28/02/13

ALIMENTAÇÃO VEGETARIANA


Sou adepto da alimentação vegetariana, que procuro consumir 1-2 vezes por semana. Contudo, não sou apologista de uma dieta exclusivamente vegetariana, embora reconheça que é mais saudável que o consumo frequente de carne de animais. No artigo de revisão “Dieta vegetariana – factos e contradições” , publicado na Revista da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna [17 (3): 173-178, 2010], o autor conclui:

«Parece demonstrado o possível benefício da dieta vegetariana em determinadas patologias, nomeadamente hipertensão arterial, hipercolesterolémia, diabetes mellitus tipo 2 e obesidade, todos fatores de risco de doença cardiovascular; este facto, associado à tendência demonstrada pelos vegetarianos para menor incidência de tabagismo, contribui para a significativa diminuição da morbilidade e mortalidade cardiovascular nesta população. A incidência de determinados tipos de neoplasia (particularmente neoplasias associadas a elevada ingestão calórica e de gordura saturada), está também diminuída na população vegetariana. […] Pensamos que a dieta vegetariana poderá significar mais uma ideologia de quem a segue, do que propriamente o estabelecimento de uma dieta com efeito terapêutico, ou simplesmente “saudável” baseada em factos científicos. Com efeito, os benefícios desta dieta podem ser conseguidos por uma dieta normal desde que retirados fatores reconhecidamente agressores, como grande quantidade calórica ou de gordura saturada. Enquanto a dieta ovolactovegetariana (ou lactovegetariana) pode ser adotada sem risco significativo, a dieta vegetariana pura parece muito restritiva, com risco real de deficiência nutricional específica e, dificilmente, o seu eventual benefício ultrapassará o risco que representa. É essencial, muito particularmente neste último tipo de dieta, uma monitorização rigorosa do estado nutricional e a correção de qualquer deficiência nutricional por parte do profissional de saúde».

25/02/13

4 COMPONENTS FOR THE GOOD OF THE PATIENT

Escrevi o seguinte texto para uma publicação da PRIME – Partnerships in International Medical Education. Relata os quatro aspetos que se podem identificar na procura do bem do paciente, de acordo com o modelo de beneficência fiduciária proposto por Edmund Pellegrino:
  
Dr. Edmund D. Pellegrino, one of the founders of Bioethics, identifies four components that contribute for the good of the patient, the ultimate goal of medicine and healthcare. It helps to prevent practicing organ centered medicine, which is fragmented, reductionist, and unsatisfactory, and to acknowledge the whole person approach, a core value for PRIME.
 The first component is the good of the patient from a medical standpoint – the biomedical or techno-medical good. It is directly related to the knowledge and competence of the physician and depends on the resources provided by medical science and technology. It aims to restore any physiological or psychological dysfunction by applying the appropriate state-of-the-art treatment, such as anticoagulation for deep vein thrombosis or surgery for acute appendicitis. It is the instrumental good that patients usually desire when they seek medical advice in order to cure or control a disease, relieve suffering and preserve life. Unfortunately, many doctors have a restricted understanding of the patient’s good which acknowledges only this component in the clinical encounter. This could lead to a paternalistic and arrogant attitude of the physician towards the patient whenever there is any physiological benefit, scientifically proven, of a certain medical procedure (e.g. the aggressive treatment of diseases potentially reversible, like a pneumococcal pneumonia, in terminally ill patients).
 On a second level, the biomedical good is confronted with the patient’s perception of the good i.e. the patient’s opinion about what he thinks is the best for himself. Faced with the same disease and the same therapeutic proposal, different patients may make different choices, and therefore their preferences should be taken into account. According to Pellegrino, ‘those choices and values ​​are unique for each patient and cannot be defined by the physician, family or anyone else’. Not always what is proposed by the doctors should be done, if it collides with the risk that the patient is willing to take to benefit from a treatment proposal. Therefore an effective communication between the doctor and the patient is essential, which may include listening with empathy, letting the patient express his concerns and transmitting the diagnosis and any therapeutic proposal in an understandable way. One of the reasons that patients usually give for suing doctors is when physicians systematically ignore the patient’s concerns and opinions.
Another component is the good for humans i.e. the good for the patient as a human being or person. The respect for the dignity of the person regardless of age, gender, race, religion or social status, are included in this dimension. This would prevent health professionals to initiate some treatments whose associated risks are either excessive or disproportionate, even with the patient’s consent. If this component of the good for the patient as a human being was considered, abuses in human experimentation such as those that took place in Tuskegee, Alabama, or in Willowbrook, New York, in the 20th century probably would not have occurred.
The highest level of this dialectical approach of seeking the good of the patient is the spiritual good or ultimate good. It is the recognition of the spiritual dimension of the human being i.e. what gives meaning to life beyond material well-being. A common example of this component is the refusal of blood transfusions by Jehovah’s Witnesses, but other religious or ideological choices of the patient should be respected as well. Sometimes in the hierarchy of values of the patient health may not be considered the greatest good.
Edmund Pellegrino clarifies that it is not always possible to integrate these four components for the good of the patient in every clinical decision or even establish a hierarchy among them, particularly in emergency situations or when dealing with minors or patients with psychiatric or cognitive disorders. In these cases at least the ‘good for humans’ component in addition to the biomedical good should be recognized. On the other hand, Pellegrino underlines that the physician has no obligation to obey all the choices and whims of the patient, especially those that conflict with their own values ​​and conscience. But even when there’s full agreement between doctor and patient about some decision does not mean that it is an ethically right one (e. g. a patient’s request for euthanasia).
This four-level approach of the patient’s good recognizes the whole person – physical mental, and spiritual. It values ​​the autonomy and dignity of the patient as a person, and preserves his vulnerability in the face of scientific and technological advances in medicine. This model is also patient-centered, gives the doctor a key and proactive role in the search of the patient’s good, and contributes to a more humane medicine.
 
