02/09/13

COLESTEROL: O QUE PRECISA DE SABER


O colesterol – substância lipídica normal, que circula no nosso sangue ligado a proteínas, pode condicionar ao longo dos anos, quando elevado, o aparecimento de aterosclerose: o tipo de arteriosclerose que facilita a progressiva ou súbita obstrução das nossas artérias, dificultando a passagem do sangue, e provocando as mais graves doenças cardiocerebrovasculares: angina de peito, enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral, etc. Estes perigos derivam essencialmente da sua fração LDL (Low Density Lipoproteins) enquanto a fração HDL (High Density Lipoproteins) funciona como protetora. Quanto mais altos forem o colesterol total e a fração LDL (“colesterol mau”) pior, e quanto mais elevado o HDL (“colesterol bom”), melhor.
  
2. Os níveis de colesterol podem subir gradualmente com a idade dependendo de muitos fatores, uns genéticos (por exemplo hipercolesterolémia familiar), alguns síndromes metabólicos, outros derivados do nosso estilo de vida: erros alimentares, falta de atividade física, etc. É sobre estes últimos que podemos atuar – procurando corrigir a alimentação, o sedentarismo e o excesso de peso, para que o colesterol suba menos (e isso é também verdadeiro mesmo quando há tendência genética).
  
3. Todos nós, devemos procurar saber o valor do nosso colesterol no sangue: “saiba o seu número” dizem os americanos.
• Se for normal (igual ou menor que 190 mg/dl) só é preciso repetir a análise em novo check-up (cada 3 ou 4 anos).
• Entre 190 e 220 deve adotar uma alimentação mais “correta, equilibrada e inteligente” e um estilo de vida mais saudável (isto é sem tabaco e com mais exercício) e repetir a análise dentro de 2 ou 3 meses, falando com o seu médico sobre o seu risco em conjunto com os outros fatores de risco de doença cardiocerebrovascular, sexo, idade, tabaco e açúcar no sangue.
• Se for maior que 220 mg., consulte o seu médico de família, pois poderá ter de fazer mais qualquer coisa, p. ex. medicamentos.
• Se for menor do que 150 é bom, mas deverá ouvir também o seu médico.
• O tratamento deverá trazer o colesterol total para valores ≤190 e o LDL para ≤115. Todavia, se já é doente cardiocerebrovascular, ou tem doentes precoces na família, aponta-se para LDL ≤100 (alguns pedem 70). O HDL deverá ser maior que 45 na mulher e 40 no homem.
  
4. A necessidade de conhecer o valor do colesterol no sangue é imperiosa, inclusive nas crianças – cuide bem dos seus sub-20 (dos 0 aos 19 anos de idade) no caso de terem antecedentes familiares de doença ou mortes precoces por patologia aterosclerótica: doença cerebrovascular, doença coronária ou de outras artérias (membros inferiores, etc.), ou grave hipercolesterolémia (isto é, maior que 300 mg/dl) ou com manifestações cutâneas suspeitas – xantelasmas ou xantomas – que são acumulações de colesterol sob a pele, mais frequente nas pálpebras ou nos cotovelos. Em todos os casos a prevenção ativa (dieta e exercício) ajuda a reduzir os riscos.
 
5. Devem vigiar o colesterol com particular cuidado, todos os fumadores, os doentes diabéticos (ou com intolerância à glicose) e todos os que tenham hipertensão arterial ou doença vascular (p. ex. cerebral, coronária, das carótidas ou dos membros inferiores).
  
