04/03/13

O PRAZER DE NÃO FUMAR



O tabagismo é a principal causa de morte prematura evitável nos países desenvolvidos. Em Portugal, morrem mais de 10.000 pessoas todos os anos por doenças relacionadas com o consumo do tabaco. As mais frequentes são as doenças cardiovasculares, como o enfarte do miocárdio e o acidente vascular cerebral, doenças oncológicas, como o cancro do pulmão e de muitos outros órgãos, e doenças respiratórias, como a bronquite, o enfisema e a doença pulmonar crónica obstrutiva.

Fumar afeta todos os órgãos e sistemas do corpo humano, pois o fumo do tabaco contém inúmeras substâncias prejudiciais como a nicotina, o monóxido de carbono, o alcatrão e mais de 100 outros componentes reconhecidamente cancerígenos como benzeno, nitrosaminas, formaldeído e cianeto de hidrogénio. A nicotina é uma substância estimulante do sistema nervoso e responsável pela dependência que o consumo do tabaco ocasiona. Promove o aumento do ritmo cardíaco, da tensão arterial e a libertação de substâncias responsáveis pela sensação de prazer que o tabaco proporciona. O monóxido de carbono é um gás altamente tóxico e poluente, também expelido pelos tubos de escape dos automóveis. Quando entra na corrente sanguínea, liga-se à hemoglobina, impedindo o transporte adequado de oxigénio às células e aumenta a viscosidade do sangue, facilitando a ocorrência de tromboses.

Quando se fuma, introduz-se diretamente nos pulmões uma atmosfera rica em partículas tóxicas, mais concentrada do que qualquer atmosfera poluída, urbana ou mesmo industrial. O consumo de 15 cigarros é suficiente para causar graves mutações genéticas, que potenciam o desenvolvimento de diversos tipos de cancro. O órgão mais atingido é o pulmão, mas o cancro oral, da laringe, esófago, estomago, pâncreas, bexiga, rim, fígado e colo do útero estão também relacionados com o tabagismo ativo ou passivo. As crianças que vivem em casa de fumadores têm maior risco de asma, alergias e infeções respiratórias, por vezes graves.


De todos os fatores de risco cardiovascular conhecidos, como a hipertensão arterial, a diabetes ou a obesidade, o tabagismo é o mais importante. Nos fumadores, o risco de ataque cardíaco e de acidente vascular cerebral é duas vezes superior ao dos não fumadores, o risco de impotência sexual é três vezes superior e o risco de morte súbita é cinco vezes mais elevado. Na minha experiência profissional como cirurgião vascular, quase todos os dias observo os efeitos dramáticos do tabagismo na circulação dos membros inferiores, levando muitas vezes à gangrena e amputação. O tabaco acelera ainda o processo de envelhecimento, o que se traduz no aspeto claramente mais envelhecido dos fumadores. Diversos estudos têm também revelado que fumar não tem um efeito relaxante e redutor do stress, mas pelo contrário cria ansiedade e prejudica a saúde mental.

O encanto e sedução associados ao consumo do tabaco, grandemente explorados pela poderosa indústria tabaqueira, não são mais do que publicidade enganosa que oculta a verdadeira face da doença, dependência e vício. Ainda que, muitas vezes, os efeitos nefastos do tabaco só se manifestem ao final de vários anos, pode-se afirmar, sem exagero, que não existem fumadores saudáveis.

A boa notícia é que vale a pena deixar de fumar, na medida em que diminui de imediato o risco de morte prematura, bem como o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, respiratórias e oncológicas, a médio e longo prazo. Ao fim de um ano de abstinência tabágica, o risco de doença coronária reduz-se para perto de metade, e ao fim de 15 anos, o risco de doenças cardiovasculares e cancro do pulmão passa a ser idêntico ao das pessoas que nunca fumaram.

A determinação de deixar de fumar é fundamental para se contrariar o desejo de fumar e abandonar definitivamente o vício. Existem atualmente consultas de cessação tabágica, por vezes constituídas por equipas multidisciplinares, que incluem apoio psicológico e nutricional. Em alguns casos pode estar indicado um tratamento farmacológico de curta duração.

O prazer de não fumar está relacionado com um melhor estado de saúde e qualidade de vida do que o dos fumadores. Traduz-se, entre outros aspetos, numa melhor capacidade respiratória e cardiovascular, melhor hálito e saúde oral, ou maior capacidade de se apreciar o sabor dos alimentos. Este prazer de não fumar está ao alcance de todos os fumadores que desejem verdadeiramente abandonar este hábito letal e descobrir uma nova sensação de bem-estar físico e mental.

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