10/05/11

PARA REFLEXÃO

«Quando, terminado o antigo 5.º ano, fui chamado a optar por que porta haveria de entrar no ensino superior (e, supostamente, na “vida”), tinha 15 anos e a cabeça e o coração cheios de livros onde, na última página, ou no último quadradinho, o Bem triunfava sempre, gloriosamente, sabre o Mal. Nos meus desmesurados sonhos adolescentes, a Lei era então uma espécie de gládio que os meus heróis (Perry Mason, Rip Kirby, Lone Ranger ... ) brandiam sobre os maus em defesa dos justos e dos desamparados. Por isso, contra tudo e contra todos, meti-me alvoroçadamente (“cantando e rindo” e “torres e torres erguendo”, dizia o hino) a caminho da Faculdade de Direito.
  
Na Faculdade descobri, porém, algo terrível: que Direito e Justiça eram completos desconhecidos um do outro, quando não inimigos irreconciliáveis. E que juízes, e advogados, e detectives, não eram, afinal, almas puras e justiceiros implacáveis como nos livros mas tão-só meros funcionários, frequentemente medíocres, frequentemente torpes. E, pior, que nos tribunais, como na “vida”, a lei está quase sempre do lado dos poderosos e dos maus».

Manuel António Pina, in Revista Visão, 12.12.2002.

Sem comentários: