O colesterol – substância lipídica normal, que circula no nosso sangue
ligado a proteínas, pode condicionar ao longo dos anos, quando elevado, o
aparecimento de aterosclerose: o tipo de arteriosclerose que facilita a progressiva
ou súbita obstrução das nossas artérias, dificultando a passagem do sangue, e
provocando as mais graves doenças cardiocerebrovasculares: angina de peito,
enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral, etc. Estes perigos derivam
essencialmente da sua fração LDL (Low Density Lipoproteins) enquanto a fração
HDL (High Density Lipoproteins) funciona como protetora. Quanto mais altos forem
o colesterol total e a fração LDL (“colesterol mau”) pior, e quanto mais
elevado o HDL (“colesterol bom”), melhor.
2. Os níveis de colesterol podem subir gradualmente com a idade dependendo
de muitos fatores, uns genéticos (por exemplo hipercolesterolémia familiar),
alguns síndromes metabólicos, outros derivados do nosso estilo de vida: erros alimentares,
falta de atividade física, etc. É sobre estes últimos que podemos atuar –
procurando corrigir a alimentação, o sedentarismo e o excesso de peso, para que
o colesterol suba menos (e isso é também verdadeiro mesmo quando há tendência
genética).
3. Todos nós, devemos procurar saber o valor do nosso colesterol no sangue:
“saiba o seu número” dizem os americanos.
• Se for normal (igual ou menor que 190 mg/dl) só é preciso repetir a
análise em novo check-up (cada 3 ou 4 anos).
• Entre 190 e 220 deve adotar uma alimentação mais “correta, equilibrada e
inteligente” e um estilo de vida mais saudável (isto é sem tabaco e com mais
exercício) e repetir a análise dentro de 2 ou 3 meses, falando com o seu médico
sobre o seu risco em conjunto com os outros fatores de risco de doença
cardiocerebrovascular, sexo, idade, tabaco e açúcar no sangue.
• Se for maior que 220 mg., consulte o seu médico de família, pois poderá
ter de fazer mais qualquer coisa, p. ex. medicamentos.
• Se for menor do que 150 é bom, mas deverá ouvir também o seu médico.
• O tratamento deverá trazer o colesterol total para valores ≤190 e o LDL
para ≤115. Todavia, se já é doente cardiocerebrovascular, ou tem doentes
precoces na família, aponta-se para LDL ≤100 (alguns pedem 70). O HDL deverá
ser maior que 45 na mulher e 40 no homem.
4. A necessidade de conhecer o valor do colesterol no sangue é imperiosa, inclusive
nas crianças – cuide bem dos seus sub-20 (dos 0 aos 19 anos de idade) no caso
de terem antecedentes familiares de doença ou mortes precoces por patologia
aterosclerótica: doença cerebrovascular, doença coronária ou de outras artérias
(membros inferiores, etc.), ou grave hipercolesterolémia (isto é, maior que 300
mg/dl) ou com manifestações cutâneas suspeitas – xantelasmas ou xantomas – que
são acumulações de colesterol sob a pele, mais frequente nas pálpebras ou nos
cotovelos. Em todos os casos a prevenção ativa (dieta e exercício) ajuda a
reduzir os riscos.
5. Devem vigiar o colesterol com particular cuidado, todos os fumadores, os
doentes diabéticos (ou com intolerância à glicose) e todos os que tenham
hipertensão arterial ou doença vascular (p. ex. cerebral, coronária, das
carótidas ou dos membros inferiores).
6. A principal arma para prevenir o aumento do colesterol é a alimentação.
Uma alimentação correta, equilibrada, saudável e inteligente implica:
• Um nível baixo na quantidade total de gordura.
• Eliminar o mais possível as gorduras ditas “saturadas” (gorduras da
carne, manteiga, queijo e leite gordos, ovos, miolos e vísceras, gorduras
vegetais tratadas industrialmente (margarinas duras) ou transaturadas por
sucessivas frituras.
• Preferir gorduras vegetais, mono ou poli-insaturadas (azeite e outros
óleos vegetais como milho, girassol, soja, grainha de uva) ou gordura de peixe
(também monoinsaturada).
• Preferir carnes brancas (p. ex. de aves: frango, peru, tirando-lhes a
pele).
