01/10/12

QUE MÉDICOS QUEREMOS?

No sábado passado, realizou-se uma sessão de lançamento do meu livro “Que Médicos Queremos? Uma abordagem a partir de Edmund D. Pellegrino” na Universidade do Minho, integrada no 17.º Congresso Nacional de Medicina Geral e Familiar. A obra foi apresentada pelos Professores Daniel Serrão, Silveira de Brito e Ana Paula Coutinho, tendo a sessão sido moderada pelo Dr. João Sequeira Carlos, Presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar.
 

 
Partilho hoje alguns extratos do prefácio, da autoria do Prof. Daniel Serrão:

“Vejo este livro de Jorge Cruz  como um esforço do seu Autor para ajudar os Cidadãos  a pensarem na resposta à questão sobre qual o tipo de médico que querem ter à sua volta quando a doença lhes bater à porta.
Jorge Cruz não se apresenta sozinho a realizar esta tarefa de ajudar os Cidadãos a construírem, cada um na sua cultura e na sua inteligência, o tipo de médicos que realmente querem que exista e ao qual possam, um dia, recorrer. Escolheu um bom companheiro de jornada na pessoa do grande internista americano, Edmund Daniel Pellegrino, cuja obra científica, profissional e humanista estudou e discutiu com invulgar sagacidade noutra obra.
Jorge Cruz reconhece, a abrir a sua exposição, que sempre houve uma reflexão filosófica sobre a natureza da medicina como relação privilegiada entre duas pessoas. Sendo um diálogo interpessoal, a prática de acolher e ajudar o outro tem de ocorrer, sempre, em contexto ético. Não é um mero exercício profissional apenas técnico; é técnico, mas é, necessariamente, ético. E esta é, para Jorge Cruz, a marca indelével da medicina, que, por isso, coloca ao médico responsabilidades particulares que ele terá de saber assumir.
E assumir estas responsabilidades é, para Jorge Cruz, comportar-se como um ser humano virtuoso.
Reconhece, contudo, que não é fácil elencar as virtudes que o médico deve possuir como estruturantes da sua atividade profissional. Até porque há um hiato entre virtudes pessoais e comportamento virtuoso.
Apoiado em Pellegrino, desenvolve o conteúdo das oito virtudes mais substantivas do médico como profissional. O capítulo V, onde é apresentado este tema é, a meu ver, uma espécie de código ético ao qual os leitores médicos terão o maior benefício em recorrer quando tenham de decidir em situações mais delicadas.
E onde os Cidadãos encontrarão o fundamento para responderem à questão inicial: que médicos querem eles, cidadãos, para serem seus cuidadores quando se sentirem doentes?
A resposta está neste livro: querem os que forem portadores das oito virtudes cardeais e as usem quando decidem sobre a pessoa doente que se entrega aos seus cuidados.
 
Jorge Cruz trata, ainda, de um aspeto, complementar mas importante, como é o do ensino das virtudes nas Escolas de Medicina. Salienta as dificuldades que este ensino defronta porque, a seu ver, e bem, o melhor ensino das virtudes é o da experiência de observar comportamentos virtuosos por parte dos profissionais em ação. Mas não é pessimista quanto à possibilidade de formalizar este ensino no quadro de um ensino das humanidades.
O tema das humanidades, que comenta na parte final deste seu livro, é pretexto para forragear em Pellegrino e colher ensinamentos que transmite com assinalável clareza. Sem esquecer que, no novo ensino médico praticado na Universidade do Minho, as humanidades têm já expressão curricular, por inspiração do saudoso Professor Joaquim Pinto Machado.
Em síntese, digo que este livro de Jorge Cruz aborda um tema da maior atualidade, como é o da formação do médico para a modernidade, e o seu conteúdo não interessa apenas aos profissionais de saúde mas a quantos, e somos todos, os que  virão um dia  a recorrer aos médicos como cuidadores da doença e promotores da saúde”.

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