O tabagismo é a principal
causa de morte prematura evitável nos países desenvolvidos. Em Portugal, morrem
mais de 10.000 pessoas todos os anos por doenças relacionadas com o consumo do
tabaco. As mais frequentes são as doenças cardiovasculares, como o enfarte do
miocárdio e o acidente vascular cerebral, doenças oncológicas, como o cancro do
pulmão e de muitos outros órgãos, e doenças respiratórias, como a bronquite, o
enfisema e a doença pulmonar crónica obstrutiva.
Fumar afeta todos os órgãos e
sistemas do corpo humano, pois o fumo do tabaco contém inúmeras substâncias
prejudiciais como a nicotina, o monóxido de carbono, o alcatrão e mais de 100
outros componentes reconhecidamente cancerígenos como benzeno, nitrosaminas,
formaldeído e cianeto de hidrogénio. A nicotina é uma substância
estimulante do sistema nervoso e responsável pela dependência que o consumo do
tabaco ocasiona. Promove o aumento do ritmo cardíaco, da tensão arterial e a
libertação de substâncias responsáveis pela sensação de prazer que o tabaco
proporciona. O monóxido de carbono é um gás altamente tóxico e poluente, também
expelido pelos tubos de escape dos automóveis. Quando entra na corrente
sanguínea, liga-se à hemoglobina, impedindo o transporte adequado de oxigénio
às células e aumenta a viscosidade do sangue, facilitando a ocorrência de
tromboses.
Quando se fuma, introduz-se
diretamente nos pulmões uma atmosfera rica em partículas tóxicas, mais
concentrada do que qualquer atmosfera poluída, urbana ou mesmo industrial.
O consumo de 15 cigarros é suficiente para causar graves mutações genéticas,
que potenciam o desenvolvimento de diversos tipos de cancro. O órgão mais
atingido é o pulmão, mas o cancro oral, da laringe, esófago, estomago,
pâncreas, bexiga, rim, fígado e colo do útero estão também relacionados com o tabagismo
ativo ou passivo. As crianças que vivem em casa de fumadores têm maior risco de
asma, alergias e infeções respiratórias, por vezes graves.
De todos os fatores de risco
cardiovascular conhecidos, como a hipertensão arterial, a diabetes ou a
obesidade, o tabagismo é o mais importante. Nos fumadores, o risco de ataque
cardíaco e de acidente vascular cerebral é duas vezes superior ao dos não
fumadores, o risco de impotência sexual é três vezes superior e o risco de
morte súbita é cinco vezes mais elevado. Na minha experiência profissional como
cirurgião vascular, quase todos os dias observo os efeitos dramáticos do
tabagismo na circulação dos membros inferiores, levando muitas vezes à gangrena
e amputação. O tabaco acelera ainda o processo de envelhecimento, o que se
traduz no aspeto claramente mais envelhecido dos fumadores. Diversos
estudos têm também revelado que fumar não tem um efeito relaxante e redutor do stress, mas pelo
contrário cria ansiedade e prejudica a saúde mental.
O encanto e
sedução associados ao consumo do tabaco, grandemente explorados pela poderosa
indústria tabaqueira, não são mais do que publicidade enganosa que oculta a
verdadeira face da doença, dependência e vício. Ainda que, muitas vezes, os efeitos nefastos do tabaco
só se manifestem ao final de vários anos, pode-se afirmar, sem exagero, que não
existem fumadores saudáveis.
A boa notícia é que vale a pena deixar de fumar, na medida
em que diminui de imediato o risco de morte prematura, bem como o risco de
desenvolvimento de doenças cardiovasculares, respiratórias e oncológicas, a
médio e longo prazo. Ao fim de um ano de abstinência tabágica, o risco de doença coronária
reduz-se para perto de metade, e ao fim de 15
anos, o risco de doenças cardiovasculares e cancro do pulmão passa a ser
idêntico ao das pessoas que nunca fumaram.
A determinação de deixar de fumar é fundamental para se contrariar
o desejo de fumar e abandonar definitivamente o vício. Existem atualmente
consultas de cessação tabágica, por vezes constituídas por equipas
multidisciplinares, que incluem apoio psicológico e nutricional. Em alguns
casos pode estar indicado um tratamento farmacológico de curta duração.
O prazer de não fumar está
relacionado com um melhor estado de saúde e qualidade de vida do que o dos
fumadores. Traduz-se, entre outros aspetos, numa melhor capacidade respiratória
e cardiovascular, melhor hálito e saúde oral, ou maior capacidade de se
apreciar o sabor dos alimentos. Este prazer de não fumar está ao alcance de
todos os fumadores que desejem verdadeiramente abandonar este hábito letal e
descobrir uma nova sensação de bem-estar físico e mental.
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