• Consumir peixe 3 ou 4 vezes por semana (ricos em ácidos gordos ómega 3 ou
ómega 6, que são particularmente benéficos).
• Aumentar muito o consumo de vegetais (para mais de 400 gr. por dia):
sopas de hortaliças, todos os legumes, saladas, fruta.
• Optar por um maior consumo de cereais (pão de segunda ou preparados ricos
em fibras como p. ex. trigo ou arroz integral, farelo ou gérmen de trigo).
• Consumir mais leite magro ou outros produtos lácteos (iogurtes, queijo,
etc.) também magros.
• Pode consumir bebidas alcoólicas, mas apenas de forma moderada (2 ou 3 dl
de vinho tinto/dia ou 2 cervejas), se já tiver esse hábito e não tiver contraindicações
(doença do fígado, excesso de peso ou obesidade).
7. Contribuem também para reduzir os efeitos do colesterol aumentado (ou
mesmo reduzir o colesterol LDL e aumentar o HDL) a correção de algumas atitudes
e comportamentos de risco, e de alguns fatores biológicos, a saber:
• Reduzir o excesso de peso e a obesidade, se possível para o peso normal
(não exceder em Kg os centímetros acima do metro. Outra forma de avaliação será
o índice de massa corporal (manter entre 18,5 e 25 kg/m2).
• Reduzir o perímetro do abdómen para menos que 82 cm para as mulheres e 94
cm para os homens.
• Vigiar a glicemia (< 126 mg em jejum ou hemoglobina glicada < 6%) e
prevenir ou tratar a diabetes.
• Controlar a hipertrigliceridémia (para menos que 150 mg/dl após 12h de
jejum), com atenção especial ao álcool e ao abuso de açúcar e doces, outros
hidratos de carbono, e total de calorias.
• Reduzir o stress excessivo na vida de todos os dias.
• Diminuir o sedentarismo aumentando a atividade física diária – passeio a
pé de 30 a 60 min/dia todos os dias, ou iniciar mesmo uma atividade desportiva
(após exame médico).
8. O tratamento da hipercolesterolémia depende, na maioria dos casos, da
dieta (para baixar o colesterol LDL - o “mau”), do exercício (que faz baixar o
colesterol total e o LDL e subir o colesterol HDL - o “bom”), da medicação se
for necessária, e do controlo médico dos outros fatores de risco que, para
níveis iguais de colesterol, agravam muito os seus efeitos prejudiciais:
• Tabaco (parar já).
• Hipertensão arterial (normalizar a pressão para valores ≤ 130/85 mm Hg ou
120/80 mm Hg se for diabético ou tiver doença renal crónica).
• Diabetes ou intolerância à glicose (controlar com dieta e exercício, ou
também com medicação).
• Obesidade e excesso de peso – corrigir com dieta e exercício, e
eventualmente com medicação, aconselhamento nutricional e acompanhamento
psicológico.
9. Quando a hipercolesterolémia não normaliza com dieta rigorosa (em termos
de gorduras saturadas, e de colesterol, na alimentação) e com o incremento da atividade
física (para além dos passeios diários a pé) pode ter de recorrer a uma
terapêutica farmacológica: são vários os medicamentos ativos que baixam o
colesterol “mau”, e alguns até fazem subir o “bom”. Podem mesmo associar-se
novos medicamentos que começam por reduzir a absorção intestinal das gorduras.
A responsabilidade e orientação destas terapêuticas cabem ao seu médico
assistente.
10. De notar que todas as recomendações que atrás fizemos (para prevenir ou
reduzir a hipercolesterolémia) se tornam particularmente importantes, ou mesmo
obrigatórias, se se tratar de pessoas que já tiveram qualquer manifestação
clínica de:
• Insuficiência vascular cerebral (isquemia transitória, ou mesmo trombose
ou hemorragia cerebral)
• Doença das artérias coronárias (angina de peito, enfarte do miocárdio ou
arritmias graves)
• Insuficiência arterial periférica (vasos do pescoço, dos membros ou de
outros territórios vasculares).
Fonte: Instituto Nacional de Cardiologia Preventiva (Prof. Fernando de
Pádua)
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