30/04/14

O VOLUNTÁRIO DE AUSCHWITZ

Witold Pilecki, capitão do Exército do Estado clandestino polaco, fez algo que mais ninguém teve a coragem de repetir: voluntariar-se para ser preso em Auschwitz, o mais violento e mortífero campo de concentração nazi, e, dessa forma, relatar os horrores ali praticados pelo Terceiro Reich.

A missão, realizada entre 1940 e 1943, tinha dois objetivos: informar os Aliados sobre as práticas nazis nos seus campos de concentração, dos quais se conheciam, então, apenas algumas informações esparsas, mas muito preocupantes; e organizar os prisioneiros em grupos de resistência contra as forças alemãs, na tentativa de controlar o campo. Sobrevivendo a muito custo a quase três anos de fome, doença e brutalidade, Pilecki foi bem-sucedido na sua missão, conseguindo evadir-se do campo de concentração em abril de 1943.

O Voluntário de Auschwitz é o relatório mais extenso do capitão Witold Pilecki, completado em 1945, no exílio. Escondido pela ditadura comunista na Polónia durante mais de 40 anos, este documento único na história e na literatura sobre Auschwitz, a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto é agora publicado pela primeira vez em português.


28/04/14

A CHAVE DO COMBATE AO STRESS

Uma das mais completas definições de stress que conheço é apresentada pelo Prof. Adriano Vaz Serra na obra O distúrbio de stress pós-traumático (2003, p.5): “Quando a circunstância vivida é considerada importante para o indivíduo e este sente que não tem aptidões nem recursos (pessoais ou sociais) para superar o grau de exigência que a circunstância lhe estabelece, então entra em stress. O stress surge quando o ser humano desenvolve a perceção de não ter controlo sobre a ocorrência. A perceção de não ter controlo pode ser real (de facto, o individuo não tem aptidões nem recursos pessoais e sociais que lhe permitam ultrapassar as exigências criadas pela situação) ou distorcida, isto é, o indivíduo tem aptidões e recursos mas sente subjetivamente que não são suficientes ou que não é capaz de os usar adequadamente.”
 
No vídeo seguinte o Dr. Mike Evans sublinha que uma das formas de combater os efeitos negativos do stress é através de uma mudança de atitude no que respeita aos padrões de pensamento e apresenta algumas sugestões para o combater.
 

21/04/14

A ÉTICA EXIGE O TRATAMENTO DA DOR

O tratamento da dor, ou ao menos a tentativa de a minorar, representam, na longa história (e pré-história) da medicina um dos dados adquiridos que ninguém põe em dúvida. Há imagens de Esculápio (ou Asclépio, na versão grega original) segurando na mão esquerda a serpente enrolada no bastão e, na mão direita, algumas cápsulas de dormideira ou Papaver somniferum, cujo sumo concreto, obtido por incisão, é o ópio. Repare-se: o símbolo da própria arte de curar fica assim preterido (na sinistra) em relação ao princípio vegetal capaz de tratar a dor (na dextra). Hipócrates, no século IV antes de Cristo não hesitou em atribuir às mãos dos médicos características divinas, mormente quando da sua ação resultasse o alívio da dor (“É divino sedar a dor”, proclamava). E o nosso Zacuto lusitano (nascido como Francisco Nunes em 1575) deixou inscrita, na listagem dos preceitos médicos, esta notável instrução: Medicus inter omnia symptomata, prius dolorem sedet (Entre todos os sintomas, dê o médico primazia ao alívio da dor).
 
Esta especial atenção à dor parece compreensível: é o sintoma que mais incomoda, aterroriza ou provoca sofrimento ao doente e, por extensão, aos que o rodeiam. Por natureza, é entendida como sensação desagradável, podendo ter uma graduação que vai do ligeiro incómodo ao insuportável sofrimento. Temos pois doentes que desejam obter alívio e médicos que são competentes para conhecer os meios propiciadores desse alívio e o modo como podem ser usados. Os médicos da antiguidade só podiam recorrer ao ópio e às bebidas alcoólicas; só a partir de 1820 é que fica disponível a morfina que, para maior eficácia, passa a ser administrada por via injectável, graças à invenção da seringa hipodérmica. Mas só no adiantado século XIX é que surgem os anestésicos e, graças ao seu uso, a cirurgia torna-se uma terapia e deixa de ser uma indizível tortura à qual só se recorria em desespero de causa.
 