References
Pellegrino, E. D. Moral Choice, The Good of the Patient, and the Patient’s Good. In: Moskop, J. C.; Kopelman, L. (Eds). Ethics and Critical Care Medicine. Dordrecht, Holland: Reidel, 1985.
Pellegrino, E. D. The internal morality of clinical medicine: A paradigm for the ethics of the helping and healing professions. Journal of Medicine and Philosophy, 26, 559-579, 2001.

18/02/13

VACINAÇÃO E SAÚDE

Encontrei há dias um sítio com informação bem documentada e cientificamente credível acerca de algumas terapias alternativas. Chama-se Concept – Comunidade Céptica Portuguesa. Pode ler um artigo sobre “vacinas” homeopáticas, publicado recentemente neste sítio, aqui.

O Prof. António Vaz Carneiro, no vídeo seguinte, alerta para a importância de se vacinarem as crianças de acordo com o Plano Nacional de Vacinação e explica a relação infundada entre o autismo e a vacinação.


14/02/13

CÓLICA RENAL


A cólica renal é uma dor intermitente que se caracteriza por um aumento progressivo de intensidade seguida de alívio para depois se agravar novamente. Estas cólicas poderão variar entre um ligeiro desconforto no flanco a uma dor violenta com irradiação do flanco até à região inguinal (virilha), necessitando por vezes de internamento hospitalar afim de se proceder a uma terapêutica eficaz para controlo da dor. Durante as crises não existe nenhuma posição que diminua a intensidade da dor.
Uma das causas mais frequentes de cólica renal são cálculos (resultantes da cristalização de metabolitos excretados pelos rins), que levam a uma obstrução do bacinete e ureteres, provocando impedimento da eliminação da urina. A dor surge do lado da obstrução mas o foco de maior intensidade pode depender da sua localização. A cólica frequentemente inicia-se no flanco mas também pode ser sentida no abdómen, região inguinal ou nos genitais. Pode associar-se a náuseas e vómitos e aumento da frequência das micções ou imperiosidade de urinar. Muitas vezes existe hematúria (sangue na urina).
O diagnóstico é feito a partir da historia clínica e observação do paciente, mas apenas com exames de imagem poderemos confirmar o diagnóstico e determinar a localização da obstrução. Um Rx simples e uma ecografia do aparelho urinário são exames de primeira linha podendo no entanto ser necessário uma TAC para melhor esclarecimento.

TRATAMENTO
 
Dado a intensidade da dor, os pacientes geralmente recorrem a Serviços de Urgência, onde após o diagnóstico será administrada terapêutica adequada de analgesia e profilaxia das complicações.
Muitos cálculos são suficientemente pequenos para serem eliminados naturalmente ao fim de algum tempo, mas outros poderão, pela sua dimensão, pela sua localização ou por alterações anatómicas não ser eliminados em tempo útil. Nessas circunstâncias poderá ser necessária uma intervenção cirúrgica, que poderá ser não invasiva (Litotricia Extracorporal por Onda de Choque), mini-invasiva (endoscópica) ou cruenta (cirurgia aberta). Nos cálculos de ácido úrico poder-se-á tentar a sua dissolução com alcalinisantes da urina. Todos os cálculos extraídos ou eliminados deverão ser analisados, de modo a se instituir uma dieta e terapêutica profilática adequada.

Fonte: Associação Portuguesa de Urologia

11/02/13

A IMPORTÂNCIA DO EXAME FÍSICO NA MEDICINA

O exame físico é um aspeto fundamental de uma consulta médica, seguindo-se habitualmente à história clínica. Poderá incluir a inspeção, a palpação (exploração do corpo do paciente através da palma da mão ou dedos), percussão e auscultação. Quando realizado com perícia e sensibilidade, muito contribui para se chegar a um diagnóstico correto e atempado. Concordo com as palavras do Prof. Roberto d’Ávila, presidente do Conselho Federal de Medicina do Brasil, «ao negligenciar as artes de ouvir e examinar os pacientes e a interação interpessoal da conduta hipocrática, alguns facultativos deixaram de ser médicos, no sentido original da expressão, e transformaram-se em técnicos em Medicina» (Bioética vol 10 n.º1, 2002).
 
No seguinte vídeo, o Prof. Abraham Verghese, especialista em Medicina Interna e Professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford, realça a importância do exame físico numa época em que os meios auxiliares de diagnóstico, sobretudo imagiológicos, muitas vezes são solicitados de forma precipitada e sem uma observação cuidada e atenta dos pacientes.
 

06/02/13

EXERCÍCIO FÍSICO E LONGEVIDADE


Um estudo realizado pelo Departamento de Epidemiologia Clínica do Instituto IDI-IRCCS, de Roma, publicado em Dezembro de 2012, revelou que andar a pé ao ar livre, durante pelo menos 15 minutos, quatro vezes por semana, reduz em 40 % o risco de morte em pessoas com idade avançada (a idade média da população estudada era de 80 anos). Os mecanismos envolvidos nesta diminuição do risco de morte prematura incluem uma melhoria do sistema imunológico, tonificação muscular, melhoria da saúde mental e menor tendência para a depressão. Os resultados deste estudo recente corroboram outras investigações que comprovam as vantagens do exercício físico regular em todas as idades.