As terapias alternativas têm vindo a aumentar de popularidade, nos últimos anos, à medida que a medicina científica ocidental se vai tornando mais tecnicista e impessoal. São também chamadas terapias holísticas, para realçar a sua alegada preocupação pelo ser humano como um todo (corpo, alma e espírito). Isto inclui muitas vezes um componente espiritual, geralmente baseado na filosofia religiosa de cada terapia particular. Ao contrário da medicina convencional, que se fundamenta em critérios lógicos e racionais, descobertos através de uma observação rigorosa e aplicação do método científico, os princípios em que se baseiam as terapias alternativas contrariam o senso comum, as leis da natureza e os conceitos subjacentes à ciência moderna.
Razões do Fenómeno
No nosso entender, são várias as razões que explicam a popularidade destas terapias. Por um lado, a reconhecida crise do Serviço Nacional de Saúde, caracterizada pela falta de recursos humanos e materiais para satisfazer as necessidades dos doentes. Esta situação conduz, entre outras coisas, ao aumento insustentável das listas de espera dos que pretendem uma consulta de especialidade, exames subsidiários ou que aguardam determinadas intervenções cirúrgicas nos Hospitais do Estado. Existe também uma gritante falta de privacidade na maior parte dos Serviços de Urgência e enfermarias dos Hospitais. Há muitas vezes falta de diálogo, quer com os pacientes quer com os seus familiares, em certa medida devido ao elevado número de doentes, não sendo explicada a situação clínica de forma adequada e compreensível. Na relação médico-doente, o contacto físico (uma palmadinha no ombro, um abraço amigo) é também pouco frequente, em parte devido ao desejo do médico manter alguma distância emocional com o paciente.
Outros fatores incluem a existência de doenças crónicas ou incuráveis, para as quais a medicina convencional ainda não encontrou solução definitiva - não obstante os enormes progressos científicos das últimas décadas - a existência de efeitos laterais dos medicamentos, a iatrogenia de certos atos médicos, a maior divulgação nos media de casos de negligência médica, assim como a atração da população pelas filosofias orientais e pelo “natural”.
Na opinião do Prof. H. Gounelle de Pontanel, membro da Academia de Medicina Francesa, “a voga atual destas terapêuticas parece resultar de um certo mal-estar induzido na população pela rapidez dos progressos científicos. Esta situação abre caminho à charlatanice, a maior parte das vezes praticada por não médicos, hábeis na exploração da crendice pública e/ou do desespero resultante da patologia clínica de base”.
Algumas Virtudes
Apesar da validade científica dúbia das “medicinas" alternativas, os naturologistas têm a virtude de dedicarem, em média, mais tempo aos seus pacientes que a maior parte dos médicos. Para muitos pacientes, a simpatia e disponibilidade do profissional de saúde são mais importantes que a sua preparação científica. Os naturologistas dão também grande importância ao contacto físico, de reconhecido valor terapêutico, o que pode levar as pessoas a sentirem-se melhor. Por outro lado, as explicações relativamente bizarras que transmitem aos pacientes e a confiança que transmitem na eficácia de determinado tratamento, a par de esquemas posológicos invulgares, ajudam a reforçar a crença nos pacientes do sucesso da terapêutica. Trata-se do conhecido efeito placebo.
Não nos podemos também esquecer que muitas maleitas de pouca importância, e por vezes algumas de maior gravidade, curam-se por si com o decorrer do tempo, sem qualquer intervenção médica.
Perigos Potenciais
Contudo, as terapias alternativas, embora muitas vezes sejam simplesmente inúteis e desnecessárias, podem ter consequências nefastas e mesmo fatais. Por um lado, podem mascarar o diagnóstico de determinada doença, atrasando ou impedindo o seu tratamento convencional, cientificamente comprovado. Podem também ter efeitos tóxicos e, muitas vezes, são perversamente dispendiosas. As terapias relacionadas com a filosofia “New Age” podem por vezes envolver práticas mágicas ou ocultas. Concordamos, assim, com a opinião do Professor J. Martins e Silva, antigo Diretor da Faculdade de Medicina de Lisboa, que refere que “as medicinas alternativas, no seu conjunto, constituem um risco potencial para a saúde das populações”.
Conclusão
A Ordem dos Médicos de Portugal e todas as organizações médicas representadas no Comité Permanente dos Médicos Europeus “opõem-se em absoluto ao reconhecimento de métodos de diagnóstico ou de terapêutica de doentes e doenças, que não possuam a necessária validação científica”.
O crescimento explosivo das terapias alternativas desafia os médicos a exercerem a sua profissão com maior integridade e dedicação, na linha da tradição hipocrática, reconhecendo as suas limitações, mas procurando a solução mais adequada a todos os níveis para cada paciente. Só assim poderão contrariar as práticas primitivas, incongruentes e fraudulentas, da maior parte das terapias alternativas.