Depois vieram analgésicos, ativos por via oral, opioides, analgésicos e antipiréticos, com ou sem componente anti-inflamatória, anestésicos locais, técnicas psicológicas, aplicações eléctricas, etc. Ou seja, temos hoje armas potentes, diversificadas, que permitem um tratamento diferenciado dos mais diversos tipos de dor (de que temos também cada vez melhor conhecimento científico, quanto aos seus mecanismos e mediadores). Mas é surpreendente verificar que ao sintoma dor não parece dar-se hoje a importância que os antigos lhe atribuíam. Ou seja, ao maior conhecimento da natureza da dor e dos mecanismos que lhe subjazem não tem correspondido uma uniforme e acentuada melhoria do seu tratamento, apesar dos meios eficazes de que dispomos para a combater.

De facto, se cerca de um terço da população portuguesa sofre de dor crónica, tal só se pode dever a um tratamento ineficaz, por esporádico, insuficiente (na posologia e na duração) e muitas vezes menos correto (por não se recorrer aos medicamentos e esquemas terapêuticos mais indicados e apoiados em sólidas provas clínicas). Não é crível que estas circunstâncias adversas se compaginem com ignorância ou dolo médico, antes se deverão a uma subavaliação da dor (descartado por pacientes e, sobretudo, por médicos quando não aguda e intensa) e ao preconceito da perigosidade dos analgésicos, mormente dos anti-inflamatórios e dos opioides.

Ora, a deontologia, apoiada numa ética universalmente aceite (mas nem sempre presente na decisão médica) e no bom senso, apontam a dor como sintoma a valorizar, certamente, mas como situação mórbida a exigir tratamento. Os princípios éticos da beneficência, da solidariedade e da subsidiariedade não levam a outra conclusão senão a propugnada há tantos séculos por Hipócrates ou por Zacuto: é fortíssima obrigação médica a de tratar, sempre, a dor; é perverso pactuar com a dor, deixando o doente à sua mercê, por não ser alvo de tratamento ou por o ser de forma incompleta ou inadequada. Não recorrer a um meio apropriado e disponível, em face de uma situação que constitua uma indicação para o seu uso, constitui erro grave ou indício de negligência médica.
 
Prius dolorem sedet, demos a devida prioridade ao tratamento da dor, para podermos minorar ou suprimir o sofrimento dos doentes e assim nos aproximarmos do ideal multisecular do médico sábio e compassivo.
 
Prof. Doutor Walter Osswald
Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa

17/04/14

PÁSCOA FELIZ!



From heaven you came, helpless babe,
Entered our world, your glory veiled;
Not to be served but to serve,
And give your life that we might live.
This is our God, the Servant King,
He calls us now to follow him,
To bring our lives as a daily offering
Of worship to the Servant King.


There in the garden of tears,
My heavy load he chose to bear;
His heart with sorrow was torn,
'Yet not my will but yours,' he said.
This is our God, the Servant King,
He calls us now to follow him,
To bring our lives as a daily offering
Of worship to the Servant King.


Come, see his hands and his feet,
The scars that speak of sacrifice,
Hands that flung stars into space
To cruel nails surrendered.
This is our God, the Servant King,
He calls us now to follow him,
To bring our lives as a daily offering
Of worship to the Servant King.


So let us learn how to serve,
And in our lives enthrone him;
Each other's needs to prefer,
For it is Christ we're serving.
This is our God, the Servant King,
He calls us now to follow him,
To bring our lives as a daily offering
Of worship to the Servant King.

15/04/14

O CÓDIGO DE NUREMBERGA


O Código de Nuremberga resultou da sentença promulgada em 1947 pelo Tribunal Militar de Nuremberga, na sequência dos atos perversos e criminosos praticados pelos médicos nazis em experiências com seres humanos, e que levou à condenação de vários médicos alemães. Este documento constitui um ponto de partida e uma referência para as declarações e códigos internacionais de ética médica que se lhe seguiram, com destaque para a Declaração de Helsínquia e a Convenção dos Direitos do Homem e da Biomedicina.

No Código de Nuremberga é enfatizada a obrigatoriedade do consentimento consciente, livre e informado do sujeito da experimentação, bem como a possibilidade da investigação ser interrompida, em qualquer fase, por sua livre iniciativa. Inclui o princípio da beneficência, na medida em que a experimentação deve ter como finalidade o benefício do indivíduo ou da sociedade, e os riscos sofridos pelo sujeito não podem exceder a importância humanitária da experiência. Inclui ainda o princípio do carácter científico, pois a experiência deve ser realizada por cientistas competentes, segundo as regras do método científico, bem como o princípio da reversibilidade dos danos, ou seja, o indivíduo não pode correr um risco de morte ou de invalidez em nenhum momento da experimentação. A experimentação em seres humanos deve, pois, reger-se por princípios que salvaguardem a integridade física e mental do sujeito alvo da experiência, sendo imprescindível o seu consentimento livre e informado.
 
