No meu último livro (Que Médicos Queremos?) incluo duas citações do teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), um dos meus autores preferidos. Era um homem de fé e de caráter, que os algozes nazis condenaram à morte. Escrevendo em 1940, resume com extraordinária
lucidez e premonição os perigos de uma ética deontológica separada do caráter
do agente moral, conforme se verificou na Alemanha do III Reich:
O caminho do dever
parece ser o mais seguro para se eximir à mole desorientadora das decisões
possíveis. Aqui, o que foi ordenado apreende-se como o mais certo; a
responsabilidade pela ordem recai sobre aquele que a profere, não sobre aquele
que a executa. Mas quem se restringe à medida do dever nunca chega à ousadia da
ação livre, que acontece por responsabilidade própria, a única ação que
consegue atingir o mal no centro e vencê-lo. O homem do dever acabará por
cumprir ainda o seu dever, mesmo diante do diabo. In BONHOEFFER, D. (2007). Ética. Lisboa: Assírio e Alvim, p. 49.
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