6. A principal arma para prevenir o aumento do colesterol é a alimentação.
Uma alimentação correta, equilibrada, saudável e inteligente implica:
• Um nível baixo na quantidade total de gordura.
• Eliminar o mais possível as gorduras ditas “saturadas” (gorduras da carne, manteiga, queijo e leite gordos, ovos, miolos e vísceras, gorduras vegetais tratadas industrialmente (margarinas duras) ou transaturadas por sucessivas frituras.
• Preferir gorduras vegetais, mono ou poli-insaturadas (azeite e outros óleos vegetais como milho, girassol, soja, grainha de uva) ou gordura de peixe (também monoinsaturada).
• Preferir carnes brancas (p. ex. de aves: frango, peru, tirando-lhes a pele).
• Consumir peixe 3 ou 4 vezes por semana (ricos em ácidos gordos ómega 3 ou ómega 6, que são particularmente benéficos).
• Aumentar muito o consumo de vegetais (para mais de 400 gr. por dia): sopas de hortaliças, todos os legumes, saladas, fruta.
• Optar por um maior consumo de cereais (pão de segunda ou preparados ricos em fibras como p. ex. trigo ou arroz integral, farelo ou gérmen de trigo).
• Consumir mais leite magro ou outros produtos lácteos (iogurtes, queijo, etc.) também magros.
• Pode consumir bebidas alcoólicas, mas apenas de forma moderada (2 ou 3 dl de vinho tinto/dia ou 2 cervejas), se já tiver esse hábito e não tiver contraindicações (doença do fígado, excesso de peso ou obesidade).
  
7. Contribuem também para reduzir os efeitos do colesterol aumentado (ou mesmo reduzir o colesterol LDL e aumentar o HDL) a correção de algumas atitudes e comportamentos de risco, e de alguns fatores biológicos, a saber:
• Reduzir o excesso de peso e a obesidade, se possível para o peso normal (não exceder em Kg os centímetros acima do metro. Outra forma de avaliação será o índice de massa corporal (manter entre 18,5 e 25 kg/m2).
• Reduzir o perímetro do abdómen para menos que 82 cm para as mulheres e 94 cm para os homens.
• Vigiar a glicemia (< 126 mg em jejum ou hemoglobina glicada < 6%) e prevenir ou tratar a diabetes.
• Controlar a hipertrigliceridémia (para menos que 150 mg/dl após 12h de jejum), com atenção especial ao álcool e ao abuso de açúcar e doces, outros hidratos de carbono, e total de calorias.
• Reduzir o stress excessivo na vida de todos os dias.
• Diminuir o sedentarismo aumentando a atividade física diária – passeio a pé de 30 a 60 min/dia todos os dias, ou iniciar mesmo uma atividade desportiva (após exame médico).
  
8. O tratamento da hipercolesterolémia depende, na maioria dos casos, da dieta (para baixar o colesterol LDL - o “mau”), do exercício (que faz baixar o colesterol total e o LDL e subir o colesterol HDL - o “bom”), da medicação se for necessária, e do controlo médico dos outros fatores de risco que, para níveis iguais de colesterol, agravam muito os seus efeitos prejudiciais:
• Tabaco (parar já).
• Hipertensão arterial (normalizar a pressão para valores ≤ 130/85 mm Hg ou 120/80 mm Hg se for diabético ou tiver doença renal crónica).
• Diabetes ou intolerância à glicose (controlar com dieta e exercício, ou também com medicação).
• Obesidade e excesso de peso – corrigir com dieta e exercício, e eventualmente com medicação, aconselhamento nutricional e acompanhamento psicológico.
  
9. Quando a hipercolesterolémia não normaliza com dieta rigorosa (em termos de gorduras saturadas, e de colesterol, na alimentação) e com o incremento da atividade física (para além dos passeios diários a pé) pode ter de recorrer a uma terapêutica farmacológica: são vários os medicamentos ativos que baixam o colesterol “mau”, e alguns até fazem subir o “bom”. Podem mesmo associar-se novos medicamentos que começam por reduzir a absorção intestinal das gorduras. A responsabilidade e orientação destas terapêuticas cabem ao seu médico assistente.
  
10. De notar que todas as recomendações que atrás fizemos (para prevenir ou reduzir a hipercolesterolémia) se tornam particularmente importantes, ou mesmo obrigatórias, se se tratar de pessoas que já tiveram qualquer manifestação clínica de:
• Insuficiência vascular cerebral (isquemia transitória, ou mesmo trombose ou hemorragia cerebral)
• Doença das artérias coronárias (angina de peito, enfarte do miocárdio ou arritmias graves)
• Insuficiência arterial periférica (vasos do pescoço, dos membros ou de outros territórios vasculares).
 
Fonte: Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva (Prof. Fernando de Pádua)

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