 A Declaração de Helsínquia, aprovada em 1964 pela Associação Médica Mundial e alvo de sucessivas revisões (a atualização mais recente ocorreu em Fortaleza em 2013), baseia-se nos valores e princípios defendidos pelo Código de Nuremberga e pela Declaração de Genebra, sendo um documento basilar na investigação científica em seres humanos. No entanto, a sua aplicação e cumprimento dependem, em grande parte, da consciência e probidade do investigador. O Prof. Daniel Serrão, num artigo que escreveu para assinalar o 50.º aniversário do Holocausto, recorda a opinião do cirurgião Rudolf Pichlmayr acerca da legislação alemã de 1931, pelo menos tão rigorosa como o Código de Nuremberga, mas que não evitou a participação dos médicos no Holocausto: “os códigos são fracos, face a um regime brutal que volte a aparecer, repetindo o nazismo, porque ele deitará os códigos pela borda fora. O grande valor a fomentar e a vigiar é o da integridade dos médicos como pessoas, porque os valores são mais importantes que os códigos".

09/04/14

PARAGEM CARDÍACA: O QUE FAZER?




Uma paragem cardíaca ou cardiorrespiratória é a interrupção súbita e inesperada da respiração e dos batimentos cardíacos. Não inclui a morte natural por envelhecimento nem a morte por uma doença crónica e irreversível. Em caso de paragem cardiorrespiratória, devemos tentar evitar a morte através de medidas de reanimação.

Em alguns países é habitual ver pessoas sem formação médica tentar reanimar pessoas que tenham sofrido paragem. Você também pode fazê-lo.

O que deve fazer?

Siga os seguintes passos se alguém a seu redor perder o conhecimento:

1.  Grite e sacuda-o para comprovar se responde. Se não responder, peça ajuda e inicie a reanimação.

2.  Coloque a vítima no chão, incline a cabeça para trás e comprove se respira (se expira ar ou se notam movimentos respiratórios no peito ou na barriga).

3.  Se não respira, abra-lhe a boca e com o dedo tire tudo aquilo que o pode impedir de respirar: comida, dentadura se estiver deslocada, etc. Não retire a dentadura se esta estiver bem colocada.

4.  Pratique a respiração boca-a-boca. Com uma mão mantenha a boca aberta afastando o queixo. Com a outra tape o nariz. Depois inspire, sele a sua boca à da vítima e expire ar como se estivesse a encher um balão (chama-se ventilar). Espere 3 ou 4 segundos antes da segunda ventilação.

5.  Após as duas primeiras ventilações, observe se a vítima respira, tosse, engole ou se mexe. Se não acontecer nada, deve começar a massagem cardíaca.

6.  Ajoelhe-se junto à vítima, estenda os braços e apoie as suas mãos cruzadas sobre o peito da vítima entre os 2 mamilos. Aproveitando o seu próprio peso, pressione com as mãos o peito do doente e veja como este se afunda um pouco (4-5 cm). Para dar massagem cardíaca adequada é útil contar da seguinte forma: «e um, e dois, e três, etc.», a uma frequência de 100 por minuto.

7.  Se se tratar de um bebé, a massagem faz-se com a ponta de dois dedos; nas crianças com menos de 8 anos, com uma mão apenas.

8.  Por cada 30 compressões deve dar 2 ventilações, e assim sucessivamente até que a vítima respire ou se mexa, ou até que passem 20-30 minutos de reanimação sem nenhum resultado ou você esteja exausto e lhe seja impossível continuar reanimando.

Se em algum momento a pessoa respira, se mexe ou tosse, deve deitá-la sobre o seu lado direito.

Se são duas pessoas a reanimar, devem colocar-se cada uma de seu lado da vítima. Uma se encarregará da ventilação e a outra da massagem cardíaca. Nunca se fazem as duas coisas ao mesmo tempo e devem seguir a cadência de 30 compressões por cada 2 ventilações. Devem trocar de função regularmente, para não ficarem exaustas.

Fonte: Guia Prático de Saúde, p. 172.

02/04/14

PEDALAR PELA SAÚDE

A Holanda apresenta uma das mais elevadas taxas mundiais de utilização da bicicleta como meio de transporte, não obstante o seu clima mais agreste que outros locais do globo. Essa atividade física diária de uma percentagem significativa da população (cerca de 30%) poderá ser um dos fatores protetores de doenças cardiovasculares, oncológicas e obesidade, comparativamente a outros países, que apresentam em média taxas mais altas destas doenças.

 
Em pessoas com doença venosa dos membros inferiores, nomeadamente com insuficiência das veias pequenas safenas (antigamente chamadas veias safenas externas) e em que a cirurgia não seja possível (p. ex. por insuficiência concomitante dos eixos venosos profundos) é muito importante a utilização de meias elásticas durante a prática de ciclismo.