes,
fungos, ervas, pelos, penas e escamas de animais, entre outros. O tipo de alergeno
determina a altura do ano em que aparecem as queixas alérgicas. Muitas pessoas
com alergia a pólenes passam pior na primavera, quando existe maior
concentração deste alergeno no ar. Pelo contrário, as pessoas com alergia ao pó
costumam ter mais queixas no outono e inverno, quando as casas estão menos
arejadas, mais húmidas e com mais cobertores, que promovem a acumulação de
ácaros.
As pessoas também se podem tornar alérgicas a
alimentos. As alergias ao leite de vaca e ao ovo são as mais frequentes na
infância. Mais tarde, surgem alergias a frutos como o kiwi, frutos secos como o
amendoim, marisco, moluscos, entre outros.
As alergias a medicamentos também costumam ter
manifestações cutâneas. No entanto, existem muitos falsos alarmes porque as
alterações na pele são frequentes nas infeções mesmo sem alergia. Por isso, as
suspeitas de alergia a medicamentos devem ser avaliadas num centro de
imunoalergologia, de forma a não ficar toda a vida a evitar medicamentos
desnecessariamente.
Posso saber ao que sou alérgico?
Pode e deve! Saber o que provoca alergia permite
diminuir a exposição, que é uma das formas de controlar os sintomas. Em alguns
casos, podem ser dadas vacinas específicas ou outras formas de indução de
tolerância para diminuir a reação do organismo ao alergeno.
Existem testes cutâneos e laboratoriais que
permitem identificar as alergias. Estes testes devem ser pedidos de forma
racional, numa consulta médica, de acordo com as queixas. As ofertas de
baterias de "testes a tudo" são um desperdício de sangue e de
dinheiro que não é útil. É muito provável que algum teste venha positivo e isso,
só por si, não significa que a pessoa seja alérgica.
É melhor prevenir
As pessoas com familiares próximos com alergias
têm maior risco de as desenvolver. Por isso, é um bom princípio controlar a
exposição aos alergenos mais frequentes, nomeadamente aos ácaros do pó.
Estes seres microscópicos, que se alimentam de
restos de pele humana, gostam de ambientes quentes e húmidos acumulando-se em colchões,
mantas de lã, almofadas de penas, tapetes, alcatifas, sofás, bonecos de peluche
e mesmo nos livros.
Algumas medidas simples podem ajudar a diminuir
os ácaros:
·
Arejar diariamente os quartos para diminuir a
humidade· Expor ao ar e ao sol os colchões, edredons e almofadas
· Lavar as roupas da cama, cortinados e tapetes, quando possível, a 60 graus, temperatura que destrói os ácaros
· Substituir colchões antigos e/ou usar coberturas anti-alérgicas que retêm os ácaros
· Aspirar colchões e tapetes com aspiradores com filtros HEPA
· Não acumular bonecos de peluche no quarto, particularmente na cama
· Quando existem muitos livros no quarto, devem estar guardados em estantes fechadas para acumularem menos pó
E nunca é de mais frisar a importância de diminuir
a exposição a irritantes como o fumo do tabaco e a poluição, que contribuem
para a inflamação das vias respiratórias e agravam os sintomas.
As alergias são muito frequentes, é certo. A boa
notícia é que existem tratamentos eficazes que permitem controlar os sintomas e
ter uma boa qualidade de vida. Se reconheceu aqui os seus sintomas, fale sobre
isso com o seu médico assistente ou procure uma Consulta de Imunoalergologia.
Dr. Filipe Glória e Silva
dormirecrescer.blogspot.com
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